"Então Zeresh, sua mulher, e todos seus amigos responderam: Constrói uma forca de cinqüenta cúbitos de altura" (Meguilat Ester 5:14)

As atenções que a rainha dispensara e a honra que lhe havia dado, causaram euforia a Haman.

"Até mesmo a rainha reconhece minha importância", pensava ele. "Quem pode comparar-se a mim em poder e riqueza!" Mas, saindo do palácio, encontrou Mordechai perto das grades do portão. Como de costume, este ignorou a presença de Haman, o que o enervou muito.

Haman rapidamente dirigiu-se à sua casa e convocou um conselho de família. Rodeado pelos seus filhos, mulher e conselheiros, gabou-se da honra que o rei lhe concedera. "A própria rainha Ester me convidou a um banquete ao qual somente o rei presenciou, sem nenhum outro ministro. Amanhã, estou novamente convidado para jantar com o rei e a rainha.

"Entretanto, qual o valor destas honrarias para mim, enquanto Mordechai, esse judeu, fica perto das grades do palácio, sem se inclinar durante minha passagem? Não Posso mais esperar até dia 13 de Adar."

Ele convidou parentes e amigos a procurar uma solução para arranjar a morte de Mordechai, sem demora; mas deu-lhes a seguinte advertência:

"Vocês devem adotar um plano que jamais tenha fracassado, pois D'us vem sempre com um milagre em auxílio de Seu povo. Não será suficiente decapitar Mordechai, pois o Faraó tentou matar Moshê através da espada, no entanto, o pescoço dele endureceu como mármore.

"Afogá-lo também não será a solução: as águas do Mar Vermelho abriram-se para deixar o povo de Israel passar. Não ousem furar os olhos de Mordechai, pois lembrem-se do que Shimshon (Sansão) mesmo cego, conseguiu fazer aos filisteus. É igualmente inútil queimá-lo vivo; não faz muito tempo que os três ministros judeus de Nevuchadnetsar, Chananya, Mishael e Azarya, tinham saído ilesos da fornalha onde foram jogados.

"Pessoalmente preferiria dar Mordechai como presa a leões famintos, mas ninguém ignora que o profeta Daniel tenha saído são e salvo da cova dos leões e que foram seus próprios inimigos que terminaram sendo atacados pelas feras. Agora, meus sábios conselheiros, encontrem um meio de execução com o qual o D'us dos judeus jamais tenha sido testado."

Um profundo silêncio dominou durante alguns instantes; cada um procurando uma morte terrível através da qual seria possível livrar-se de Mordechai. Repentinamente, a esposa de Haman, Zeresh, exclamou vitoriosamente:

"Enforquemos Mordechai! Nunca soube de um judeu que tenha sido salvo de um enforcamento. Constrói uma forca de cinquenta cúbitos (25 metros) de altura e pela manhã vá até o rei obter a permissão de enforcar Mordechai. Não tenho dúvida de que o rei atenderá a este pedido. E poderás jubilosamente ir ao banquete em companhia do rei.

Haman encantou-se com a idéia e não perdeu sequer um instante, erguendo uma forca de cinquenta cúbitos de altura na corte do seu próprio palacete.

A Noite Fatal

"Naquela noite, o sono do rei foi perturbado..." (Meguilat Ester 6:1)

Naquela noite gritos de apelo foram dirigidos aos Céus. As lágrimas e as orações dos judeus aflitos, seu arrependimento, e os remorsos sinceros penetraram nos Céus. Os anjos constrangidos perguntaram-se se D'us queria realmente destruir o mundo.

Ninguém dormia. Mordechai e os judeus estavam rezando e implorando a D'us. Ester estava ocupada preparando o banquete para o rei e Haman. Até mesmo o perverso Haman passou a noite em claro, construindo a forca para Mordechai. Somente, o rei dormia calmamente.

Quando o Eterno viu Achashverosh dormindo tão tranqüilamente, disse ao anjo Gabriel: "Meus filhos estão em perigo mortal e este tolo dorme serenamente! Vai e atrapalha seu sono".

