Moshê explicou: "Se todo o povo judeu guardar as mitsvot, não haverá pessoas pobres entre vocês. Jamais precisarão emprestar dinheiro a outro judeu, nem precisarão dar tsedacá.

"Porém sei que as futuras gerações não serão tão justas. Por isso, haverá pessoas pobres, e vocês precisam conhecer as leis de tsedacá."

Moshê explicou esta mitsvá aos judeus que entrariam em Êrets Yisrael. No deserto, não houvera necessidade de dar tsedacá porque cada judeu recebia maná para as refeições e porque todos tinham roupas para usar.

Sobre mitsvá de tsedacá, a Torá diz nesta parashá: ""Abra a sua mão - patuach tiftach et yadechá’. Seja caloroso e generoso com seus irmãos".

A Torá adverte em relação à ao medo natural humano de não poder gastar com caridade ou empréstimos. Um judeu nunca deve se perguntar se deve ajudar ou não, somente para quem e como oferecer ajuda, porque o ajudante definitivo dos pobres e ricos é o próprio D’us.

A Torá dirige-se a dois tipos de pessoas. Àquele que não consegue decidir se vai ou não doar, D’us diz: "Não endurecerás o seu coração". E, para alguém que deseja dar, mas no último instante volta atrás, D’us diz: " Não fecharás sua mão".

O versículo conclui com um aviso implícito para aquele que se mantém insensível: "O indivíduo diante de você é ‘seu irmão necessitado’. Se você rejeitar sua solicitação, você é aquele que poderá acabar se tornando o ‘irmão’ dele na pobreza". O homem pobre clama a D’us quando suas súplicas por tsedacá permanecem sem resposta. D’us escuta seus gritos sentidos e pune o avarento que não lhe forneceu tsedacá.

Uma Parábola

O adágio popular diz: "A carga que um camelo suporta depende de sua força". D’us espera que a pessoa doe tsedacá proporcionalmente à abundância com que foi abençoada.

De fato, uma pessoa é afortunada se doa tsedacá com generosidade. A seguinte parábola ilustra esse ponto:

Dois carneiros estavam às margens de um rio, olhando desconfiados para as ondas espumantes. Será que conseguiriam atravessá-lo a nado, alcançando a verdejante campina que lhes acenava do outro lado?

Ambos mergulharam e começaram a nadar vigorosamente. Contudo, enquanto um carnerinho mantia o ritmo, o outro logo cansou-se, conseguindo manter sua cabeça fora da água com muita dificuldade. Não demorou muito e foi tragado pela forte correnteza.

Para azar desse carneiro, sua longa pelagem acabou sendo um empecilho, tornando-se uma pesada carga ao molhar-se. O outro carneiro, no entanto, estava tosquiado. Era leve, locomovia-se com facilidade, conseguindo, assim, sobreviver. Nossos sábios aconselham a pessoa atravessar ao "outro lado" com pesos leves; ou seja, a livrar-se do dinheiro extra, distribuindo-o para tsedacá. Se a pessoa, em vez disso, guardar e acumular dinheiro, por fim este o arrastará para baixo. Pois ela não utilizou sua fortuna conforme os ensinamentos da Torá.

O Fiador do Empréstimo

Um filósofo perguntou a Rabi Gamliel: "Sua Torá lhes ordena a dar tsedacá freqüentemente, e não ter receio de comprometer sua situação financeira. Mas esse receio não é algo natural? Como alguém pode dar seu dinheiro sem se preocupar se deveria ou não poupá-lo para uma hora de necessidade?

Rabi Gamliel, então, indagou: "Se lhe pedissem um empréstimo, você me concederia?"

"Depende de quem está pedindo," respondeu o filósofo. "Se o requerente for um estranho, eu teria medo de perder meu dinheiro."

"E se o requerente apresentasse fiadores?", perguntou Rabi Gamliel.

"Bem, se eu soubesse que são confiáveis, concordaria," replicou o filósofo.

"Deixe-me perguntar-lhe", continuou Rabi Gamliel, "como você se sentiria se o requerente apresentasse o chefe do governo como fiador?"

