Os espiões voltaram no quadragésimo dia, na noite de 9 de Av. Antes de entrarem em suas tendas, aproximaram-se da casa de estudos.
Viram Moshê, Aharon, o San'hedrin (Corte Suprema) e o povo estudando as leis de chalá (separar um pedaço de massa) e orlá (a proibição de ingerir frutos nos primeiros três anos após o plantio de uma árvore).
"Vocês não precisam estudar tais leis, que se aplicam somente em Israel," disseram zombeteiramente ao povo. "Jamais conseguirão pô-las em prática."
Os espiões despejaram seu discurso cuidadosamente preparado. Primeiro, elogiaram e louvaram Israel. Sabiam que suas perversas afirmações só seriam aceitas se primeiro dissessem a verdade.
"Achamos que Israel é uma terra extraordinariamente fértil, realmente," principiaram. "A qualidade de que dela jorram o leite e o mel é literalmente verdade. As árvores estão carregadas de tâmaras doces e suculentas, das quais pinga o mel. As cabras têm tanto leite que o excesso flui ao chão. Assim, vimos verdadeiros riachos de leite e mel. Vejam os suculentos frutos que trouxemos.
"Agora, examinem os frutos de perto. Já viram uvas tão gigantescas? Não são estranhas? Bem, este país abriga habitantes monstruosos, exatamente como produz frutos monstruosos.
"É impossível conquistá-la, pois seus moradores são fortes, e as cidades fortificadas. Não podemos entrar por lado nenhum sem nos depararmos com temíveis inimigos. No sul vive Amalec..."
À mera menção do nome "Amalec", o povo tremia.
Os espiões mencionaram Amalec primeiro (apesar dos canaanitas e emoritas serem mais fortes que Amalec), pois sabiam quanto temor este nome instilava no povo.
Os espiões continuaram: "Os canaanitas residem a leste e a oeste, e os emoritas e seus parentes, também poderosos guerreiros, nas montanhas, ao norte. Assim, todas as fronteiras estão cercadas por poderosas nações."
Até aqui, os espiões não contaram nenhuma mentira abertamente. As cidades canaanitas eram, de fato, muito bem fortificadas, e os habitantes verdadeiramente poderosos. Também era verdade que havia gigantes entre eles. Contudo, a sugestão dos espiões, de que a Terra era impossível de ser conquistada não constituía um fato real, porém uma opinião pessoal. (Não lhes foi pedido que opinassem se a Terra era ou não conquistável. Se quisessem externar seus pontos de vista, deveriam tê-las mencionado a Moshê em particular.)
Os espiões continuaram: "Éramos pequenos como gafanhotos comparados a estes gigantes. Certa vez sentamos todos em uma casca de romã atirada por um deles. Sentimo-nos como gafanhotos!"
Ao ouvirem a descrição de "exércitos inimigos invencíveis", o povo começou a perder a coragem. Por isso, Yehoshua levantou-se para contradizer as palavras dos espiões.
Os espiões, porém, não deixariam que desse voz a sua opinião.
"Quieto!", gritaram. "Você não tem o direito de falar! Você tem filhas, mas não filhos. Você não teme que seus filhos sejam recrutados para o exército. Não queremos que nossos filhos sejam mortos!"
Calêv percebeu que deveria valer-se de um método diferente. Levantou-se sobre um banco e gritou de maneira provocativa: "Este foi o único ato que o Filho de Amram (Moshê) perpetrou para nós?"
Esperando que Calêv os apoiasse, os espiões silenciaram a multidão. As vozes aquietaram-se. Todos esperavam ansiosamente pela próxima sensação.
Obtendo atenção geral, Calêv concluiu: "Moshê fez muito mais! Ele não partiu o Mar Vermelho para nós? Não nos deu a maná? Por que estão com medo de conquistarem Canaã se Moshê assim ordenar? Moshê jamais nos iludiu ou induziu em erro. Se ele assim o diz, podemos prevalecer sobre nossos inimigos. Mesmo se a Terra estivesse situada nos próprios céus e Moshê nos obrigasse: 'Construam escadas e subam até lá,' deveríamos segui-lo. Nosso sucesso baseia-se em obedecê-lo, pois o que quer que Moshê diga é a vontade de D'us."
Ao ouvirem as palavras de Calêv, os espiões apressaram-se em contradizê-lo.
"Não é como você está dizendo," proclamaram. "Não podemos prevalecer sobre essas pessoas, pois são mais fortes que nós."
A fim de impedir o povo de acreditar em Calêv, os espiões trataram de caluniar a Terra: "É uma Terra que devora seus habitantes," clamaram falsamente. "É cheia de epidemias. Onde quer que passássemos, víamos pessoas morrendo. Uma vez que os habitantes são tremendamente fortes, não estavam morrendo de qualquer fraqueza física. Outrossim, o clima prejudicial da Terra destrói qualquer um que lá habite."
Moshê retrucou: "Ouviram o que Calêv disse: Yehoshua também concorda com ele! Não dêem ouvidos à maledicência dos outros espiões!"
Mas o povo não queria mudar de idéia. "São dez contra dois!" - disseram a Moshê. "Acreditamos nos dez espiões. Além disso, Yehoshua e Calêv não negaram que as cidades são fortificadas e que encontraram gigantes!"
Moshê, então argumentou: "Tudo o que eu já lhes disse não é invenção minha, mas uma ordem direta de D'us. Se estou prometendo que Ele os levará à Terra e destruirá todos seus inimigos, a garantia é do próprio D'us. Aquele que realizou todos estes milagres até agora continuará a operar milagres mesmo depois que vocês entrarem em Israel."
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