Como rainha, ela entendia a regra de que governar não é controlar os outros, mas representá-los. Reservada. Modesta. Quieta. Humilde. Autocontrolada. Oculta. Estes adjetivos provavelmente não evocam imagens de uma heroína. Eles não parecem descrever o tipo de pessoa que colocaria sua vida em risco por outras, uma figura pública, uma entidade política, e uma pessoa de controle e poder. Mas são. Estas são as palavras que melhor descrevem a Rainha Esther, uma mulher cujo corpo, mente, alma e ações afetaram a realidade e mudaram o mundo.

Embora Esther tivesse ajuda e apoio de Mordechai para lutar contra o decreto que visava a destruir os judeus, foi Esther quem conseguiu implementar o plano e quem teve a visão e percepção de saber como aquilo tinha de ser feito. E foi ela quem insistiu para que a história de Purim fosse escrita e lida, ano após ano, pois ela sabia que sua relevância ao povo judeu seria sempre pertinente. É por isso que a Meguilá, o "Rolo de Esther", que tornou-se parte da Torá e que lemos durante o feriado de Purim, recebeu o seu nome.

Esther foi feita rainha contra sua vontade. Ela foi escolhida por sua excepcional beleza e mesmo assim, foi aquilo que o rei não viu que o atraiu a ela. A ex-rainha, Vashti, foi uma mulher que chamava a atenção para si exibindo seu corpo despido nas festas reais. Embora seu corpo fosse atraente, esta era sua única qualidade positiva. Quando ela foi incapaz de exibir sua beleza devido a um horrível eczema e bolhas na pele, ela nada teve a mostrar por si mesma, e em sua recusa a pavonear-se, não apenas perdeu sua posição como rainha, mas também sua vida.

Embora Esther supostamente tenha sido escolhida como rainha por causa da sua beleza exterior, os comentaristas escrevem que foi milagroso ela ser considerada atraente, pois sua aparência física na verdade era bem pouco lisonjeira. O Talmud nos diz que Esther possuía uma pele esverdeada, mas tinha um "quê gracioso" em si (Talmud, Meguilá, 13a). Aprendemos que quando alguém é elevado e belo interiormente, isso transparece ao seu exterior, e pode ser visto como beleza. Este é um dos principais temas em todo o texto de Eshet Chayil, "Uma Mulher de Valor" de Provérbios (Mishlê), que nos ensina: " O encanto é enganoso e a beleza é vã; mas uma mulher que teme a D'us – ela deve ser louvada."

"A verdadeira honra da princesa está no seu íntimo." A palavra para "íntimo", penimá, é a mesma para penimiut, o interior, a maquiagem espiritual da pessoa. Sua beleza era oculta sendo revelada no momento apropriado que salvaria todo o povo judeu. Vemos até que Esther chegou a extremos para ocultar-se fisicamente, pois não queria que o rei ficasse atraído por ela. E se não tivesse tido um motivo sagrado e necessidade de estar no palácio, então mais provavelmente ela teria sido vista apenas exteriormente, e neste caso ela jamais teria sido escolhida. Porém como ela definitivamente tinha um trabalho a fazer, para o qual D'us a escolhera como o conduíte para cumprir esta missão, seu interior foi visto; e neste caso, nenhuma outra mulher poderia ter competido com ela.

Assim, desde o início do envolvimento de Esther com o rei, fica claro que ele foi atraído à profundidade que havia nela, e foi através disso que ela conseguiu manobrar e fazer o que tinha de ser feito para salvar seu povo. Enquanto Esther está no reino, porém, ela não tem permissão de revelar a ninguém que é judia. Sob a Lei Judaica, se uma vida está em perigo, há brechas que permitem quebrar a Lei. Porém Esther assegurou-se de manter não apenas o espírito da lei naquelas circunstâncias, como também a letra da lei. Ela conseguiu criar um cronograma para ter sempre criadas diferentes no Shabat, para que nenhuma soubesse que durante este período ela estava fazendo algo diferente. Através do seu desejo de manter seu Judaísmo, ela descobriu uma maneira de fazer o que precisava. Nisso ela cumpre lindamente o princípio da Torá, de que "nada pode se colocar no caminho da vontade." (Zohar II, 162b).

