Na parashá desta semana estão duas das mais fundamentais ordens do Judaísmo – ordens que tocam a própria natureza da identidade judaica.
Não profane Meu sagrado nome. Devo ser santificado entre os israelitas. Sou o Senhor, que fez você sagrado e que tirou você do Egito para ser seu D'us. sou o Eterno.
Vayicrá 22:32
As duas ordens são respectivamente a proibição contra profanar o nome de D'us, Chilul Hashem, e a mitsvá positiva, Kidush Hashem, somos ordenados a santificar o nome de D'us. Mas em qual sentido podemos santificar ou profanar o nome de D'us?
Primeiro temos de entender o conceito de “Nome” quando se aplica a D'us. Um nome é como somos conhecidos pelos outros. O “Nome” de D'us portanto é Sua posição no mundo. As pessoas O reconhecem, respeitam, honram?
As ordens de Kidush Hashem e Chillul Hashem, santificação e profanação de D’us respectivamente, colocam aquela responsabilidade na conduta e destino do povo judeu. Isso é o que o Profeta Yeshayiahu queria dizer quando falou:
“Vocês são Minhas testemunhas, diz D'us, que Eu sou D'us” (Yeshayiahu 43:10).
O D'us de Isral é o D'us de toda a humanidade. Ele criou o universo e a própria vida. Ele fez todos nós – judeus e não judeus – à Sua imagem. Ele cuida de todos nós: “Suas ternas misericórdias estão em todas as Suas obras” (Tehilim 145.9).
Porém o D'us de Israel é radicalmente diferente dos deuses nos quais os antigos acreditavam, e a realidade na qual os cientistas ateus de hoje acreditam. Ele não é idêntico à natureza. Ele criou a natureza. Ele não é idêntico ao universo físico. Ele transcende o universo. Não somos capazes de mapear ou quantificá-lo por meio da ciência – através da observação, medida e cálculo. Como então Ele é conhecido?
A alegação da Torá é que Ele é conhecido, não exclusivamente, mas basicamente, através da história judaica e através das maneiras pelas quais os judeus vivem. Conforme Moshe proclama ao final de sua vida:
“Pergunte agora sobre os dias passados, muito antes do seu tempo, a partir do dia em que D'us criou seres humanos sobre a terra; pergunte de um lado dos céus a outro. Algo tão grandioso jamais aconteceu, ou jamais se ouviu algo como isso? Algum outro povo ouviu a voz de D'us falando do fogo, como vocês, e viveu? Algum outro deus tentou pegar para si mesmo uma nação de outra nação, por testes, por sinais e maravilhas, por guerra, com mão poderosa e um braço estendido, ou por ações notáveis e impressionantes, como todas as coisas que o Eterno teu D'us fez por ti no Egito perante teus próprios olhos?” (Devarim 4:32-34)
Há trinta e três séculos, Moshe já sabia que a história judaica era única e continuaria a ser. Nenhuma outra nação sobreviveu a tamanhos desafios. A revelação de D'us a Israel foi única. Nenhuma outra religião é construída sobre uma revelação histórica direta de D'us a um povo inteiro como aconteceu no Monte Sinai. Portanto D'us – o D'us da revelação e da redenção – é conhecido ao mundo através do povo de Israel. Somos testemunhas de algo além de nós mesmos; embaixadores de D'us para o mundo.
Portanto quando nos comportamos de uma maneira para evocar admiração pelo Judaísmo como fé ou estilo de vida, isso é um Kidush Hashem, uma santificação do nome de D'us. Quando fazemos o contrário – quando traímos aquela fé e estilo de vida, fazendo as pessoas não respeitarem D'us de Israel - isso é um Chilul Hashem, uma profanação do nome divino. É isso que Amos queria dizer quando falou:
“Eles pisam sobre as cabeças dos pobres assim como o pó do chão, e negam justiça aos oprimidos... assim profanam Meu nome sagrado.” (Amos 2:7).
Quando os judeus se comportam mal, sem ética, injustamente, eles criam um Chilul Hashem, Eles fazem outros dizerem: “Não posso respeitar uma religião, ou um D'us, que inspire as pessoas a se comportarem dessa maneira. O mesmo se aplica numa escala maior, mais internacional. O Profeta que nunca se cansou de declarar isso foi Yechezkel, o homem que foi para o exílio da Babilônia após a destruição do Primeiro Templo. Isso é o que ele ouviu de D'us:
“Eu os dispersei entre as nações, e eles foram espalhados através dos países; Eu os julguei de acordo com sua conduta e suas ações. E onde quer que eles estivessem entre as nações eles profanaram Meu sagrado nome, pois era dito sobre eles: ‘Esse é o povo de D'us, e mesmo assim eles tiveram de deixar Sua terra.’”(Yechezkel 36:19).
