Não foi preciso muito tempo para Haman descobrir um meio através do qual esperava exterminar todos os judeus das 127 províncias da Pérsia e, entre eles, seu pior inimigo - Mordechai.

Sem perder tempo, fez uma longa lista de falsas acusações contra os judeus. Para dar à elas uma maior aparência de veracidade e abusar da ingenuidade do rei, algumas eram reais ou parcialmente corretas. Haman aproximou-se do rei, dizendo-lhe que o povo estava impaciente e para tanto era preciso encontrar uma diversão apropriada. Acrescentou afirmando que havia chegado o tempo de perseguir os judeus.

Mas o rei replicou timidamente: "Seu D'us é poderoso e fará com que eu tenha o mesmo destino de Nevuchadnesar e de outros monarcas que injuriaram os judeus."

Haman disse-lhe então: "Mas há muito tempo os judeus abandonaram seu D'us."

"Mas não há entre eles, homens religiosos e devotos?", perguntou o rei.

"Eles são todos iguais, um não vale mais do que o outro", respondeu Haman.

O rei continuou argumentando: "Mas isso poderá prejudicar o interesse do meu reino."

Ao que Haman respondeu que os judeus se encontravam espalhados por todo o território e ninguém perceberia seu extermínio. Continuou a difamar e a humilhar os judeus aos olhos do rei, insistindo em afirmar que era um povo isolado, que vivia, comia e bebia entre si, não se misturava e nem casava com moças do país, era pouco desenvolvido e preguiçoso, pois constantemente observava dias de descanso como Shabat, Pêssach, Shavuot, Sucot, etc.

D'us escutava o que era proferido e disse: "Homem perverso! Tu estás reclamando das festas que Meus filhos celebram. Pois bem, Eu lhes darei mais outra, para que possam comemorar a tua queda."

Haman ofereceu ao rei dez mil moedas de prata para compensar as despesas com a perseguição aos judeus, mas o monarca sorriu e falou: "Guarda o dinheiro e acossa os judeus com ele. Faz deles o que te agradar."

Sobre esta transação, nossos Sábios contam a seguinte parábola:

Havia dois colonos cujos campos eram vizinhos. No primeiro existia um grande poço que o proprietário queria preencher com terra, enquanto que no segundo, uma colina cujo dono queria suprimi-la. Certo dia, estes homens se encontraram. O primeiro disse: "Você quer me vender tua colina, pois quero tampar o meu poço?" O outro respondeu: "Você é o homem que procuro. Eu lhe dou a colina gratuitamente, pois pensava em me livrar dela."

Como prova de sinceridade, o rei Achashverosh tirou seu anel de sinete e o entregou a Haman, dando-lhe poder absoluto. Haman tinha agora seus passos livres. Podia publicar decretos e promulgar ordens, ficando os judeus em suas mãos, o que o deixou imensamente feliz.

Imediatamente começou a executar seu sombrio propósito. Chamou os escribas do rei e ordenou-lhes que preparassem dois decretos reais para enviar a todos os embaixadores e governadores das 127 províncias.

0 primeiro era um edital aberto e ordenava a todos os governadores que fornecessem armas ao povo para o dia 13 de Adar, a fim de que, neste dia massacrassem um certo grupo prejudicial à nação. 0 segundo decreto, lacrado, indicava o nome desse grupo, mas eles somente tinham a permissão de abri-lo no dia 13 de Adar. Esta ordem indicava em termos claros e inequívocos, que o povo persa devia atacar e matar todos os judeus, jovens e velhos, mulheres e crianças, em todo lugar onde estivessem.

Estes dois decretos irrevogáveis, devidamente assinados e selados com o carimbo do anel do rei, foram enviados de imediato a todos os dirigentes do reino. O astuto Haman tinha tomado as devidas precauções para que seu plano permanecesse secreto, para surpreender os judeus sem lhes dar nenhuma escapatória. Ele saiu do palácio exultante, para informar Zeresh, sua mulher, de seu engenhoso plano.

Mordechai que se encontrava no portão do palácio real, percebeu a exuberante alegria refletida na face de Haman, e deduziu que este havia preparado alguma surpresa. Ele avistou três crianças judias que saíam da escola e seguiu-as. Mordechai pediu a uma delas:

"Diga-me o que aprendeu hoje?"

O menino respondeu-lhe: "Não temas um medo repentino e as catástrofes dos perversos quando vierem." (Mishlê 3:25)

0 segundo abriu conversa e falou: "Eu estudei hoje Torá e parei no versículo: "Eles (os perversos) têm planos que serão anulados, falam palavras que não se concretizarão, pois D'us está conosco."" (Yeshayáhu 7:10)

0 terceiro citou o versículo: "Até a velhice Eu serei o mesmo; na idade avançada Eu te guiarei; Eu já o fiz e Eu continuarei a te sustentar; Eu te orientarei e Eu te redimirei." (Yeshayáhu 46:4)

A face de Mordechai iluminou-se e ele abraçou as crianças com amor.

Haman que havia testemunhado a cena, estava curioso por saber o significado do que havia presenciado. Perguntou: "O que fizeram estas crianças, para te deixar tão alegre?" E com um ar triunfante, Mordechai respondeu: "Elas me trouxeram boas notícias, abençoadas sejam, e me disseram que não preciso temer-te".

Haman, nervoso, exclamou: "Serão as crianças as primeiras a sentirem minha mão destrutiva."