"Certamente eu lhe emprestaria o dinheiro, sob estas circunstâncias, pois estaria completamente seguro de que meu empréstimo está garantido," declarou o filósofo.

Rabi Gamliel explicou: "Quando alguém dá tsedacá, ele na verdade concede um empréstimo garantido pelo Criador do Universo. As escrituras dizem: "Aquele que dá ao pobre com benevolência empresta a D’us, Que lhe retribuirá tudo o que lhe é devido." (D’us pagará ao benfeitor neste mundo, restituindo-lhe o ‘empréstimo’, e guarda a recompensa completa para o mundo vindouro.) Ninguém é tão honrado e digno de confiança como o Criador; se Ele garante que restitui o dinheiro ao doador: por quê alguém deveria hesitar em dar tsedacá ?

Ninguém nunca ficou pobre por dar tsedacá.

De fato, a verdade é o oposto, de acordo com o versículo: "Aquele que dá tsedacá ao pobre, nada lhe faltará". D’us restitui o dinheiro gasto em tsedacá, ao passo que o dinheiro sonegado ao pobre, ao fim, será perdido.

Como D’us Recompensa quem doa Grandes Quantias para Tsedacá

Rabi El’azar, Rabi Yehoshua e Rabi Akiva percorriam o país a fim de coletar uma vasta soma para sustentar os estudiosos da Torá carentes.

Eles chegaram aos arredores de Antióquia, lar de Aba Yudan, o famoso magnata e filantropo. Quando Aba Yudan viu os sábios se aproximando, empalideceu de vergonha e pesar, pois havia perdido todo o seu dinheiro, e não poderia ajudá-los.

Sua esposa ficou chocada ao ver que sua aparência mudara tão drasticamente, e indagou-lhe a razão.

"Os sábios estão visitando nossa vizinhança," ele respondeu, "e não tenho posses para fazer-lhes um donativo."

Sua esposa, que era ainda mais generosa que ele, aconselhou-o: "Venda metade do campo que nos restou, e dê o dinheiro aos sábios." (Este era um ato de bondade não requerido pela lei.)

Ao receberem seu presente, os sábios o abençoaram: "Que o Todo-Poderoso reponha sua perda!"

Mais tarde, enquanto Aba Yudan estava arando a parte que lhe restou do campo, sua vaca caiu num buraco e quebrou a perna. Ao entrar no buraco para socorrê-la, D’us iluminou os olhos de Aba Yudan, e de repente ele avistou um tesouro enterrado naquele buraco. Cheio de júbilo, exclamou: "Minha vaca machucou-se para meu benefício!"

Da próxima vez que os sábios visitaram aquela vizinhança, indagaram: "Como está Aba Yudan?"

Responderam-lhes: "Aba Yudan possui escravos, rebanhos de carneiros e cáfilas de camelos. Não temos palavras para descrever sua fantástica fortuna!"

Aba Yudan soube da chegada dos sábios e foi dar-lhes as boas-vindas. "Suas preces em prol de meu sucesso foram muito benéficas," disse-lhes. "D’us não apenas repôs o dinheiro que dei a vocês, como abençoou-me com muito mais do que jamais tive!"

Eles retrucaram: "Seu sucesso se deve aos seus próprios atos de tsedacá. Já que você deu tsedacá com tanta generosidade, D’us considerou-o merecedor de Suas bênçãos."

Sobre ele os sábios citam o versículo: "Um presente generoso (para tsedacá) acarreta que seu sustento seja ampliado."

O Poder da Tsedacá

Tsedacá pode prolongar a vida de uma pessoa.
Três atos têm o poder de abolir os decretos dos céus:


