Na pequena cidade de Tschortkow, na Galícia (Polônia), vivia um homem culto e santo chamado Rabino Hershelle Tschortkower.

Ele estava ocupado dia e noite, pois nunca recusava ajuda àqueles que precisavam dele. Algumas pessoas buscavam seus conselhos; outras, sua bênção. E então havia as viúvas pobres, os órfãos, os doentes e os idosos que precisavam de dinheiro para o pão de cada dia. Ele estava sempre coletando dinheiro para aqueles que não o possuiam.

Um dia, o Rabino Hershelle Tschortkower decidiu que precisava de um assistente, pois havia muito trabalho para ser feito e não estava dando conta sozinho. Então, ele contratou um shamash (secretário) para dividir suas responsabilidades. Anschel Moses Rothschild, que era então um jovem pobre, e que ficou feliz em prontamente aceitar esse trabalho. O Rabino e o Anschel se tornaram amigos queridos.

Mas, após alguns anos, Anschel Moses decidiu se casar. Ele foi morar na cidade vizinha de Sniatyn, onde seu sogro abriu uma loja para ele. O rabino ficou feliz com o casamento, mas ficou triste ao ver seu parceiro partir, pois ele tinha sido um assistente fiel e devotado.

Vários meses depois, na noite anterior à Pessach, quando Bircat Chametz, uma busca solene é conduzida no lar judaico para a eliminação total de farinha e alimentos fermentados, algo terrível ocorreu. O rabino Hershelle Tschortkower estava examinando as gavetas de sua escrivaninha, quando descobriu que sua bolsa com quinhentos florins havia sumido! Era dinheiro que havia sido coletado para ajudar órfãos, viúvas e outros necessitados.

O rabino puxou a gaveta inteira e verificou a escrivaninha com mais cuidado. Então ele puxou o resto das gavetas para revistá-las novamente. Ele olhou embaixo da mesa e atrás da escrivaninha, mas a bolsa não foi encontrada. O coração do rabino estava acelerado. Demorou muito para coletar todo aquele dinheiro, e agora ele não tinha como ajudar pessoas pobres, desamparadas e infelizes.

Então ele começou a se sentir extremamente triste, pois de repente percebeu que o único que sabia sobre a bolsa era Anschel Moses. O rabino sempre confiou nele; mas quem mais poderia ter pegado o dinheiro? Não havia outra explicação.

Talvez, pensou o rabino, houvesse uma explicação para tudo isso. Talvez Anschel tivesse emprestado o dinheiro quando foi a Sniatyn para se casar. Talvez ele já estivesse planejando devolvê-lo?

O rabino decidiu não contar a ninguém sobre o dinheiro desaparecido. Ele não queria envergonhar Anschel, ou deixar as pessoas saberem que ele sequer suspeitava dele. Então decidiu viajar para Sniatyn para discutir o assunto com Anschel e dar a ele uma oportunidade de esclarecer o assunto.

Imediatamente após Pessach, o rabino alugou uma carroça e foi visitar Anschel Moses. Seu amigo ficou muito satisfeito em receber um visitante tão honrado. Então o rabino lhe contou o motivo de sua visita. O rabino falou que tinha certeza de que Anschel Moses só queria pedir o dinheiro emprestado, e que ele tinha certeza de que o devolveria agora. D'us o perdoaria por seu erro, e ninguém jamais ficaria sabendo sobre o ocorrido. Se fosse seu próprio dinheiro, disse o rabino, ele não estaria tão preocupado, mas esse era dinheiro coletado para pessoas que, de outra forma, poderiam passar fome ou sofrer dificuldades. E ele próprio tinha pouco dinheiro, então o dinheiro roubado teria que ser devolvido imediatamente.

Enquanto o rabino falava, Anschel ficou pálido e assustado, e seus olhos se encheram de lágrimas. Ele foi até sua caixa de dinheiro, esvaziou-a e, sem dizer uma palavra, deu todo o dinheiro ao rabino. O dinheiro foi contado, mas era apenas metade da soma total. Com profundo pesar, Anschel Moses prometeu dar o resto do dinheiro ao rabino o mais rápido possível.

O rabino ficou aliviado e triste, ao mesmo tempo. Anschel não disse nada em legítima defesa. Ele não ofereceu desculpas para sua conduta. As lágrimas em seus olhos eram prova de sua vergonha e culpa. Apesar de chateado, rabino triste, o rabino estava feliz que Anschel Moses havia percebido seu erro, se arrependido e estava devolvendo o dinheiro. Então agradeceu a Anschel Moses, apertaram as mãos e se abraçaram. O rabino disse que tudo estava perdoado e esquecido.

Durante os meses seguintes, Anschel Moses trabalhou mais horas do que nunca e economizou seu dinheiro cuidadosamente para devolver ao rabino. O rabino percebeu que Anschel Moses era um jovem honesto e bom que realmente merecia sua confiança e respeito. Anschel Moses havia cometido um erro, mas estava ansioso para consertar as coisas.