Quando os judeus são derrotados e enviados ao exílio, não é somente uma tragédia para eles. É uma tragédia para D'us. Ele sente como um pai se sentiria ao ver seus filhos atacados e enviados à prisão. Um pai com frequência tem uma sensação de vergonha e, pior ainda, de falha inexplicável: “Como é que, apesar de tudo que Eu fiz por ele, não pude salvar meu filho de si mesmo?”
Quando os judeus são fiéis à sua missão, quando vivem e inspiram como judeus, então o nome de Hashem é exaltado. É isso que Yeshayahu quis dizer quando falou, em nome de D'us: “Você é meu servo, Israel, em quem Eu serei glorificado” (Yeshayiahu 49:3).
Essa é a lógica de Kidush Hashem e Chilul Hashem. O destino do “nome” de D'us no mundo depende de nós e de como nos comportamos. A nenhuma nação jamais foi dada uma responsabilidade maior ou mais decisiva. E isso significa que cada um de nós possui uma parte nessa tarefa.
Quando um judeu, especialmente um judeu religioso, se comporta mal – age sem ética nos negócios, ou é culpado de abuso sexual, ou faz uma declaração racista, ou age com desprezo pelos outros – isso se reflete mal em todos os judeus e no próprio Judaísmo. E quando um judeu, especialmente um judeu religioso, age bem – desenvolve uma reputação por agir honradamente nos negócios, ou cuidar das vítimas de abuso, ou mostrar conspícua generosidade de espírito – não apenas isso se reflete positivamente nos judeus, aumenta o respeito que as pessoas têm pela religião em geral, e assim por D'us.
Maimônides acrescenta, na passagem de seu código de lei falando sobre Kidush Hashem:
“Se uma pessoa tem sido escrupulosa em sua conduta, gentil em sua conversa, agradável com sua maneiras ao receber, não retrucando nem mesmo quando ofendida, mas mostrando cortesia a todos, até àqueles que a tratam com desprezo, conduzindo seus negócios com integridade... E fazer mais que seu dever em todas as coisas, enquanto evita extremos e exageros – uma pessoa assim santifica a D'us.” 1
Rabino Norman Lamm conta a divertida história de Mendel, o garçom.
Quando chegou a notícia em um cruzeiro sobre a ousada operação de Israel em Entebe em 1976, os passageiros queriam fazer uma homenagem para Israel e o povo judeu. Uma pesquisa foi feita para ver se havia alguns judeus a bordo. Somente um judeu pôde ser encontrado: Mendel, o garçom.
Assim, numa solene cerimônia, o capitão do navio, em prol de todos os passageiros, ofereceu suas congratulações a Mendel, que de repente se viu eleito de fato como o embaixador do povo judeu.
Somos todos, gostemos ou não, embaixadores do povo judeu, e como vivemos, nos comportamos e tratamos os outros reflete sobre nós não somente como indivíduos, mas sobre nosso povo como um todo, e assim sobre o Judaísmo e D'us.
“Não tenha medo da grandeza. Alguns nascem grandes, outros atingem grandeza, e outros têm grandeza colocada sobre eles”, escreveu Shakespeare em A Décima Segunda Noite.
No decorrer da história os judeus têm tido um impulso de grandeza sobre eles. Como escreveu o falecido Milton Himmelfarb: “O número de judeus no mundo é menor que um pequeno erro estatístico no censo chinês. Porém permanecemos maiores que nossos números. Coisas grandes parecem acontecer ao nosso redor e para nós.” 2
D'us confiou em nós o suficiente para nos tornar Seus embaixadores em um mundo com frequência sem fé, brutal. A escolha é nossa. Serão nossas vidas um Kidush Hashem, ou D'us não permita, o oposto?
Ter feito alguma coisa, até um único ato durante a vida, tornar alguém grato porque há um D'us no céu que inspira as pessoas a praticarem o bem na terra, talvez seja a maior realização a que alguém possa aspirar.
Shakespeare definiu corretamente o desafio: “Não tenha medo da grandeza.” Um grande líder tem a responsabilidade tanto de ser um embaixador como de inspirar seu povo a se tornarem embaixadores também.
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