  1. Arrependimento (teshuvá)
  2. Dar tsedacá
  3. Orações (tefilá)

Halachot (Leis) Referentes a Tsedacá


  • Se alguém tem parentes pobres, a prioridade é ajudá-los. A seguir, ele deve dar tsedacá aos seus vizinhos pobres; e então aos pobres de sua cidade. Se for preciso escolher entre dar tsedacá para pobres de uma outra cidade, e a pobres de Êrets Yisrael, os pobres de Êrets Yisrael têm prioridade.
  • A mitsvá de tsedacá abrange dinheiro ou alimentos.
  • O valor mínimo a ser doado para tsedacá é um décimo dos rendimentos.
  • Quando não tiver dinheiro consigo para contribuir, ao menos seja amável com o pobre. As bênçãos que uma pessoa recebe por confortar uma pessoa necessitada são ainda maiores que aquelas recebidas por dar tsedacá.
  • A tsedacá deve ser dada de maneira amigável, acompanhada de palavras encorajadoras. Aquele que doa irritado ou com raiva, mesmo que sejam altas somas, perde o mérito da mitsvá.
  • Uma pessoa não deveria jamais sentir-se mal por dar tsedacá. A mitsvá deve ser cumprida com alegria. Aquele que dá tsedacá ganha mais que a pessoa que a recebe.
  • Se o pobre está constrangido por receber tsedacá, é preciso encontrar uma maneira de poupar-lhe embaraços. Por exemplo, pode-se dizer que o dinheiro é um empréstimo. Mais tarde, podemos informá-lo que, na realidade, não é necessário que devolva esta soma.
  • A maneira mais sublime de cumprir a mitsvá tem lugar quando o doador não conhece quem recebe a tsedacá, tampouco quem recebe conhece o doador (evitando, assim, que quem recebe fique envergonhado).
  • A maior tsedacá é evitar que um colega judeu tenha de aceitar tsedacá. Se alguém puder encontrar-lhe um emprego adequado, juntar-se a ele como sócio, ou emprestar-lhe dinheiro a fim de torná-lo auto-suficiente, este doador realizou a melhor e mais elevada forma de tsedacá.
  • Ao pensar em como distribuir dinheiro particular para tsedacá, deve-se dar prioridade aos pobres que esforçam-se no estudo da Torá. Assim como os maasrot (dízimos) sustentavam os cohanim e leviyim que faziam o serviço no Bet Hamicdash, também devemos separar um décimo de nossa renda para os estudantes da Torá em necessidades financeiras.

Um Bom Investimento

Rabi Tarfon, que era um homem muito rico, não dava tsedacá proporcionalmente à sua fortuna.Rabi Akiva propôs-lhe a seguinte questão: "Você quer que eu invista uma parte de seu dinheiro em imóveis?" Rabi Tarfon concordou, e deu-lhe quatrocentos dinares de ouro. Rabi Akiva pegou o dinheiro e distribui-o entre os pobres.

Depois de algum tempo, quando Rabi Tarfon pediu-lhe para ver seus imóveis, Rabi Akiva conduziu-o ao Bet Hamidrash (casa de estudos), abriu o livro de Tehilim, e leu: "Aquele que distribuiu amigavelmente e deu aos pobres, sua virtude e retidão perdurarão para sempre." (Tehilim, 112:9) "Foi assim que investi seu dinheiro."

Rabi Tarfon beijou-o e exclamou: "Você é meu mestre e professor. É mais sábio que eu, e ensinou-me a lição da maneira correta."

A fim de realmente demonstrar sua aprovação, Rabi Tarfon deu mais dinheiro a Rabi Akiva, para doar aos pobres.

De fato, Rabi Akiva não enganou Rabi Tarfon quando descreveu o ato de dar tsedacá como "investimento em imóveis". Quando alguém dá tsedacá neste mundo, está investindo numa casa para sua alma no mundo vindouro.

Mais Idéias Sobre Tsedacá

Maimônides, o Rambam, escreve: "Nunca houve dez judeus que morassem no mesmo local e não estabelecessem um fundo de tsedacá.

"Nós, o povo judeu, precisamos garantir o cumprimento da mitsvá de tsedacá de maneira elevada, pois ela nos caracteriza como a virtuosa e bondosa semente de Avraham, sobre quem D’us declarou: ‘Pois Sei que ele ordenará seus filhos e descendentes depois dele a fazer tsedacá.’"

Quanto agradecimento e louvor uma pessoa deve ao Criador, por possibilitar-lhe estar entre os que dão tsedacá a outros!

A pessoa deve perceber, contudo, que todo o dinheiro que controla, em realidade, não é "seu", mas do Criador. Se D’us confiou-lhe riqueza, é para testar se dará tsedacá com generosidade, e com as intenções apropriadas.