A Parashá desta semana contém 73 dos 613 mandamentos Divinos para os judeus: mais do que qualquer outra porção semanal da Torá.

Os mandamentos envolvem desde as leis intrincadas de divórcio e Yibum (levirato) que têm tratados inteiros do Talmud dedicados a esses temas como à lei simples sobre o pagamento dos trabalhadores sem atraso.

Mas esses simples mandamentos despertam um grande problema espiritual. Os ensinamentos da Cabalá explicam que D’us tem os mesmos mandamentos que nós temos. No entanto, esse mandamento de pagar sem atraso parece ser uma grande exceção. Gerações e gerações de judeus por milhares de anos têm servido a D’us desde que Ele lhes deu Sua Torá, mas aparentemente Ele nunca ‘pagou na hora’. Ele continuamente atrasa o pagamento.

Para entender, segue uma história.


O Rabino Alter Fishel Buket estava na Sinagoga perto do Ohel no cemitério Montefiore tentando se concentrar num dos discursos complexos do Rebe. Embora já passasse da meia-noite e o local estivesse praticamente deserto, ele estava tendo dificuldades.

Um outro judeu chassídico também estava lá com dois meninos que corriam de um lado para o outro e faziam uma grande bagunça.

O Rabino Buket tentou aprofundar-se na sua concentração procurando desconectar-se de tudo à sua volta. Enquanto isso, o Chassid começou a olhar para ele. Levantou-se , aproximou-se dele e perguntou se ele era possível que ele fosse um dos acompanhantes do Rebe que seguravam a porta do carro há uns doze anos.

Rabino Buket parou por um momento e confirmou.

De fato, doze anos atrás quando era jovem e solteiro, estudante da Yeshivá, o Rabino Buket se ofereceu como voluntário para ajudar a manter a ordem durante Lag BaOmer, a festa que cai 33 dias depois de Pessach.

Quando essa festa cai num domingo, Chabad faz um gigantesco desfile de quatro horas pelas ruas do Brooklyn, e passa na frente do 770, Sede mundial do Chabad. São necessárias muitas pessoas para assegurar que tudo transcorra sem percalços. Também é um dia quando os Rebes de Chabad notoriamente davam bênçãos para pais que não conseguiam ter filhos e muitas pessoas precisam dessas bênçãos.

Esse chassid relatou que era uma dessas pessoas. Ele era um Chassid da linha Belz que morava ali perto e era casado há mais de dez anos, mas não havia sido abençoado com filhos.

Ele e sua esposa tentaram de tudo: médicos, especialistas, professores, medicina alternativa e outros tratamentos que não surtiram nenhum efeito. Eles aumentaram seu estudo de Torá e mitsvot (boas ações). Deram mais doações para caridade, rezaram com mais fervor, visitaram túmulos dos Tsadikim (pessoas especialmente justas e bondosas) bem como quase todos os Tsadikim vivos que podiam. Mas nada de filhos.

Então um de seus amigos lhe falou para ir a Crown Heights em Lag BaOmer quando o Rebe costumava dar bênçãos com relação a filhos. Então ele foi para lá.

Ao chegar encontrou uma multidão imensa. Milhares de pessoas aguardavam o Rebe sair, do lado de fora da Sinagoga. Alguns buscavam bençãos, outros conselhos e pessoas também apenas para olhar para o Rebe.

O desespero desse chassid o fez empurrar as pessoas até que de repente ele se viu quase face a face com o Rebe. Ele esticou o pescoço e gritou por sobre a multidão: “Rebe, uma benção para filhos!”

Mas foi impossível ouvir qualquer coisa. O Rebe não respondeu. E ele foi empurrado para fora. Mas ele não desistiu. De novo foi buscando espaço no meio da multidão até conseguir chegar novamente na frente do Rebe e quando achou que estava suficientemente perto gritou com toda a sua força “Rebe, uma benção para filhos!”

Mas de novo o Rebe não ouviu.

“Então tomei a decisão de que não desistiria!” O Chassid continuou a contar ao Rav Buket.

“O Rebe já tinha entrado no carro que estava esperando para levá-lo a algum lugar e, quando cheguei bem perto, a porta se fechou. Minha única chance era a janela do carro e por sorte ela estava aberta.

“Então vi você, de pé ali, assegurando-se de que tudo estivesse em ordem e pensei que nunca me deixaria falar com o Rebe pela janela. Mas de qualquer forma tentei, era minha última chance... eu realmente precisava desesperadamente daquela benção.

“Então enfiei minha cabeça pela janela aberta quando de repente você me agarrou. No entanto, me deixou falar. Você poderia ter me arrancado dali, mas você me deixou. Pedi novamente: ‘Rebe, uma benção para filhos’ e dessa vez ele respondeu claramente.

“’Amén! Kiflaim L’Toshiá” (Amén! Uma salvação dupla)!

“Então só queria lhe agradecer! Não é uma coincidência que estejamos aqui juntos?”

“Então,” O Rabino Buket não resistiu à pergunta, “o que aconteceu? O que aconteceu com a benção do Rebe?”

“Como assim? O que você quer dizer com ‘o que aconteceu’?” O Chassid respondeu.

“Aqui estão eles!”, ele disse apontando para os dois filhos correndo por ali.

“Dez meses depois minha esposa deu a luz a gêmeos e aqui estão eles. Esses são a ‘dupla salvação!’”


A proibição de não atrasar o pagamento é somente para trabalhadores assalariados e pagos diariamente ou semanalmente, mas não para trabalhadores num projeto.Os judeus estão num projeto e só serão pagos quando o trabalho terminar. E o trabalho para o qual fomos contratados é tikun olam, consertar o mundo e nós mesmos, e ficarmos prontos para Mashiach.

É por isso que pessoas como o Chassid da nossa história, apesar de todos os seus esforços, trabalhando dia e noite em coisas sagradas não teve seu ‘pagamento’ imediato de ser abençoado com filhos que tanto desejava.

Por outro lado, em cada geração existem grandes Tsadikim que têm o poder de ajudar as pessoas e remover suas dificuldades para que possam aprimorar seu serviço a D’us, assim como o Rebe ajudou o Chassid da nossa história.