O rei acordou subitamente e não pôde tornar a adormecer. Uma grave suspeita apossou-se de seu coração e ele se perguntou: "Por que razão Ester havia convidado Haman a presenciar o banquete. Será que os dois estão conspirando contra mim?" Começou a agitar-se em sua cama, virando e revirando-se a fim de afastar seus temores. Pensava: "Existe certamente um servo fiel em minha casa que me advertirá em caso de perigo, a menos que eu não lhe tenha dado o devido valor, nem a recompensa merecida".

"Shamshi", gritou o rei, "traga-me o Livro de Memórias, e lê para mim o que está escrito sobre os recentes acontecimentos que ocorreram aqui no palácio".

Shamshi, o filho de Haman, que nesta noite ocupava o lugar de camareiro-mor, trouxe o livro e se preparou para lê-lo perante o rei. Abrindo-o, seus olhos localizaram a estória que contava como Mordechai salvou a vida do rei, revelando-lhe a conspiração tramada por Bigtan e Teresh. Shamshí apressou-se em virar a página, mas esta retornou espontaneamente. O rei, impaciente, disse: "Por que estás virando as páginas em todas as direções? Começa a ler e não hesita mais".

Com uma voz trêmula, o servo disse-lhe que não estava enxergando bem, quando repentinamente, as palavras tomaram vida: o anjo Gabriel lia a estória da lealdade de Mordechai e não omitia naturalmente nenhum detalhe. Escutando toda a leitura, os olhos do rei começaram a se fechar.

"No sétimo ano do reinado do grande e poderoso Achashverosh, dois camareiros desleais ao rei, Bigtan e Teresh, tártaros, planejaram matá-lo e Mordechai o judeu, recentemente nomeado chefe dos camareiros, soube desta trama, ao ouvir a conversa entre esses dois traidores. Ele então informou à graciosa rainha Ester e ela avisou o rei. Os dois infames foram pegos em flagrante servindo ao rei vinho envenenado. Confessaram que haviam arquitetado este ato de traição pelo fato do rei ter nomeado Mordechai acima deles e esperavam poder acusá-lo por este crime... Os dois culpados foram enforcados... Mordechai o judeu, o fiel chefe dos camareiros será recompensado o mais cedo possível."

Gabriel lia a narrativa com tanta arte e citava o nome de Mordechai com uma voz tão terna que o rei acabou por dormir. Agora, ele sonhava que Haman estava em cima dele, sua mão segurava uma espada levantada. O rei acordou em sobressalto, e ouviu passos no vestíbulo. "Quem está aí?" disseram que era Haman.

"Tudo isto não pode ser um sonho", pensou o rei, e fez entrar Haman.

"Dize-me Haman, bom conselheiro, como o rei pode honrar um de seus súditos?"

Haman alegrou-se com estas palavras, pois pensava que era ele a pessoa em questão, e com um ar de modéstia, respondeu:

"O homem que o rei quer honrar deverá vestir roupas reais e com a coroa do rei por sobre a cabeça, passear pelas ruas da capital, sentado no cavalo real, enquanto o mais alto funcionário do governo andaria à sua frente, gritando: "É isto que deve ser feito ao homem que o rei deseja honrar."

" Ah! ", pensou o rei, "este intrigante tem mesmo em vista minha coroa". Satisfeito com a ironia, ordenou a Haman para sair e fazer tudo isso a Mordechai.

Estas palavras o fulminaram como que atingido por um trovão, deixando-o momentaneamente mudo. O rei gritou impaciente: "Não proceda como um burro! Corra e conceda as devidas honras a Mordechai!"

Haman fingiu não saber sobre qual "Mordechai" o rei estava se referindo. Ao que o rei respondeu que se tratava naturalmente de Mordechai o judeu, "Mas existem muitos judeus que se chamam Mordechai", lamentou Haman.

0 rei retrucou que era o Mordechai que ficava perto das grades do portão do palácio. Haman em prantos, declarou que Mordechai era seu inimigo e que preferia dar-lhe 10.000 moedas de prata do que conceder-lhe tal honra.

"Com efeito, dá-lhe o dinheiro; mas que lhe seja dada também a honra que propuseste."

Mas Haman ainda não se deu por vencido e suplicou: "Oh rei, sua majestade irá conceder tantas honras a um judeu?"

Então o rei zangou-se e exclamou: "Que insolência! Não basta o fato de Mordechai ter salvo a minha vida? Para de discutir! Vá imediatamente até Mordechai e executa minhas ordens, se quiseres viver."