"Mas Haman foi imediatamente para sua casa, cheio de tristeza e em desgraça..." (Meguilat Ester 6:12)
Cabisbaixo e trêmulo, Haman começou a procurar Mordechai. Durante esse tempo, este estava sentado na Casa de Estudos, rodeado pelos seus queridos alunos. Ao levantar os olhos em direção à janela, percebeu Haman. "Salvem-se crianças. Eis o cruel Haman", - exclamou Mordechai. Mas elas responderam que não o abandonariam num momento como este, que tinham vivido com ele e queriam morrer juntos.
Mordechai recitava suas últimas orações quando Haman entrou. Haman esperou pacientemente que terminasse suas preces, depois dirigiu-se a ele com as seguintes palavras:
"Mordechai, filho de Avraham, o hebreu, tu tens verdadeiramente um grande D'us. Cada vez que súplicas Lhe são dirigidas, Ele lhe atende e faz milagres em seu favor. Agora, levanta-te Mordechai, coloca as vestes reais, e esta coroa de ouro... "
"Perverso Haman, filho de Amalec, por que vieste aqui zombar de mim. Não basta querer enforcar-me?"
"Não", - respondeu Haman com amargura - "eu não vim para escarnecer de ti, apesar de preferir que assim fosse. Eu estou executando a ordem do rei..."
Mordechai mal acreditava no que ouvia, enquanto as crianças começaram a dançar de alegria. Entretanto, Mordechai respondeu: "Sou eu digno, ó Chefe do Conselho de Ministros, de colocar as vestes reais no estado em que estou? Eu jejuo há três dias e estou coberto de cinzas..."
Haman fez um sinal com a cabeça, demonstrando que havia compreendido. Levou Mordechai aos banhos públicos onde o lavou e esfregou com óleos e perfumes dos mais refinados.
Subitamente Haman começou a gemer e a reclamar ao aparar os cabelos de Mordechai. Este perguntou-lhe qual a causa da súbita tristeza e ele respondeu-lhe: "Qual é o primeiro ministro que aceitaria de bom grado tornar-se cabelereiro?"
"Pois eis que tu exerces finalmente uma profissão que te convém. Não lembras que outrora eras cabelereiro na cidade de Carzum?"
E Haman continuou seu trabalho sem responder. Após ter-lhe colocado as roupas reais, tirou da estrebaria o cavalo predileto do rei e pediu a Mordechai para montá-lo. Mas este lhe disse: "Haman, teu infortúnio fez-te perder o bom senso. Eu estou fraco e sem forças, após o prolongado jejum. Como esperas que um velho como eu monte o cavalo sem ajuda?"
Haman sabia que não deveria fazer pouco caso das palavras do rei. De mais a mais ele já temia a sua impaciência. Assim sendo inclinou-se de má vontade, para permitir a Mordechai apoiar-se nele a fim de montar no cavalo.
Vestido com os adornos reais e com um ar majestoso e imponente, Mordechai percorreu à cavalo as ruas de Shushan, enquanto Haman o guiava e gritava: "É isto que deve ser feito ao homem que o rei deseja honrar!"
As ruas de Shushan estavam repletas de pessoas. Os músicos do rei tocavam seus instrumentos de prata, os oficiais mais graduados acompanhavam o cortejo, enquanto malabaristas lançavam ao ar taças de prata e ouro. Foi um espetáculo magnífico. A platéia aplaudia e gritava alegremente, enquanto Haman, com voz clara e forte, tornava a proclamar em altos brados o dito que ele próprio criara.
A filha de Haman, que estava no terraço da casa, disse à sua mãe, ao ver o cortejo passando: "Veja mamãe, papai está sentado no cavalo do rei e Mordechai está lhe servindo como guia".
Ela então pegou um caixote cheio de lixo e, com um sorriso perverso, jogou-o na cabeça do homem que pensava ser Mordechai. Imediatamente reconheceu a voz do homem que gemia de dor e percebeu que era o seu pai. Para não ter de suportar a cólera deste, jogou-se do terraço em desespero.
Após o término do desfile, Haman, abatido e desonrado, retornou à sua casa cambaleante. Ele disse a Zeresh: "Eu me vingarei de Mordechai. Eu o enforcarei no patíbulo e meus olhos ainda verão seu corpo sem vida balançar no vazio".
Mas sua mulher lhe respondeu: "Haman, tu certamente perdeste o juízo. Esquece o teu projeto, pois tu já foste derrotado. Os judeus são como a areia e as estrelas. Quando se afastam de D'us e desobedecem Seus preceitos, é possível oprimi-los, humilhá-los e pisoteá-los, como a areia; mas quando retornam a D'us, retomam a sua importância como as estrelas no céu. No que te concerne, meu pobre Haman, tua queda já começou".
Enquanto conversavam, os camareiros do rei chegaram para acompanhar Haman ao segundo banquete oferecido por Ester.
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