“Você ouviu o que fulano fez? Eu te digo, é um escândalo!”
Devo confessar que é extremamente perturbador quando pessoas, líderes comunitários que conheço e respeito, cometem graves erros de julgamento no seu comportamento pessoal. E isso machuca. Profundamente.
Portanto, fiquei um tanto mais calmo quando li esta semana que 10 dos 12 espiões escolhidos por Moshe para uma missão de reconhecimento da Terra Prometida retornaram com relatórios nada favoráveis e desencorajaram ativamente a nação de seguir o plano Divino de fazer Canaã a Terra de Israel . As suas ações foram diretamente responsáveis por um atraso desastroso com 40 anos de peregrinação no deserto antes que o Povo Judeu finalmente entrasse na Terra Prometida, após aquela geração ter morrido completamente. 1
Como pode ser, admiram-se muitos dos comentaristas bíblicos, que um grupo de homens justos, líderes das suas respectivas tribos, escolhidos a dedo pelo próprio Moshe, tenha se desviado tanto? E embora haja uma grande variedade de respostas – práticas, filosóficas e até místicas – no final das contas, não há como escapar da verdade simples e básica de que absolutamente ninguém está imune ao erro. Nenhum indivíduo, por mais justo que seja, está além da tentação. Todos estamos sujeitos a falhas na tomada de decisões, sejam essas escolhas morais, financeiras ou ideológicas. É simplesmente parte do ser humano, uma condição frágil permeada por dúvidas, dilemas, subjetividade, compulsões e anseios. Lembro-me do sujeito que se vangloriava de ter vencido todos os seus vícios, exceto um. "Qual deles?" ele foi questionado. "Tentação."
Se um minyan de homens, escolhido pessoalmente por Moshe, pudesse ter chegado ao fundo do poço como eles chegaram, por que deveríamos ficar surpresos quando acontece o mesmo com outros? E somos lembrados de outros homens profundamente justos que cometeram graves erros pessoais de julgamento.
“Não acredite em si mesmo até o dia da sua morte”, diz o Talmud, “pois Yochanan, o Cohen Gadol que oficiou como Sumo Sacerdote por 80 anos e no final, ele se tornou um herege ”. 2 Quando se pensa no Sumo Sacerdote entrando no Santo dos Santos a cada Yom Kipur, é completamente inimaginável como algo assim fosse possível de acontecer.
E depois há a história chocante de Rav Amram, o Piedoso e sábio muito respeitado por todos.
Um grupo de mulheres judias sequestradas e depois libertadas do cativeiro foi levado para a cidade de Naharda'á, na Babilônia. Para mantê-las seguras, elas foram levados para o sótão do Rav Amram, e a escada foi retirada para que nenhum homem pudesse subir para incomodá-las.
Uma das mulheres era excepcionalmente bela. Quando Rav Amram a notou, ele pegou a escada - que era tão pesada que normalmente seriam necessários 10 homens para movê-la - e a carregou sozinho para poder subir. Somente quando ele estava na metade da escada, ele caiu em si, ainda com o desejo ardente dentro dele, e voltou a descer. 3
E o Talmud continua contando histórias de alguns dos sábios mais famosos que foram submetidos a tentações semelhantes e mal sobreviveram aos seus próprios desafios morais.
Se esses gigantes do espírito eram vulneráveis e suscetíveis ao pecado, quem somos nós para esperarmos ser moralmente invencíveis?
É por isso que temos as leis de yichud, 4 um conjunto de regulamentos concebidos como medidas de precaução para nos impedir de assumir qualquer posição moralmente comprometida. Basicamente, um homem e uma mulher estão proibidos de ficar sozinhos, em qualquer ambiente privado e isolado. Deve haver outras pessoas por perto ou deve ser em um espaço público onde alguém pode passar ou entrar a qualquer momento e onde nada de desagradável ou comprometedor tenha qualquer chance de ocorrer.
Lembro-me muito bem das palavras exatas de um colega da nossa comunidade que, infelizmente, se envolveu com uma mulher casada. Quando ele veio falar comigo sobre sua situação difícil e embaraçosa, ele disse: “O que devo lhe dizer, Rabino, simplesmente aconteceu. ”
Sua justificativa de desculpas foi que ele não havia planejado o caso, mas os dois estavam trabalhando até tarde no escritório depois que todos foram para casa, e “simplesmente aconteceu”.
Somos todos suscetíveis, todos propensos a que nossos hormônios dominem sobre nós e que nossos corações conquistem nossos cérebros. Racionalmente, sabemos que isso não é correto, mas emocionalmente jogamos a cautela ao vento e, infelizmente, vidas são muitas vezes arruinadas no processo.
“Não existem guardiões confiáveis quando se trata de relacionamentos proibidos”, ensina o Talmud. 5 E, “Mesmo o mais piedoso dos piedosos não deve ser nomeado guardião de [prevenir] relacionamentos proibidos”. 6
Rezamos corretamente todas as manhãs: “Não nos deixes cair nas garras do erro, do pecado, da tentação ou da vergonha”. 7
Os espiões eram mortais. Todos nós também. Esperançosamente, com trabalho árduo, fidelidade, prece e um pouco de ajuda do Alto, mantemos nossa fé e nossa integridade.
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