Por Rabino Ben A.
“É uma terra que consome aqueles que a colonizam” – Bamidbar 13:32.
Moshê enviou espiões para percorrerem a Terra de Israel e relatarem qual a melhor estratégia para conquistar a Terra. Em vez de cumprir sua missão, eles retornam com um relatório frio e insistem para que a nação permaneça no deserto.
Há duas questões: a) Por que os espiões desprezaram o prospecto de entrar na Terra que D'us lhes tinha prometido? b) Não haviam sido escolhidos a dedo por Moshê por causa de seu alto nível espiritual – “todos eles homens de distinção” (Bamidbar 13:3). Como então puderam eles falhar tanto no cumprimento de sua incumbência?
Num nível simples, podemos responder que os espiões tinham medo da batalha. Porém isso apenas responde nossa primeira questão e não a segunda. D'us já tinha prometido a eles que conquistariam facilmente seus inimigos, fossem homens espirituais, certamente teriam fé na promessa Divina de conceder-lhes a vitória.
Um explicação mais profunda é dada, com resposta a ambas as perguntas. Os batedores não tinham medo de não conseguir conquistar a terra. Tinham medo de como seriam suas vidas depois que o fizessem. Sendo pessoas espirituais, eles tinham um profundo temor de se envolverem nos assuntos mundanos que surgiriam no decorrer da conquista da Terra – agricultura, construção da cidade, comércio, governo etc. Eles estavam felizes por serem nômades, pois este estilo de vida os deixava livres para habitarem aquilo que os cabalistas chamam de “plano de pensamento e fala”, em vez de “plano de ação”.
O que estes espiritualistas equivocados esqueceram, no entanto, é que o propósito de D'us para eles não estava na realidade modificada do deserto, mas em enfrentarem a sagrada tarefa de colonizar a Terra e lidar com o mundo.
Parece que nós temos muita coisa em comum com estes homens. Eles dizem que somos mais sensíveis e idealistas que a maioria das pessoas e, por este motivo, sofreram muito para enfrentar a realidade do mundo. Se isto é verdade ou não, seria difícil dizer. O que podemos afirmar com alguma dose de certeza, porém, é que nenhum grupo jamais demonstrou tão claramente uma obsessão por esconder-se da realidade. Nenhum grupo teve mais temor enfrentando os rigores da existência mundana e “colonizar a Terra”. Sentimo-nos mais em paz com “os planos de pensamento e fala” que com aquele da ação. Na verdade, filosofar e debater eram mais prontamente agradáveis a nós que cuidar dos assuntos do dia-a-dia. Queríamos viver em nossas próprias cabeças, não no mundo real.
Porém, como eles, estávamos tragicamente errados. D'us deseja ser encontrado na realidade. Se somos ou não aptos para essa tarefa é irrelevante. Não é apenas no nosso poder que confiamos, mas no Dele. Aquilo que pensávamos ser meramente uma admissão de nossa própria incapacidade de lidar com a existência inalterada, mais tarde vimos que era na verdade uma acusação descarada contra D'us – que Ele poderia não nos ajudar a lidar com a realidade. Assim dissemos a D'us em muitas maneiras que não confiamos que Ele nos ajude a cumprir nossa missão divinamente concedida que nos esperava na assustadora Terra Prometida da sombria realidade.
A recuperação nos ajudou a corrigir este grave erro em nosso raciocínio. Não tememos o mundo hoje como uma vez o fizemos. Estamos prontos a entrar e colonizar a Terra, a “levar a vida nos termos da vida” e – com a ajuda e misericórdia abundantes de D'us – enfrentar de cabeça erguida o que quer que seja que nos aguarda ali.
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