“E o rio ficará repleto de sapos. Eles irão subir e entrar em suas casas, seus quartos, e suas camas... seus fornos, e seus utensílios.”

Chananiá, Michael e Azaria aprenderam do auto-sacrifício com os sapos, que entravam nos fornos dos egípcios para cumprir a vontade de D'us.

Talmud, Pesachim 53b

O mundo mantém que se alguém não pode passar por baixo (desviar de um obstáculo) então deve passar por cima; mas eu digo: comece passando por cima.

Rabino Shmuel de Lubavitch

Numa reunião em 12 de Tamuz de 5745 (1 de julho, 1985) comemorando o 105º aniversário de nascimento de Rabi Yossef Yitzchoc Schneerson, o Rebe relatou o seguinte incidente na vida de seu sogro.

“Foi durante os anos de juventude de Rabi Yossef Yitzchok, quando o regime czarista ainda governava o Império Russo. Um novo decreto contra a comunidade judaica estava sendo preparado, visando às mudanças forçadas na estrutura do rabinato e educação judaica. Rabi Sholom Dovber despachou seu filho Rabi Yossef Yitzchok para a capital russa de Petersburgo para impedir a decretação da ordem. Quando Rabi Yossef Yitzchok perguntou quanto tempo deveria ficar em Petersburgo, seu pai respondeu: “Ao ponto do auto-sacrifício.”

“Na sua chegada a Petersburgo, Rabi Yossef Yitzchok aprendeu que o decreto já tinha chegado à mesa de Stalin, o ministro interior da Rússia, é sem sombra de dúvida o homem mais poderoso no Império Russo. A inteligência do Czar chefe (ou falta dela) faziam dele um virtual carimbo para todo ministro que o clima político prevalecente favorecesse: naquele tempo específico, sua Alteza era levada pelo nariz pelo ministro interior Stalin, um tirano malvado e total antissemita que era pessoalmente responsável por muitos dos devastadores pogroms que foram ‘arranjados’ para os judeus da Rússia naqueles anos.

“Vivendo em Petersburgo estava um erudito idoso, ex professor e mentor do Ministro Interior. Rabi Yossef Yitzchok conseguiu ser amigo deste homem, que ficou muito impressionado pela vasta profundidade de conhecimento do jovem chassid. Durante muitas noites os dois se sentavam e conversavam no escritório do idoso.

“Um dia, Rabi Yossef Yitzchok contou ao seu novo amigo o objetivo da sua estadia em Petersburgo e pediu a ele para ajudá-lo a chegar ao Ministro do Interior. O idoso erudito respondeu: ‘Falar com ele seria inútil. O homem tem um coração cruel e malicioso, e cortei todo contato com essa vil criatura há muitos anos. Mas há uma coisa que posso fazer por você. Por causa do meu status como mentor de Stalin, me foi concedido um passe de entrada permanente nos escritórios do ministro do interior. Não preciso explicar a você as consequências, para nós dois, se você está decidido. Mas tenho de respeitar você e aquilo que defende, e decidi ajudá-lo.’

“Quando Rabi Yossef Yitzchok apresentou o passe ao ministro do interior, o guarda na recepção ficou estupefato: poucos eram os ministros deste nível que recebiam tal privilégio, e ali estava um jovem chassid, completo com barba, talit, roupa chassídica e acento iidiche, numa época quando até residir em Petersburgo era proibido aos judeus. Mas o passe estava em ordem, portanto ele o conduziu para dentro.

“Rabi Yosef Yitzchok entrou no edifício e foi procurar o escritório de Stalin. Aqueles a quem ele pedia as direções somente encaravam a estranha aparição confiantemente passando pelos corredores do ministro do interior. Logo ele encontrou o escritório do ministro ao final de um corredor, no quarto andar do edifício.

“Enquanto Rabi Yossef Yitzchoc caminhava na direção do escritório, a porta se abriu e o próprio Stalin saiu e fechou a porta atrás dele. O filho do Rebe e o ministro do interior passaram a pouca distância um do outro. Rabi Yossef Yitzchok foi direto ao escritório, abriu a porta, e entrou.

“Após uma rápida busca, Rabi Yossef Yitzchoc localizou os documentos relativos ao decreto na escrivaninha de Stalin. Sobre a mesa estavam dois carimbos de tinta, um com a palavra ‘APROVADO’ e o outro ‘REJEITADO’ ambos com a assinatura e carimbo do ministro.

“Logo, Rabi Yossef Yitzchok carimbou o decreto proposto ‘REJEITADO’ e inseriu os papéis numa pilha de documentos dispensados que estavam numa bandeja sobre a escrivaninha. Ele então saiu da sala, fechou a porta atrás de si, e caminhou para fora do prédio.”