O povo judeu estava agora num local a sudoeste de Israel. Sabiam que em breve subiriam a montanha localizada na fronteira de Israel.
Acotovelando-se animadamente, aproximaram-se de Moshê com um pedido. A única tribo que não juntou-se à multidão foi a de Levi.
"Deixe-nos enviar espiões à nossa frente," pediu o povo a Moshê, "para investigar a Terra. Aconselhar-nos-ão sobre a rota a ser tomada. Também nos informarão quais cidades podem ser facilmente conquistadas, para que saibamos onde atacar primeiro."
É óbvio que não necessitavam de espiões para reconhecer a Terra. A Nuvem de Glória e a Arca de D'us viajavam na frente do povo. Preparavam o caminho para o povo, e indicavam para onde ir.
Os judeus, portanto, citaram vários argumentos a fim de convencer Moshê da necessidade de exploradores.
"D'us prometeu levar-nos à Terra repleta de tudo de bom e bens preciosos," disseram-lhe. "Antes de nossa chegada, os canaanitas com certeza esconderão de nós todos os bens valiosos. Por isso, é uma boa idéia enviar agentes secretos para observar os habitantes e investigar seus esconderijos secretos.
"Mais que isso, D'us prometeu expulsar os habitantes de Canaã aos poucos. Precisamos decidir quais cidades atacar e conquistar primeiro. Os espiões também averiguarão a língua nativa. Se soubermos sua língua, podemos ser treinados para espioná-los durante a guerra, a fim de descobrir suas estratégias."
O povo judeu, na verdade, queria enviar espiões por causa das dúvidas que rondavam sua cabeça:
1. Apesar de D'us ter-lhes assegurado que Israel era uma terra boa, ninguém daquela geração a tinha visto. Não estavam convencidos de que a terra era especial o bastante para garantir uma guerra de grandes proporções (a guerra da época de Yehoshua durou sete anos). Os judeus queriam confirmação através de relatos de testemunhas oculares de que a Terra Prometida era de fato boa.
2. Comparados aos numerosos e bem treinados exércitos das sete nações que habitavam Canaã, o povo judeu tinha apenas um punhado de guerreiros sem preparo algum. Como poderiam ousar enfrentar inimigo tão temido em terreno desconhecido, sem saber exatamente seu número, o poderio de seu exército, e outros detalhes relevantes ao combate?
D'us condenou o povo pela falta de fé em Sua palavra, proclamando, por conseguinte, que aquela geração não entraria em Israel.
A Tribo de Levi, todavia, não requisitara espiões, e nenhum espião desta tribo fora enviado, conseqüentemente, os leviyim entraram na Terra Prometida.
Quando Moshê ouviu o pedido do povo, replicou: "Jamais darei um passo antes de consultar D'us. Concordarei apenas se Ele sancionar seu plano."
Moshê perguntou ao Todo Poderoso: "Consentes em enviar espiões à Canaã?"
"Se você assim o desejar," respondeu D'us, "não o impedirei. Todavia, Moshê, envie espiões por você mesmo, não por Mim."
Quando o dono do vinhedo percebeu que a vindima estava indo muito bem e que as uvas daquela safra resultariam em vinho doce e delicioso, ordenou a seus trabalhadores: "Tragam todas as uvas ao meu celeiro!"
Contudo, de outra vez, quando experimentou uvas de outra estação, percebeu que resultariam em vinho ácido. Portanto, disse aos trabalhadores: "Podem levar todas essas uvas aos seus próprios celeiros!"
Similarmente, D'us previu que os espiões não dariam certo, "azedariam"; por isso, não usou a frase: "Envie espiões para Mim" (como dissera, por exemplo, "Junte para Mim setenta homens; traga a Mim os leviyim"). Em vez disso, consentiu com as palavras: "Envie espiões por você mesmo."
Apesar de D'us saber que os espiões falhariam em sua missão e trariam punição a à geração inteira, não os proibiu de viajarem a Israel por diversas razões. Dentre elas:
1. Se recusasse o pedido dos israelitas, poderiam supor que a Terra não era verdadeiramente tão boa como Ele prometera. A profanação do Nome de D'us de acreditarem que o Todo Poderoso decepcionou-os era pior que a eventual punição da geração.
2. Apesar do Todo Poderoso prever todos os eventos futuros, Ele concede livre arbítrio a cada um. Apesar da exigência dos judeus de enviar espiões estar errada, os espiões tinham a opção de trazer um relato positivo e tornar a missão um sucesso.
De fato, Moshê consultou D'us no que concerne a cada espião individualmente, se tratava-se ou não de um tsadic, e D'us confirmou acerca de cada um: "Ele é um indivíduo de valor."
No princípio desta parashá, os espiões, são descritos como "anashim," homens distintos, indicando que quando principiaram sua missão, ainda eram todos virtuosos.
Os doze homens escolhidos eram os doze melhores do povo.
Quando Moshê informou aos judeus que D'us concordara com a empreitada, esperava que o povo respondesse que não necessitavam de espiões. Afinal, o fato de que a permissão fora concedida significava que Israel deve ser uma boa Terra.
Moshê tinha esperança de que sua aquiescência dissuadisse o povo de insistir no pedido. Os sábios discorrem uma parábola:
Alguém quer comprar um asno, mas diz que quer primeiro testá-lo. O vendedor, entusiasmado, concorda. "Posso levá-lo tanto para montanhas como para vales?" - pergunta o comprador.
"Claro!" - responde o vendedor.
Vendo que o vendedor estava tão confiante na coragem e astúcia do animal, o comprador decide que não tem nada a temer, e não faz o teste. Compra o asno e fica muito satisfeito.
Da mesma forma, Moshê pensou que sua prontidão em concordar com o pedido do povo o convenceria de que não havia nada a temer.
Ele estava errado; eles queriam ouvir sobre a Terra da boca de seus iguais. Assim, Moshê enviou os espiões.
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