Levante-se, brilhe, pois sua luz chegou, e a glória de D'us se elevou sobre você. Pois, veja, as trevas cobrirão a terra, e densas nuvens as pessoas; porém D'us Se erguerá sobre você, e Sua glória será vista sobre você. Nações virão para a sua luz, e reis para o brilho da sua elevação. Erga seus olhos ao redor, e veja; eles estão todos reunidos, e vindo para você; seus filhos vêm de longe, e suas filhas são carregadas no colo.

Quem são esses que voam como nuvens, como pombas voando para seus telhados?

Os filhos de seus opressores virão se curvando para você, e todos que o desprezaram se inclinarão aos seus pés. Eles o chamarão: ‘A cidade de D'us, o Tsion do Sagrado de Israel.’ Embora você fosse abandonado e odiado, com ninguém passando por você, eu farei de você uma eterna majestade, um júbilo para muitas nações.
Seu sol não vai mais se pôr, nem sua lua minguará. Pois D'us será sua eterna luz, e seus dias de luto terminarão. Seu povo será todo justo; eles possuirão a terra para sempre; o galho da Minha planta; a obra de Minhas mãos, que Eu seja glorificado. O menor se tornará um mil, e o mínimo uma poderosa nação; Eu, D'us, o apressarei no devido tempo.
Yeshayahu 60:1-22 – 6ª Haftará das Sete Semanas de Conforto

Quando criança lembro de mim mesmo arranhando uma janela molhada pela chuva, rezando, chorando, para que meus pais voltassem para casa. Este foi todo o “abandono” que passei. É por isso que fiquei muito chocado, a ponto de não acreditar, quando primeiro ouvi falar sobre verdadeiro abuso de crianças.

A primeira vez, enervante, foi quando uma das minhas alunas me contou como ela era considerada um tanto louca por subir na geladeira em sua casa. Ou quando aquilo não funcionava, ficava em baixo da mesa da cozinha. Veja você, ela estava tentando achar uma maneira de evitar seu pai incestuoso… Ela tentava todos os tipos de truques e esquemas para evitar dormir no próprio quarto, para que não ter de suportar mais uma das visitas noturnas do pai.

Acho horrível demais imaginar um pai deliberadamente explorando a própria filha. D'us sabe; todos temos nossas tentações, algumas difíceis de controlar. Todos temos nosso lado feio, aquele que preferimos não mostrar, nem para nós mesmos. Mas que psique retorcida poderia fazer um pai violentar a filha? Está totalmente além do alcance de qualquer distorção normal.

E então, o que era ainda pior – se é que isso é possível – é a mãe em silêncio, ignorando a violação, a atrocidade – vivendo à sua maneira alegre, sorrindo, aquiescendo, criando a ilusão de normalidade, lamentando-se “somos uma família normal; nenhuma família é perfeita,” insistindo em “reuniões de família” e tirando “fotos da família” – como se tudo estivesse muito bem e bonito, o tempo todo em que a menina, vivendo num inferno, se recolhia cada vez mais numa concha interior, e jamais voltaria a ser a mesma. E aqueles jantares da noite de sexta-feira, quando a criança abusada corria chorando da mesa, do kidush normal do seu – assim chamado – pai, tentando desesperadamente chamar a atenção de alguém, tentando provocar um protesto, somente para ser estapeada mais uma vez quando o pai forçava a ela e todos os seus irmãos a entoar canções do Shabata cada vez mais alto, “venham, deixem-me escutar as vozes de vocês,” apenas para abafar o choro dela em seu quarto…

A princípio eu não quis acreditar que coisas desse tipo eram possíveis. Porém a esmagadora evidência, os sinceros gritos de um adulto após outro, rapidamente abalaram minha “inocente” ingenuidade. Eu então pensava ser o sujeito esperto, entendendo as tribulações da vida, mergulhando nas profundezas das trevas humanas. Oh, cara, eu teria eu rude despertar: enquanto você não vê os efeitos devastadores do abuso, você ainda não viu as trevas.

Sim, eu estudei e estava consciente – e até pensei que tinha uma percepção – pela pesada mortalha que oculta a realidade, aquilo que o Arizal chama de “o mistério do Tzimtzum”, que o buraco negro cósmico, às vezes chamado de: o primeiro tzimtzum” ou “o grande tzimtzum”, que ocultou a presença consciente da luz Divina, permitindo que nossa consciência independente surgisse. Eu tinha estudado e explorado como esta “ocultação” é a raiz da solidão existencial, e de toda a injustiça e abuso, alimentando as ilusões de nossa auto-contenção, permitindo-nos magoar uns aos outros e a nós mesmos no processo.

Mas você não sabe o que é “tzimtzum” até vivenciar um holocausto – individual ou coletivamente. Enquanto você não vê um adulto tremendo como uma criança quando ele ou ela revisita a profunda vergonha e o abandono resultantes de uma ou outra forma de abuso, ainda não viu o “tzimtzum” em “toda a sua glória”. E então, e somente então, você tem o direito sagrado e humilde de gritar e exigir justiça. De desafiar D'us e implorar a Ele; Por quê?

Pois, veja, as trevas cobrirão a terra, e nuvens densas cobrirão as pessoas. A escuridão não é um processo intelectual. É um grito dolorido, emocional, que vem das profundezas de um coração angustiado, tentando, procurando, ansiando por ar. “Por que eu não era amado? Eu não merecia amor? Qual é o problema comigo?”

Toda noite quando o sol se põe, quantas meninas e meninos se encolhem de medo? Para alguns de nós o pôr-do-sol é uma visão linda. Para muitos outros, é um pesadelo começando a acontecer.

As trevas cobrem a terra. Porém uma nuvem ainda mais densa cobre a percepção das pessoas. Por mais escuro que o tzimtzum possa ser, não se compara à densidade que trazemos quando nos alimentamos na ocultação e amplificamos seus efeitos distorcidos.

