Na Saúde e na Doença - Por Matthew Leader

Infelizmente, as pessoas nem sempre são justas. Se alguém informar a você que não pode ter um determinado trabalho devido a um defeito físico, seja o trabalho de médico, advogado ou Chefe da Tribo, a maioria das pessoas diria: "Ei, meu senhor, isso não é justo!" Entretanto, todos esperam que D’us seja justo, se não na prática, pelo menos nas regras escritas. Eis por que muitos sábios através dos tempos têm discutido a parte aparentemente não igualitária da porção desta semana da Torá, que trata das leis dos Cohanim. Após descrever vários detalhes de como um Cohen deveria manter-se especialmente puro, D’us diz a Moshê que um Cohen com qualquer defeito físico, como cegueira, eczema ou mesmo um pé quebrado não poderia aproximar-se do Mishcan para realizar o serviço sacerdotal de trazer oferendas, pois isso "profanaria Meu local sagrado" (Vayicrá 21:23).

Como pode ser? Nossa religião não é para aperfeiçoamento interior, onde o Criador nos julga pelos nossos pensamentos e ações, não pela nossa aparência pessoal?

Na prece fundamental do Shemá, está escrito que devemos servir a D’us "com todo nosso coração e toda nossa força" e Ele ficará satisfeito conosco. O salmo Aishet Chayil, recitado toda sexta-feira à noite como um louvor às mulheres da casa, informa-nos que "o encanto é falsidade e a beleza é vã, mas uma mulher que teme D’us, essa deve ser louvada." Então, como pode uma pessoa que tem a infelicidade de ser cega ou desenvolver uma doença de pele ser excluída do serviço de D’us, se possui um bom coração?

Convenientemente, Rabi Meir Simcha HaCohen de Dvinsk faz a mesma pergunta, e nos dá a resposta em duas partes. A primeira é a mais óbvia – pois D’us é o árbitro daquilo que constitui a verdadeira justiça, e tudo que Ele faz é justo por definição. As leis a respeito das oferendas são chukim e podemos apenas adivinhar as razões pelas quais Ele deseja que certas pessoas estejam envolvidas neste serviço, e outras sejam excluídas.

Isso nos ensina que não devemos aplicar nossos limitados ideais humanos de "justiça" às ações de D’us. Esta resposta é mais compreensível no caso de um Cohen que nasceu com um defeito. Entretanto, isso não é realmente compreensível no caso de alguém que D’us considerou merecedor quando anteriormente desempenhou o serviço sacerdotal, mas agora foi golpeado por essa lista. Devemos portanto assumir que esta pessoa tornou-se desmerecedora de servir, através de algum pecado ou ato que cometeu.

Mas certamente há pessoas defeituosas que são mais justas que outras saudáveis.

Rabi Meir Simcha responde a isso de uma maneira judaica clássica, fazendo outra pergunta: Se deveria haver desqualificações, por que D’us simplesmente não dizia ao profeta da época quais pessoas haviam pecado, e o profeta as desqualificaria do serviço sacerdotal?

Rashi declara que o fato de a Torá escrever a palavra "defeitos" uma vez mais (ibid. 21:21), após já ter listado vários exemplos, ensina-nos que qualquer defeito físico é motivo para desqualificação, mesmo um que não seja aparente ou visível de imediato. Portanto, explica Rabi Meir Simcha, o defeito físico é uma maneira de D’us enviar uma mensagem direta à pessoa afligida que, mesmo se suas ações parecem ser puras externamente, podem existir falhas internas ou um traço de caráter que ele precisa remediar.

O defeito de forma alguma significa que ele é "mau" ou "pecador"; ao contrário, sugere que há um pequeno atributo ou atividade que ele precisa aperfeiçoar antes de retomar o serviço sacerdotal. Talvez apenas o próprio Cohen possa descobrir esta falha através de sua própria introspecção, enquanto as "autoridades religiosas" da época possam ser incapazes de encontrar o problema interno.

Esta lição de responsabilidade pessoal não se aplica apenas aos Cohanim. Cada um de nós, em nosso próprio nível, deve manter nosso relacionamento único com D’us e responder às sutis mensagens que Ele envia constantemente em nossa direção.