Foi assim também que Esther pôde abordar o rei diretamente, embora ele não a tivesse chamado. Ela sabia que estava assumindo um risco, sabia que ele poderia mandar matá-la pela desobediência, mas ela sabia que era necessário, e que D'us a protegeria. Porém, embora Esther precisasse agir por si mesma, ela nunca sentiu que era a estrela do espetáculo. Sabia que tinha recebido uma missão e fora escolhida como um receptáculo, mas que era algo no qual não podia prescindir da ajuda de outras pessoas. Não somente ela procurou Mordechai para pedir conselhos e orientação, mas antes de abordar o rei, ela pediu a todo o povo judeu que jejuasse e rezasse pelo seu sucesso.

Como rainha, ela entendia a regra de que governar não é controlar os outros, mas representá-los. Ela somente poderia aceitar um risco de morte se estivesse agindo pela vontade e desejo de todo o povo judeu. Se ela fosse meramente agir sozinha, por seus próprios motivos e desejos, pensando que não precisava da ajuda de outros, é duvidoso se teria sido bem-sucedida.

E assim, quando ela entrou nos aposentos do rei, foi recebida, e não somente recebida, mas conseguiu pedir tudo que desejava, até a metade do reino dele.

O nome Esther em si é uma indicação de como ela levou sua vida e desempenhou seu papel. O radical de Esther em hebraico é hester, que significa "oculto". Muitas vezes pensamos que quando alguém está escondendo alguma coisa, é por constrangimento ou desconforto. O conceito atual é "se você tem algo, exiba-o".

Mostre ao mundo aquilo que tem para oferecer, esteja lá, torne-se público, quanto mais melhor. Não é tão excitante ser a heroína por trás das cenas. Porém os motivos da pessoa devem ser cuidadosamente examinados.

Se o desejo é mostrar a todos aquilo que você tem para oferecer, o que é capaz de fazer, então sim, é melhor que seja em público. Porém se o desejo da pessoa é utilizar a própria capacidade para um propósito mais elevado, para atingir um bem maior, não somente pelo próprio ego, então a melhor maneira de fazer isso é começar em particular, de maneira oculta, para que o objetivo possa ser atingido.

Ironicamente, Vashti representa de muitas maneiras o nosso modo de ver a mulher moderna. Ela é confiante, atraente, expansiva, corajosa e ousada. Não vê problemas em mostrar seu corpo despido numa sala repleta de pessoas, provocá-las e diverti-las. No entanto, sua meta é puramente auto-orientada. Ela se importa apenas com o próprio ego. É por isso que assim que o seu corpo não tem mais boa aparência, não é mais atraente para ser exposto em público, somente então ela o oculta.

Esther permanece escondida o tempo todo, mas com o propósito de poder ser vista. E quando ela é capaz de ser revelada, não é vista como um mero corpo para que outros usem e abusem, mas como heroína, alguém que representa o que é sagrado e como alguém que pensa não somente em si mesma, mas em seu povo. Como o Talmud nos ensina: "Uma bênção paira apenas sobre algo que está oculto ao olho" (Taanit 5b).

Embora possa ser empolgante estar nos jornais e revistas exibindo aquilo que você conseguiu, as maiores realizações são mantidas em segredo. As inovações e criações, sejam na Medicina, tecnologia, Ciência ou as militares, são "Altamente Secretas", "Estritamente Confidenciais" e mantidas sob o mais rigoroso sigilo.

Embora Vashti possa ter estado na capa de todas as revistas, foi Esther que estava por trás dos bastidores sendo a mulher que estava realmente mudando o mundo. Esther exemplificou a declaração: “Kol k'vudá bat melech penimá, "A verdadeira honra da princesa está no seu íntimo." A palavra para "íntimo", penimá, é a mesma para penimiut, o interior, a maquiagem espiritual da pessoa. Esta é Esther. Através do entendimento do verdadeiro significado de estar escondida, ela revelou uma mensagem ao povo judeu que permanecerá para sempre.