Caro Rabino Simon Jacobson

Purim sempre me intimida. Com dias sérios eu posso lidar – dias de estudo ou introspecção. Dias de jejum e dias de luto também são compreensivos. Sempre posso encontrar algo que me faça sentir triste. Mas Purim e Simchat Torá, esses para mim são feriados intimidantes. Eu deveria estar alegre, feliz e exuberante, mas como acesso a alegria? Por acaso tenho dentro de mim uma torneira que poderia jorrar alegria que eu pudesse ligar por 24 horas –sob encomenda? Felicidade engarrafada?!

Às vezes digo a mim mesma: “Fique feliz,” e imediatamente penso em pelo menos dez motivos para não ser alegre: Ex.: “Não sou casada, não sou casada, não sou casada…” (dez vezes)

Segundo entendo, em Purim, eu deveria ficar alegre porque há 2.500 anos, uma linda moça judia (Esther) casou-se com um rei não judeu (Achashverosh) cujo vice-rei (Haman) decidiu que seria uma boa ideia matar todos os judeus. Há 2.500 anos, os judeus foram salvos e portanto estou aqui hoje. Acho que é um motivo justo para celebrar – eu existo. Mas na verdade 2.500 anos é um longo caminho para viajar de volta no tempo a fim de encontrar um motivo para ser feliz. Não existe um incidente um pouco mais atual na história judaica sobre o qual eu possa sentir uma alegria  genuina? Falando sério, como eu acesso Purim?

Eda Rozensweig

 

Cara Eda,

Ótima pergunta. Seria um excelente tópico para discussão à mesa de Purim.
Seguem aqui alguns de meus pensamentos: Purim nos dá a oportunidade de fazer as perguntas que você acabou de expôr: como podemos ter alegria em nossas vidas, especialmente quando não estamos nesse clima e temos muitas razões para não estar alegres?
Há uma solução a curto prazo e outra a longo prazo. Primeiro a de longo prazo. A pergunta é por que há algumas pessoas naturalmente felizes e outras não? A alegria é genética? Natural e inerente, ou adquirida? Natural ou cultivada?

A resposta da Torá – que acredito ser o plano para a vida – é que a alegria é natural e inerente a cada pessoa. Apenas observe a felicidade natural e entusiasmo de uma criança pequena. O rostinho brilhante de alegria de uma criança é algo que qualquer adulto deseja ter. Uma criança começa a perder sua alegria natural devido a causas externas. Seu júbilo inerente começa a erodir quando começa a passar pelos desapontamentos e tragédias dos eventos da vida, as atitudes desagradáveis de pais, educadores e outros adultos que afetam a criança. Purim é a época do ano em que a janela da oportunidade de acessar nossa felicidade interior se abre. A celebração de Purim não é meramente devida ao evento histórico ocorrido há 2.500 anos, mas uma celebração de um evento que está acontecendo em nossas vidas hoje, no dia de Purim. (Tempo é uma energia cíclica. Cada dia recria o fluxo de energia daquele dia respectivo nos anos passados).O Baal Shem Tov coloca dessa maneira: Se alguém lê a Meguilá de Purim como se fosse um evento que aconteceu no passado e não no presente, a mitsvá não foi cumprida.

Como acessamos o júbilo  interior inato em cada um de nós? Acessando a alegria e entusiasmo de nossa criança interior – a parte de nós conectada a D'us que precede a tristeza que as circunstâncias da vida impuseram e continua a impor sobre nós. É disso que trata Purim: a celebração de nossa criança interior. O encantamento e magia de nossas almas.

Purim é um dia de alegre abandono que transcende as fronteiras convencionais. Somos ensinados a celebrar “ad de lo yado” – o que significa ser alegre até você atingir um lugar além das portas da percepção, onde transcendemos trevas e luz, até mesmo as dores e desapontamentos de nossa vida. A história de Purim nos ensina que apesar de quão escuro ficar, até quando toda a esperança parece perdida, a alegria da criança interior vem à superfície numa erupção de júbilo . É um deleite que transcende qualquer sofrimento que você possa estar passando na vida, seja a falta de um casamento ou um casamento desafiante.

A longo prazo – é preciso cultivar a alma interior da criança. Purim é um dia em que uma janela se abre e permite entrar na profundeza de nós mesmos. Meditar e interiorizar o sentimento de que D'us colocou você na terra por um propósito único, que você tem uma contribuição indispensável a fazer, entendendo que tudo na vida empalidece em comparação com o poder essencial de sua alma – é uma causa certa para estar alegre.

A curto prazo – no dia de Purim ouça a Meguilá, participe de uma refeição festiva, envie presentes de alimentos aos amigos, e doe caridade aos necessitados. Estes são os métodos e ferramentas para escavar os recursos interiores de nossa alma infantil que estão disponíveis para nós em Purim.

A alegria é contagiosa. Com frequência, quando não podemos acessá-la por nós mesmos, uma maneira de acendê-la é celebrando com dança e cantando com outros. Mudança de comportamento, agir alegremente (mesmo quando você não se sente assim), associado ao fato de que lá no fundo (ou não tão fundo) está um reservatório de puro júbilo, é uma maneira de realmente se tornar alegre.

Que D'us lhe dê a força para ver sua criança, acessar a alegria interior, e celebrar.
Feliz Purim!