A porção desta semana da Torá, Ki Tavô, começa com o mandamento de bikurim – primeiros frutos. "Tu os colocarás em um cesto… e o sacerdote tirará o cesto de tua mão."

Um estudo mais acurado das leis de bikurim da Torá revela que a apresentação do cesto (geralmente feito de vime) ao cohen (sacerdote) era parte integrante do mandamento em si.

Curiosamente, enquanto os frutos trazidos eram o que havia de melhor, e somente selecionados das sete variedades pelas quais a terra de Israel é enaltecida, o cesto utilizado era feito de um material comum. Esta aparente contradição no mandamento do bikurim contém uma alusão à descida da alma das altas esferas e sua encarnação num corpo físico aqui embaixo.

Os frutos do bikurim são simbólicos da alma; o cesto é o corpo físico. Entregar o cesto ao sacerdote representa o propósito para o qual a alma fez esta drástica descida.

Em geral, os primeiros frutos são simbólicos do povo judeu; mais especificamente, da alma Divina que existe Acima, totalmente transcendente em relação ao mundo físico. O plano de D’us, no entanto, é para que esta alma purificada seja revestida num corpo, um "recipiente" grosseiro e inferior que a contém, por assim dizer.

Este recipiente torna difícil para a alma expressar sua conexão com D’us, até o ponto de obscurecer sua verdadeira missão no mundo. Mais uma vez, assim como no mandamento de bikurim, o "fruto" sagrado e superior está contido e até restrito nos confins de um simples e despretensioso "cesto".

A Chassidut fornece a razão para isso, explicando que a descida da alma para um corpo físico é "uma descida com o propósito de ascender": É precisamente por meio de sua permanência no plano físico, tendo de enfrentar as dificuldades deste mundo e superá-las, que a essência da alma é revelada e um nível mais elevado de espiritualidade é atingido – muito mais elevado do que jamais poderia ser atingido sem passar pela descida inicial.

Em princípio, "frutos" somente não é o suficiente; o objetivo da descida da alma é "frutos dentro de um cesto".

O crescimento da alma é conseguido através do cumprimento de mandamentos práticos, que somente podem ser feitos com a ajuda do "recipiente" – o corpo físico. Pois na verdade, a alma já estava repleta de amor e reverência por D’us antes de descer ao mundo material; a única mudança que experimenta ao se encontrar num corpo é que agora pode cumprir mandamentos físicos, algo que anteriormente lhe era impossível. Assim, a alma se torna capaz de elevar o mundo físico e transformá-lo em santidade – a intenção de toda a criação.