Certa manhã, houve uma batida forte na porta do rabino. Ele ficou surpreso ao ver o chefe de polícia parado ali. O chefe pediu ao rabino que o acompanhasse até a delegacia para tratar de alguns negócios importantes. Uma carruagem o estavam esperando na frente da casa.O rabino ficou muito intrigado. Ele estava com medo de que pudesse haver um problema sério. Ele rezou a D'us para que isso não estivesse conectado a nenhum perigo para a comunidade judaica.

O chefe de polícia levou o rabino ao seu escritório e, de forma muito amigável, perguntou-lhe se algo havia sido roubado de sua casa recentemente.

O rabino, que nunca havia falado com ninguém sobre o dinheiro desaparecido, ficou completamente surpreso. Ele contou ao chefe de polícia sobre a bolsa desaparecida, mas garantiu que quem a pegou já havia devolvido o dinheiro. Era um jovem que estava se casando e precisava do dinheiro. Ele realmente só queria pegá-lo emprestado. O chefe de polícia fez mais algumas perguntas e pareceu muito perplexo com toda a história.

"Vocês, judeus, são um povo maravilhoso", disse o chefe de polícia com respeito e admiração. "Nunca na minha vida ouvi falar de algo assim!" Então ele abriu a gaveta de sua mesa, tirou uma bolsa e entregou ao rabino. Você a reconhece?", ele perguntou.

Agora era a vez do rabino ficar perplexo. Certamente era sua bolsa perdida, mas como ela chegou aqui?

A porta se abriu e um policial trouxe uma camponesa algemada.

"Você a reconhece?" perguntou o chefe de polícia. O rabino balançou a cabeça. "Não, temo que não", ele respondeu, ainda perplexo com os acontecimentos.

"Bem, suponho que você esteja tão mergulhado em seu trabalho que mal percebe essa faxineira que vem limpar sua casa. De qualquer forma, não importa. Ela confessou."

E então o chefe de polícia contou sua história:
“Quando a mulher estava limpando sua casa antes de Pessach, ela encontrou a bolsa e a levou para sua casa. Resolveu escondê-la enterrando no jardim, perto de uma árvore.

“Poucos dias depois, ela pegou algumas moedas de ouro e foi comprar roupas novas. Então ela decidiu parar de trabalhar, pois agora possuía dinheiro suficiente. Uma semana se passou, e ela pegou mais alguns florins para comprar botas e sapatos novos. Os vizinhos ficaram desconfiados e relataram à polícia.

“Não demorou muito para que a pegassem. Eles a encontraram cavando o jardim e, quando ela estava abrindo a bolsa, a polícia a prendeu. Só faltavam quatro moedas.

"Aqui está, rabino", disse o chefe de polícia satisfeito pela descoberta. "Mas você sabe", ele disse, "eu simplesmente não consigo entender o que você disse. Por que aquele jovem pagou pelo roubo quando na verdade era inocente? E por que ele não lhe explicou que não tinha culpa?"

O rabino balançou a cabeça. Isso era algo que ele não conseguia explicar.

No dia seguinte, o rabino viajou para Sniatyn. Ele saiu correndo da carroça, correu até Anschel Moses e, em lágrimas, pediu seu perdão.

"Por que você não me disse que era inocente?", perguntou o rabino com a voz trêmula.

Anschel explicou que a tristeza e a preocupação do rabino o tocaram profundamente. Ele sabia que se a verdade fosse dita e ele se oferecesse para ajudar, o rabino se recusaria a aceitar, sabendo que ele estava longe de ser um homem rico. Então, Anschel e sua esposa deram tudo o que possuíam ao rabino e, por muitos meses, economizaram cada centavo para completar a quantia que faltava.

O rabino abraçou Anschel Moses e o abençoou para ter grande riqueza para que ele sempre pudesse ajudar os pobres e necessitados de seu povo.

"Aqui está o dinheiro que você gentilmente pagou do seu bolso. Vá para Frankfurt, Alemanha, onde você terá uma chance melhor de ter sucesso nos negócios, bem como de fazer boas ações. Que D'us esteja com você, sua esposa e filhos pelas gerações vindouras."

A bênção do Rabino Hershelle Tschortkower cumpriu-se. Anschel Moses se tornou um comerciante e banqueiro bem-sucedido em Frankfurt. Seu filho, Mayer Anschel Rothschild, obteve ainda mais sucesso. Seus cinco filhos se estabeleceram em diferentes capitais da Europa, e eles continuaram seus negócios bancários em parceria e sua riqueza só aumentou de geração em geração.

Um neto de Mayer Anschel, o Barão Edmund de Rothschild da França, chefe da Casa de Rothschild, ganhou o nome de Hanadiv Hayadua — "O Famoso Benfeitor". Ele ajudou muitos judeus de muitas maneiras diferentes. Ele morreu em Paris em 1934 aos noventa anos.

Então esse foi o segredo do sucesso dos Rothschilds: a generosidade altruísta de um homem comum, honesto, que preferiu sacrificar sua reputação fazendo caridade sem deixar ninguém saber de seu grande sacrifício.