Bilam disse a Balac: "Existe um meio seguro de destruir os judeus: se pecarem D'us os castigará. D'us proibiu-os de se relacionarem com mulheres não judias, pois não quer que se misturem à outras nações. Envie mulheres aos judeus, e diga-lhes para persuadir os homens judeus a pecar. Se conseguirem D'us fará com que os judeus desapareçam."

Balac e os nobres de Midyan decidiram levar a cabo o plano de Bilam para fazer os homens judeus pecarem. Ordenaram que suas filhas se adornassem para atraírem e seduzirem os judeus. Balac ordenou a sua própria filha que atraísse ninguém menos que Moshê.

Os moabitas encorajaram o plano vil de Midyan permitindo-lhes utilizar seu território para esse propósito.

Bilam sugerira que um enorme bazar fosse erguido nas vizinhanças do Acampamento judeu. "Venda artigos de vestuário para atrair os judeus," aconselhou. "Coloque mulheres velhas fora das bancas, mas coloque as jovens dentro das barracas."

Naquele momento os judeus estavam acampados em Shitim, uma estação na margem leste do Jordão, nas planícies de Moav.

Acampados em Shitim, os judeus sentiram-se seguros e autoconfiantes. D'us rechaçara todos os seus inimigos, incluindo o famoso feiticeiro Bilam, que foi forçado a louvá-los e abençoá-los. Uma certa despreocupação e leviandade permeava o Acampamento.

Mais que isso, a própria parada de Shitim conduzia à lascívia. A cada parada no deserto D'us confrontava os judeus com um teste especial. Ele imbuiu Shitim com o forte apelo da imoralidade.

Porém, D'us preparara muito antes do pecado um outro agente para salvar Seu povo da destruição. Ordenou que a Arca Sagrada do Santuário fosse feita de madeira conhecida como Shitim, acácia, para expiar pelo pecado que os judeus mais tarde cometeriam em Shitim.

Os judeus, famosos por sua moralidade superior até mesmo na decadente sociedade do Egito, foram agora apanhados num teste difícil.

O pecado começou com os menos importantes do povo. Após terminarem a refeição, decidiram relaxar um pouco visitando o bazar fora do Acampamento.

As mulheres velhas paradas fora das barracas mostravam as mercadorias e cotavam o preço, comentando: "Sei que esses artigos são caros, mas temos uma variedade de artigos baratos lá dentro."

O judeu entraria na barraca e encontraria uma jovem e atraente midyanita, que pedia um preço bem baixo pelas mesmas mercadorias que vira do lado de fora. Conversando de maneira convidativa, dizia ao judeu: "Só não conseguimos entender como vocês, judeus, odeiam-nos e recusam-se a se casarem conosco. Gostamos de seu povo. Acaso não somos todos descendentes de Têrach, pai de Avraham?"

"Veja, eu te dou este artigo de presente porque somos parentes. Você se parece com um velho conhecido. Por quê não se senta e come algo?"

Se o judeu recusasse, ela diria: "Não precisa objetar motivos religiosos. Sei que você segue leis dietéticas estritas. Veja, aqui há bezerros e galinhas gordas! Mande que sejam abatidos de acordo com suas exigências, então poderá comê-los. Enquanto isso, beba algo."

Cada moça tinha um frasco de vinho vermelho de forte buquê, que oferecia ao judeu.

Quando o judeu ficava embriagado, era convidado a maiores intimidades, mas apenas sob a condição de que primeiro adorasse seu ídolo, o Báal Peor. O judeu replicaria: "Não me curvarei a este ídolo." A moça então explicaria: "Você não precisa curvar-se a ele. Simplesmente realize suas funções corporais normais perante ele."

O abominável serviço desse deus requeria de seus adoradores que se alimentassem e então se despissem e se aliviassem na frente do ídolo.

Este culto simbolizava a inteira filosofia das nações gentias: "Viver a fim de satisfazer seus desejos animais. Não há motivos para sentir-se inibido, nem mesmo na frente de deuses!" Sua doutrina de absoluta falta de vergonha é diametralmente oposta ao conceito de recato e decoro da Torá, que deriva da consciência constante da presença de D'us, Que criou o homem para servi-Lo em todos os tempos.

Certa vez, uma mulher gentia sentiu-se gravemente doente e prometeu: "Se me recuperar dessa doença, adorarei todas as divindades do mundo." Ela se recuperou e perambulou de sacerdote em sacerdote para aprender sobre todos os deuses e a maneira como eram adorados. Ao ouvir sobre a divindade Báal Peor, perguntou a seu sacerdote: "Qual o serviço deste deus?" O sacerdote instruiu-a: "Coma alguns vegetais, beba vinho, dispa-se e realize suas funções corporais na frente dele." A mulher, incrédula, comentou: "Prefiro contrair minha doença novamente a realizar este serviço repulsivo."

E contudo, como resultado do hediondo plano de Bilam, havia judeus que concordaram em adorar esse ídolo. Por isso, a ira do Todo Poderoso acendeu-se.

