Lembro-me das tardes de sexta-feira quando criança, quando finalmente voltava para casa depois de passar a semana inteira em uma yeshivá interna.
A viagem durou cerca de duas horas, e lembro-me claramente de meu pai vindo toda semana para nos buscar. Independentemente de quão cedo ele chegasse, sempre havia um sentimento intenso de que o Shabat era iminente e que devíamos correr para casa para chegar a tempo. “Temos que sair agora, ou vamos ficar presos no trânsito! O Shabat está chegando; vamos!"
E assim ocorria a cada semana. Meus irmãos e eu corríamos para dentro do carro antes que a ameaça do trânsito da Califórnia diminuísse nossa tarde de sexta-feira como uma tartaruga se arrastando pela estrada.
Já adulto, mais tarde me perguntei: “Realmente havia muito tempo, então por que saíamos correndo como se houvesse uma casa em chamas?”
Mas, após uma reflexão mais aprofundada, percebi que com sua agitação na tarde de sexta-feira, meu pai me ensinou uma lição essencial.
“Hoje é o Dia”
A porção da Torá Ki Tavo descreve o último dia de Moshe na terra. Compreensivelmente, foi um dia agitado, e Moshe tinha muito a dizer em sua mensagem de despedida ao povo que conduziu por tantos anos. Entre outras coisas, ele disse:
“Vocês viram tudo o que D'us fez diante de seus olhos na terra do Egito ... No entanto, até hoje, D'us não lhes deu um coração para saber, olhos para ver e ouvidos para ouvir. 1
O que exatamente aconteceu “neste dia” que rendeu ao povo um “coração para saber, olhos para ver e ouvidos para ouvir?”
Rashi nos conta uma história fascinante: Naquele dia, Moshe deu o rolo da Torá aos membros da tribo de Levi. Isso desencadeou uma tempestade de fogo entre o povo, pois eles vieram correndo até Moshe, gritando: “Ei, nós também estávamos no Monte Sinai e aceitamos a Torá! Por que você está dando a Torá exclusivamente para os levitas ? Com o passar do tempo, um dia eles podem reivindicar a Torá como sua!2
A reação de Moshe foi bastante intrigante. Rashi nos diz que “Moshe se alegrou sobre isso”, chegando a exclamar que foi somente neste dia que o povo se tornou “a nação de D'us.”3
Agora, considerando que este era o último dia de Moshe na terra, eles não poderiam dar uma folga ao seu amado e devotado líder? Eles realmente não pararam de reclamar nem mesmo no último dia de vida de seu líder? E por que isso deixou Moshe tão feliz? Por que ele comemorou essa ansiedade (possivelmente infundada)?
Ansiedade Saudável
Moshe ficou animado ao ver o quanto as pessoas se preocupavam em estar “dentro”, em pertencer. Essa foi a prova final de que essas pessoas eram reais e que a nação judaica estava bem estabelecida.
Durante todo o tempo no deserto, seria preciso ser cego para não perceber que a tribo de Levi recebia um tratamento diferenciado, preferencial. Enquanto para a nação inteira foi prometida uma porção na terra futura, para os Leviim não. “D'us é a herança deles”,4 declara a Torá. Como servidores no Templo e uma tribo dedicada ao estudo da Torá, os levitas estavam visivelmente separados.
Este status deu origem a um sentimento um tanto ansioso entre as pessoas. Eles se preocuparam: “Talvez a Torá não seja realmente para nós, pessoas comuns. Talvez os santos levitas sejam os verdadeiros porta-bandeiras de nossa nação, e nós somos apenas seguidores que com sorte poderemos aprender ou experimentar uma ou duas coisas de vez em quando.
Então, quando em seu último dia na terra, Moshe deu especificamente o rolo da Torá aos levitas, foi a gota d’água. “A Torá não pertence apenas aos levitas!” eles protestaram. “A afinidade com D'us é propriedade de todo judeu!”5
Ao ouvir essa afirmação Moshe ficou emocionado. Isso provou para ele o quanto cada e todo judeu, do erudito ao mais simples, deseja estar conectado, próximo a D’us.
Leve para o lado pessoal
Assim como as crianças que indagam ansiosas aos pais: “O pacote já chegou?” ou "Já chegamos?", nós também devemos nos preocupar com nosso judaísmo, tanto que às vezes até ficamos um pouco impacientes com isso. É claro que ninguém está defendendo a introdução de mais ansiedade em sua vida, nem a religião deve se tornar uma fonte de angústia psicológica ou emocional. Esse não é o ponto aqui. Mas nem todo estresse é inerentemente ruim. Existe toda uma disciplina de estresse que torna-se positiva - o "estresse" que o empurra para fora de sua zona de conforto para fazer algo mais satisfatório, significativo e realizador.
Pense em viajar: é bem estressante, principalmente quando você está explorando um lugar distante com um idioma e costumes diferentes. Mas, ao mesmo tempo, você está mergulhando em um lugar novo e interessante, com novos lugares para conhecer, novos restaurantes para comer, e toda uma cultura para vivenciar.
Portanto, embora possa ser estressante, viajar é uma experiência reveladora e positiva.
O mesmo pode ser dito para a “ansiedade” trazida aqui. O objetivo é se importar com sua herança, com o judaísmo de uma maneira profundamente pessoal.
Quando o Shabat está chegando, ele deve estar em sua mente, envolvendo toda a sua sexta-feira, e não apenas alarmando você quando o relógio atinge a hora do acendimento das velas.
Quando acordar de manhã, “Devo rezar” deve estar em sua mente. Não é apenas algo que você eventualmente fará ao longo do dia, mas algo que fica na frente e no centro de sua vida até que concretie a ação.
Ao fazer planos de viagem como onde você obterá comida casher, onde encontrará um minya, quanto tempo deverá reservar a cada dia para aprender um pouco de Torá - todos esses são assuntos que devem naturalmente fazer parte da equação.
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