Em Taanit Esther (O Jejum de Esther), que geralmente é celebrado no dia anterior a Purim, é costume doar o valor de meio-shekel (ou três meios-shekels) para caridade. Por que doamos essa denominação específica para caridade, e por que isso é feito nessa época do ano?

Por que os shekels são doados em Adar?

Na época do Templo, no primeiro dia do mês de Adar, o beit din (tribunal judaico) emitia uma proclamação lembrando as pessoas que elas precisavam doar um meio-shekel para o Templo.
Ao doar uma quantia fixa, cada pessoa, independente do seu poder financeiro, tinha uma porção igual nas oferendas comunitárias ao Templo.

Por que então?

Embora usualmente nos referimos a Rosh Hashaná (1 de Tishrei) como o Ano Novo Judaico, a Torá na verdade refere-se ao mês primaveril de Nissan como o primeiro mês. Começando em Nissan, os sacrifícios somente podiam ser adquiridos com as contribuições1 do ano novo. Para garantir que os fundos estariam no lugar e 1 de Nissan, o beit din começava a coletar os shekels 30 dias antes, em 1º de Adar.2

Por que antes de Purim?

Na ausência do Templo sagrado em Jerusalém, não há coleta de meio-shekel. Apesar disso, há um antigo costume, mencionado na obra pós-talmúdica Massechet Soferim, que não apenas descreve o costume, mas também o conecta com Purim.

No primeiro dia do mês de Adar, uma proclamação é feita sobre a doação  dos [meio] shekels. Por que em primeiro de Adar? [Isso é baseado na declaração do Talmud:] “Aquele em cuja palavra o mundo veio a existir sabia com antecedência que Haman iria um dia pagar shekels [ao rei Achashverosh] para a destruição de Israel. Portanto Ele antecipou seus shekels com aqueles de Israel.”3

Assim, todos os judeus precisam doar seus shekels antes de Parashat Zachor, e é proibido dizer que eles são para expiação [implicando que isso é cumprir a verdadeira mitsvá de doar um meio-shekel ao Templo]; mas sim, eles são apenas uma doação caridosa.4

Massechet Soferim está claramente se referindo não aos shekels da era do Templo, mas a um costume de um período posterior, algo que já estava em prática bastante divulgada naquele tempo.

Por que no Jejum de Esther?

O costume divulgado é doar o meio-shekel antes de minchá no jejum de Esther, logo antes de Purim.5 Essa prática reflete a ideia acima de que os shekels do povo judeu opõem-se aos shekels que Haman doou para tê-los aniquilados.6

No entanto, mesmo quando Purim é num domingo e o Jejum de Esther é antecipado para a quinta-feira (i.e., não precedendo imediatamente Purim), o costume ainda é doá-los no dia do jejum. Isso porque o jejum associado com a mitsvá da caridade tem um poder especial.7

Por que Três Meios-Shekels?

A explicação básica sobre por que é costume doar três meios-shekels é que a porção da Torá que ordena o neio-shekels contém a palavra terumá (oferenda) três vezes.8 Outros explicam que isso corresponde às três vezes que são pronunciadas as palavras machatzit hashekel (“meio-shekel”)9

Três Jejuns

O Rebe Lubavitch fornece outra conexão. Nos dias de jejum, os rabinos recomendam que uma pessoa doe a quantia em dinheiro que teria gasto em sua refeição diária para caridade. Assim, o dia de jejum não simplesmente amortece sua conta bancária, mas na verdade vai ajudar alguém que precisa. Na Meguilá, antes de Esther abordar o rei para convidá-lo à sua festa particular (que culminou com a queda de Haman), ela disse a Mordechai: “Vá, reúna todos os judeus que estão presentes em Shushan e jejuem por mim, e não comam nem bebam por três dias…”10 Em memória a estes três jejuns, doamos caridades em três ou múltiplos de três.11