A maioria dos que pecaram com as moças midyanitas e adoraram o Báal Peor pertenciam ao êrev rav (convertidos egípcios). A Torá salienta que aqueles que pecaram eram "haam - o povo", uma expressão que sempre se refere aos elementos menos valorosos do povo. As sementes do desejo impuro nunca foram totalmente erradicadas de seus corações. Este indivíduos foram agora eliminados da pura estirpe dos judeus através do teste de Peor e da subseqüente punição.

Contudo, mesmo judeus melhores, da Tribo de Shimon, tropeçaram ao adorarem Peor. Apesar de sua intenção ser de zombar do deus, emulando sua desgraçada maneira de adoração, foram, não obstante, considerados culpados.

D'us ordenou a Moshê que indicasse os líderes do povo como juizes para punir os que adoraram Báal Peor.

"Como posso determinar quem estava entre os idólatras?" - perguntou Moshê. "Os que adoraram Peor fizeram-no em privacidade, não na presença de testemunhas válidas que possam testemunhar contra eles."

"Eu revelarei os pecadores," respondeu D'us.

As Nuvens de Glória retiraram-se de sobre os que eram culpados, de maneira que o sol brilhou sobre eles, e ficaram expostos.

D'us também ordenou a Moshê: "Aqueles que adoraram Báal Peor serão condenados à morte."

Os juizes se reuniram, examinaram o caso e concluíram que muitos homens da tribo de Shimon adoraram Báal Peor. Foram condenados. Os demais membros da tribo de Shimon estavam revoltados. Apresentaram-se perante seu líder, Zimri, e disseram: "Como você permite que Moshê mate tantos dos nossos? Faça algo!"

Zimri traz uma mulher não judia ao Acampamento

Zimri reagiu arrogantemente, desafiando Moshê em público.

Ele fez uma proposta indecorosa a filha do rei Balac, Cozbi, que replicou: "Meu pai mandou que me oferecesse apenas a seu líder, Moshê."

Balac esperava que se sua bela filha pudesse seduzir Moshê, por conseguinte, o povo judeu inteiro cairia em suas mãos.

"Sou maior que Moshê," disse-lhe Zimri, "Ele é descendente da terceira Tribo, Levi, e eu sou da segunda, Shimon. Para provar que estou em pé de igualdade com Moshê, te levarei livremente ao Acampamento."

Descaradamente, Zimri levou a gentia perante Moshê e indagou: "Filho de Amram (Moshê), esta mulher me é permitida ou proibida?"

"Ela é proibida," replicou Moshê.

Zimri observou: "D'us disse que você é confiável. Desde que declarou que não posso viver com esta mulher, deve admitir que, da mesma forma, sua mulher é proibida, pois é filha de um sacerdote midyanita."

Moshê ficou em silêncio. (Na verdade, seu caso era diferente. Casara-se com Tsipora antes da Outorga da Torá, e além disso, sua esposa converteu-se ao judaísmo.)

Quando os judeus viram que Moshê falhara em responder, os grandes dentre eles irromperam em choro.

Os juizes estavam discutindo se Zimri merecia ser executado por um tribunal humano, ou se estava sujeito a pena de morte decretada pelo Céu.

Por quê Moshê não sabia como lidar com Zimri? D'us ocultou a lei dele. Moshê aprendeu no Monte Sinai que alguém que coabita com uma mulher gentia deve ser executado por homens devotos. Contudo, ele não conseguia lembrar-se da lei, pois D'us desejava que Pinechas punisse Zimri em seu lugar.

Por que Moshê não implorou ajuda a D'us?

Vestida em seu traje nupcial, a princesa estava pronta para entrar no pálio nupcial. Naquele momento, descobriu-se que ela já houvera se associado a outro homem anteriormente. As notícias desgostaram tanto seu pai e a família que ficaram impossibilitados de reagir. O choque e desespero não conheciam fronteiras.

Similarmente, quando, depois de quarenta anos de andanças pelo deserto, os judeus finalmente chegaram às margens do Jordão, e estavam prestes a entrarem na Terra Prometida, foram apanhados na armadilha de pecarem com as filhas de Moav. Zimri teve a audácia de trazer uma mulher midyanita ao Acampamento em público. Moshê ficou atordoado demais para reagir.

Durante toda sua carreira, Moshê foi um corajoso homem de ação. Depois do pecado do bezerro de ouro, confrontou, sem hesitação, seiscentas mil pessoas, esmagando o bezerro ante seus olhos, e ordenando que os idólatras fossem executados. Agora, no entanto, estava tão dominado pelo desapontamento que não rezou nem organizou um tribunal para julgar Zimri.

Moshê temia que desta vez D'us não perdoasse o povo. Não eram mais o povo jovem e imaturo que fizera o bezerro de ouro, durante o segundo ano no deserto. Agora, ao findarem quarenta anos, a nação atingira excelência em Torá e mitsvot. A regressão foi, por conseguinte, tão imensa que Moshê ficou incapacitado, por causa do desespero.

Entrementes, Zimri levou a mulher midyanita à sua tenda e aos olhos de todos.