Uma das figuras marcantes no shtetl era o "maguid", um sujeito sábio e espirituoso que sempre tinha uma boa anedota, uma ótima história e uma mensagem inspiradora para compartilhar. No Shabat na sinagoga, no bar mitsvá de um primo ou no casamento do seu melhor amigo, sempre há aquele maguid moderno que consegue se levantar rapidamente, dirigir algumas palavras e inspirar as massas.
Uma observação irônica sobre esses indivíduos é que eles nunca conseguem realmente aprender ou "ouvir" nada. Toda vez que aprendem ou ouvem alguma nova ideia ou vinheta, imediatamente dizem a si mesmos: "Ah, essa é uma ótima ideia — vou usá-la no meu próximo bar mitsvá ou na minha próxima coluna!"
Como "falantes" perenes, eles nunca conseguem parar de verdade e simplesmente absorver algo novo apenas pelo estudo. Como alguém que escreve e ensina regularmente, eu meio que me identifico. Mas mesmo que você não esteja ensinando ou transmitindo mensagens regularmente, esse tipo de fenômeno surge o tempo todo. Digamos que você seja um advogado ocupado e precise escolher como gastar seu pouco tempo livre para estudar. É aceitável fazer um curso de estudos judaicos que também lhe dê créditos, ou você deve procurar um curso aleatório sem ganho pessoal? Ou, em termos mais amplos, digamos que você esteja pronto para assumir um novo compromisso religioso, uma nova resolução positiva. Você pode começar com algo que gosta de fazer de qualquer maneira? Ou precisa encarar uma escolha difícil além de suas preferências habituais? Se você é enfermeiro e vai fazer trabalho voluntário, pode fazê-lo em seu habitat natural, o hospital, ou deve oferecer seus serviços no refeitório comunitário do bairro?
Qual é a visão judaica sobre positividade conveniente ou popular? A coisa "certa" ou "boa" deve ser sempre difícil, ou uma solução rápida é igualmente boa?
A Mitsvá que Trata de um Cadáver
A parashá desta semana abre com as leis da pureza dos Cohanim. Como servos de D'us dedicados ao trabalho no Templo, o os sacerdotes são ordenados a manter um elevado senso de pureza, tomando cuidado para nunca entrarem em contato com um cadáver, o que confere tumá, impureza ritual (com exceção de sete parentes próximos ). 1 Lemos: “E D'us disse a Moshe: Fala aos Cohanim, os filhos de Aharon, e diga a eles: Que nenhum [de vocês] se contamine por um morto entre o seu povo, exceto por seu parente próximo.” 2
O Cohen Gadol, Sumo Sacerdote, é submetido a diretrizes ainda mais rigorosas: “E o Cohen que é elevado acima de seus irmãos... não se aproximará de nenhum cadáver; não se contaminará [nem mesmo] por seu pai ou sua mãe.” 3 Mas há uma exceção: a mitsvá de met, de um cadáver.
Este é o caso lamentável de um cadáver não identificado e não reclamado. Sem ninguém para cuidar do seu sepultamento, qualquer Cohen — até mesmo o Sumo Sacerdote — deve se contaminar ritualmente para garantir que o corpo seja enterrado adequadamente, conforme a Lei Judaica. 4
Embora esta lei diga muito sobre a importância de um sepultamento judaico de acordo com a halachá, gostaria de destacar uma interpretação interessante que demonstra uma relevância surpreendente que esta lei confere muito além das discussões sobre pureza e protocolo de sepultamento.
Em sua obra Sefer Chassidim, o autor5 aplica a noção de met mitsvá a certas mitsvot que outras pessoas ignoram ou abandonam, aquelas que são impopulares. Os exemplos do autor são aquelas partes da Mishná que a maioria das pessoas não querem saber, como as duas últimas ordens que falam de sacrifícios e impureza ritual.
As quatro primeiras ordens da Mishná que abordam leis mais comuns — finanças, litígios, eventos do ciclo da vida, feriados, preces, direito de família, etc. — são obviamente mais populares. Atualmente, quando o Templo não existe mais, é compreensível que tratados completos que discutem questões da lei sacrificial não sejam exatamente best-sellers. E são esses tratados que o autor exorta seu público a estudar. Por quê? Porque são as "mitsvot esquecidas…mortas" que ninguém mais estuda.
Por que, de fato, é tão importante estudar assuntos que os outros não estudam e cumprir mitsvot que a maioria dos outros não cumpre? Porque é precisamente esse assunto e essas mitsvot que irão movê-lo e transformá-lo.
Veja bem, enquanto você permanecer na sua zona de conforto e fizer o que todo mundo está fazendo, apegando-se às coisas populares, divertidas, que fazem você se sentir bem, você não vai sair da sua zona de conforto. No contexto do judaísmo e seus esforços para nos levar a um relacionamento com D’us, ficar preso na zona de conforto não ajudará absolutamente em nossa conexão.
Pense nisso: se você está apenas fazendo o que é conveniente para alguém que ama, sem se esforçar de verdade, sem se quebrar um pouco e fazer algo desconfortável ou difícil, que tipo de relacionamento é esse? Se você realmente ama alguém, isso o compelirá a mover montanhas e fazer coisas bastante desconfortáveis, porque é exatamente nessas questões que você trabalhou em si mesmo e demonstrou seu verdadeiro comprometimento e conexão.
E assim acontece com D'us: concentre-se nas coisas fáceis, e seu relacionamento ficará estagnado em um lugar primitivo. Aqueles que fazem o trabalho pesado e estudam assuntos obscuros ou cumprem mitsvot impopulares estão realmente investindo no relacionamento e se conectando com D'us em um nível profundo..
Então, da próxima vez que tiver um tempo livre para aprender algo novo na Torá, tente o seguinte: estude algo totalmente aleatório, sem nenhuma agenda. Escolha um novo tópico que você nunca tenha aprendido antes e compartilhe sua inspiração com seus amigos. Mergulhe na Torá pela própria Torá.
Escolha uma mitsvá ou um costume que você nunca tenha estudado antes, um que a maioria dos seus amigos nunca tenha ouvido falar. Entre e se aprofunde no assunto. Você vai tentar recitar o Shemá inteiro antes de dormir ou aderir às leis de Chalav Yisrael por um mês inteiro. Quando fizer isso, você terá passado para um próximo nível.6
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