De maneira alguma isso está limitado ao abuso sexual; existem, tragicamente, muitas formas de abuso – psicológico, físico, verbal, até religioso. E há outras experiências traumatizantes – como a morte prematura de um dos pais, divórcio e outras tragédias semelhantes – que abalam a crença inocente e pura da vida de uma criança.

Além disso, o paradoxo é que o mesmo D'us que queremos “culpar” pelos nossos problemas é a fonte de nosso consolo e esperança. Apesar da escuridão cobrindo a terra e seus povos, D'us Se elevará sobre você, e Sua glória será vista sobre você. Portanto…
Eleve-se, brilhe, pois sua luz chegou, e a glória de D'us se elevou sobre você… Embora você fosse abandonado e odiado, com ninguém passando por você, eu farei de você uma eterna majestade, uma alegria para muitas gerações. E apesar das muitas noites escuras que seus filhos suportaram, seu sol não mais vai se pôr, nem sua lua minguará. Pois D'us será sua luz eterna, e seus dias de luto terão passado.

Como é possível que após tolerar tanto dano uma psique ferida possa se recompor? Responde o Profeta, talvez com a declaração mais poderosa que jamais ouviremos: Seu povo é todo justo; eles possuirão a terra para sempre; o ramo da Minha planta, a obra das Minhas mãos, para se orgulhar.

Esta é a fonte do tema: O nascimento é D'us dizendo que você importa. Sua própria existência é testemunho da sua indispensabilidade. Você é a flor de D'us, a obra de Suas mãos – você tem uma contribuição essencial que ninguém mais, exceto você, pode cumprir. Você e tudo que você faz são importantes, agora e para sempre. Ninguém pode tirar isso de você, porque nenhuma pessoa o deu a você, nem seus pais, nem seus professores, nem seus clientes ou seus empregados.

A indispensabilidade humana é o âmago da dignidade humana. E este é o antídoto – a cura que precede os danos do abuso.

De todos os efeitos devastadores do abuso o mais prejudicial é a violação da dignidade humana, malchut. Provocando uma profunda vergonha, o abuso desmoraliza o espírito humano e priva a pessoa de seu direito de nascimento, dado por D'us – o senso do próprio valor e auto-estima.

O versículo nos diz que, não importa quanto abuso uma pessoa sofreu, apesar das trevas que a consomem, sua dignidade Divina inerente jamais é destruída; pode somente ser forçada a correr para se esconder, mas jamais pode ser aniquilada. Levante-se, brilhe, pois sua luz chegou, e a glória de D'us (kavod, malchut) se elevou sobre você. Pois veja, as trevas cobrirão a terra, e nuvens densas os povos; mas D'us Se elevará sobre você, e Sua glória será vista sobre você. [Como resultado] Seu povo é todo justo; o ramo de Minha planta, a obra de Minhas mãos, da qual me orgulho. Você nunca é negligenciável.

E assim – O Menor se tornará mil, e o mínimo uma nação poderosa. No entanto, você poderia pensar: “Tudo bem, eu posso me tornar mais forte à medida que descobrir meu malchut interior, mas perdi tantos anos chorando, me recolhendo, não correspondendo ao meu potencial? Como isso agora pode ser recuperado? Chegarei a entender o objetivo da minha vida e fazer uma contribuição ao mundo, ou ficarei num perpétuo estado de dor e cura?”

Alguns dizem que os sobreviventes muitas vezes ficam tão consumidos consigo mesmos, compensando por todo o tempo perdido quando sua identidade foi aniquilada, que no processo de cura não têm tempo de pensar sobre ninguém nem nada mais, muito menos ajudar os outros e o mundo ao seu redor.

Diz a Haftará: Nações virão para a sua luz, e reis para o brilho da sua elevação. Erga seus olhos ao redor, e veja; eles estão todos reunidos, e vindo para você; seus filhos vêm de longe, e suas filhas são carregadas no colo. Os filhos de seus opressores virão se curvar a você, e todos que o desprezaram se inclinarão aos seus pés. Eles o chamarão: “A cidade de D'us, o Tsion do Eterno de Israel.”

Sua dignidade malchut ( enraizada na glória de D'us) não apenas o habilitará individualmente, como também permitirá que você influencie seu ambiente e a sociedade. As nações virão para a sua luz, e reis para o brilho da sua elevação. A redenção da dignidade violada não é meramente sua restauração; pode e deve também afetar o mundo que nos cerca.

No entanto, para que isso aconteça, você deve erguer os olhos ao redor, e ver; eles estão todos reunidos, e vindo para você. Um espírito oprimido com frequência e desgastado, “apenas deixe-me ser, já sofri o suficiente; deixe-me agora apenas relaxar em conforto.”

Porém a dignidade interior de sua alma não está silente; não permite que você apenas lamba suas feridas e mergulhe na autopiedade. Levante, brilhe, pois sua luz chegou… A glória de D'us será vista sobre você… Erga os olhos em torno, e veja; eles estão todos reunidos, e vindo para você. Seus amigos estão esperando, sua comunidade está esperando, nações, reis e o mundo estão todos esperando que você se eleve para a ocasião e ilumine as cercanias com sua luz única.

E que hora melhor para começar que os dias finais do ano? À medida que nos preparamos para o Ano Novo e a nova energia/luz imprecedente que ele trará, agora é a melhor hora para programar nossa mente, alinhar nosso coração e mobilizar as nossas ações para começar de novo e talvez tomar iniciativas revolucionárias que brilharão para o universo com nossa luz única. Se, no entanto, errarmos ligeiramente, temos a Divina promessa: “Eu, D'us, apressarei isso a seu tempo.”