O Talmud (Tratado Berachot 12b) declara que os Sábios queriam incluir a porção Balac desta semana da Torá em nosso recital diário da prece fundamental Shemá. A questão, é claro: por que? O que há de tão especial na Porção Balac da Torá para justificar que seja recitada diariamente em uma de nossas preces mais importantes? A resposta pode ser encontrada em um versículo em particular - "Eles são uma nação que se levanta como um jovem leão" (Bamidbar 23:24).

O Sfat Emet explica que os rabinos consideraram este versículo tão importante porque representa uma das mais elevadas aclamações do povo judeu. Como o leão, somos uma nação que sempre se levanta; não importa o quanto caímos, sempre nos levantamos. Isso é o que são os judeus, e é o traço de caráter do qual mais nos orgulhamos. Somos um povo que se ergue das cinzas. Essa é uma qualidade expressa por qualquer um que tenha alguma ligação com uma família que passou pelo Holocausto, e sobrevive hoje para chamar-se judeu.

Nos campos de concentração, Eichmann tirou a cortina de uma Arca Sagrada e colocou-a sobre a entrada da câmara de gás. Sobre ela estava escrito o versículo: "Este é o portão para D'us; os justos passarão por ele." Fez isso como zombaria - zombando de D'us, do povo judeu, e de tudo aquilo além do reino deste mundo físico. Porém a mensagem era bem verdadeira - os judeus que passaram por aquela cortina tornaram-se justos.

Eichmann e o regime nazista desapareceram há muito tempo, mas colocamos de volta aquela cortina em nossas arcas. Erguemo-nos novamente como um leão, e existem agora mais cortinas e mais sinagogas para colocá-las do que jamais houve antes. Não importa quantas vezes possamos cair, sempre nos levantamos novamente. Esta é a característica do povo de Israel. Os profetas chamam-nos de "uma nação de sobreviventes."

O Rei Salomão escreveu: "Um justo que cai sete vezes e se levanta novamente" (Mishlê 24:16). O que é, exatamente, um justo? Um indivíduo justo não é necessariamente quem jamais comete pecado, mas sim a pessoa que peca e levanta-se novamente.

Esta é a mensagem que Rabi Yitschac Hutner escreveu a um de seus alunos que estava desanimado sobre sua aparente falta de conquistas e desenvolvimento espirituais. Rabi Hutner disse-lhe: "Não desista. É disso que trata a vida - as batalhas, os conflitos. Nossos sábios dizem que o único modo de tornar-se um indivíduo justo é após a queda. Isso é o que o torna melhor. O crescimento vem apenas com conflito. Não é automático. Às vezes você precisa perder algumas batalhas antes de vencer a guerra."

É disso que trata a teshuvá, retorno ao caminho de Torá e mitsvot. Haverá batalhas, retrocessos, conflitos e perdas. Mas temos de nos levantar outra vez. É uma lição na história judaica e uma lição a cada um de nós. Às vezes, nós, como judeus, podemos estar dormindo. Podemos passar anos sem cumprir mitsvot. E então despertamos como um leão e mudamos. Somos uma nação que não é derrotada, uma nação de sobreviventes. É devido a esta característica que ainda estamos aqui hoje.