Em homenagem à Guimel Tamuz
Na porção a Torá dessa semana Corach lidera um motim contra Moshê. Final da história: Ele é provado errado e a terra engole a ele e seus companheiros insubordinados.
Por que um castigo tão estranho? Não há outra maneira de penalizá-los? Na verdade, somos informados que a “boca da terra” que consumiu Corach foi criada no início dos tempos! (ao final dos seis dias de criação, na sexta-feira ao entardecer). O que torna a ‘boca da terra’ tão importante que teve de ser formada ao final de Bereshit - esperando milhares de anos pelo dia em que iria abrir para “dar as boas vindas” a Corach e seus comparsas!
Isso nos leva de volta à Atzilut (Emanação, reino da Divindade pura) e materialismo – o tema dos episódios anteriores nas duas últimas porções da Torá.
Corach não chegou num vácuo. Vamos nos colocar nos sapatos dele. Como um homem atento ele estava obviamente seguindo de perto as discussões (debates) e eventos que chegaram antes dele. Ele primeiro ouviu que o povo exigia carne. Eles estavam questionando a possibilidade de integrar a Divindade e o mundo material. Então Corach ouviu atentamente a resposta de D'us – a revelação de Atzilut, que iria unir os dois mundos de espírito e matéria, do Divino e do humano.
Corach então testemunhou o pecado dos observadores, que desafiavam a própria noção de ser capaz de conquistar uma “terra que consome seus habitantes”. O materialismo é forte demais para nós, eles argumentavam. Corach viu como eles foram severamente punidos por desafiar o próprio objetivo da existência – fazer uma morada para D'us neste mundo inferior, no mundo da matéria bruta.
Portanto agora o palco está montado. Eis aqui um reconstituição do argumento de Corach:
Corach: OK, agora sabemos que não podemos evitar o mundo material. Pelo contrário, devemos nos engajar nele e transformá-lo. Não podemos escapar para a espiritualidade. Dentro do universo material está embebida a mais profunda energia espiritual e o nível mais alto da Essência Divina. Na verdade, o Próprio D'us desejava um lar neste mundo.
Então como podemos explorar a “carne” e toda a matéria física e liberar essa poderosa energia Divina? Que opções temos? Vamos ver: Não podemos permanecer trancados e isolados em sinagogas e outros oásis espirituais. Não podemos confiar somente na prece a D'us. Ele insistiu para que entremos no universo e usemos nossas próprias faculdades. O que mais resta a fazer?
Devemos – gostemos ou não – mergulhar no mundo material e dar a ele tudo que obtemos.
Portanto Corach argumentou: “Por que vocês – Moshê e Aharon – se elevaram acima de todo o restante de nós? A nação inteira não é sagrada? Cada um de nós não é capaz de acessar D'us e nossa própria espiritualidade interior para conectar-se com D'us?
Argumento forte aqui, Sr. Corach. Corach simplesmente criou uma conclusão lógica dos eventos que ele testemunhou. Se D'us tivesse dito ao povo – ‘não, vocês não podem ter carne,’ ou se D'us tivesse em alguma maneira reconhecido que os observadores tinham razão quando argumentaram que não podemos entrar numa ‘terra que consome seus habitantes’, então Corach não teria levantado este caso. Mas Corach viu claramente que D'us deseja que mergulhemos no mundo material portanto ele planejou o próximo passo lógico, ou seja: Podemos e devemos seguir a ordem de D'us e assumir na vida, porque temos todo o poder para fazê-lo. O argumento exatamente oposto ao dos espiões.
O simples fato de que você exerce liderança – Corach argumenta com Moshê – demonstra que nem toda pessoa tem a santidade necessária e poder para transformar o universo. O que vai contra os eventos que acabamos de experimentar com a ‘carne’ e as histórias dos espiões.
Qual foi o erro de Corach?
Sim, precisamos de carne, precisamos do mundo material. Ahh, mas a carne tem de vir de Moshê. E Atzilut não significa que os mundos inferiores (todo o caminho para o estágio mais baixo de Asiyá, ação) são Divinos. Isso significa que os mundos mais baixos poderiam se tornar Divinos se eles permitissem que a Atzilut conectasse eles ao Divino.
O que aparentemente ele não ouviu perto o suficiente foi a consequência de se entregar ao consumo de carne, o que por fim terminou asfixiando seus próprios consumidores. Ou talvez Coracb sentiu que ele “sabia” como superar o desafio.
Ele também perdeu o ponto de Caleb e Yehoshua, que não foram seduzidos pelos argumentos dos espiões porque eles estavam conectados com o alto – com Moshê e D'us .
Isso explica o estranho castigo de ser engolido pela terra. OK. Você pensa que pode conquistar uma “terra que consome seus habitantes” sem a conexão consciente de Atzilut. Aqui, olhe o que acontece a eles: a própria terra que você queria conquistar termina consumindo você, exatamente como os espiões haviam previsto. Os espiões estavam errados porque em vez de acreditar na promessa de D'us, eles escolheram questionar toda a premissa de conquistar o material, e eles encolheram com medo da perspectiva. Mas Corach estava igualmente errado porque ele era arrogante em sua confiança de ser capaz de enfrentar o mundo sem a conexão com um Rebe, para Azilut.
E na verdade, desde o início de Bereshit, a terra foi dotada com esse poder e mensagem, como se sempre nos lembrasse: “D'us enviou você à terra para transformá-la numa morada Divina. Mas nunca, nunca esqueça as armadilhas da terra material, as dificuldades e crueldades da solidão existencial. Nunca se esqueça de quão vulnerável você é para a sedução de desejos materiais como resultado da ocultação de D'us sobre a terra. Não sucumba à ilusão prometida pelas tentações e prazeres deste mundo. Transforme isso, mas nunca, nunca se junte a isso. Desde o início dos tempos eu carregado dentro de mim – a terra nos diz – o poder de consumir você instantaneamente se você cometer esse grave erro.
Portanto, nessa sequência de eventos, Corach ilumina para nós outra dimensão de Atzilut e sua importância em nossas vidas. Atzilut serve como mediador entre céu e terra, entre o Divino e o humano. Os espiões erraram inclinando-se tão longe para o lado Divino e desconsiderando a dimensão “terrena” de Atzilut; Corach errou optando pelo “terreno” e perdendo o contato com o Divino, por fim resultando em ser consumido pela própria terra em que ele mergulhou.
O desafio de Corach é nosso próprio desafio hoje: a blindagem da nossa existência material nos farão perder de vista o Atzilut interior?
Este desafio é especialmente para pessoas lidando com Guimel Tamuz:
Guimel Tamuz será visto como um dia quando Atzilut foi desconectado de nós (D'us não o permita), ou vai nos desafiar a cavar mais fundo e encontrar Atzilut de maneiras mais profundas e novas.
A mensagem de Corach é que Atzilut nunca pode ser desconectado; somente nós nos tornamos desconectados, ou mais corretamente, nos percebemos como sendo desconectados, quando na verdade Atzilut está sempre conectado dentro de nós e nós dentro dele. Nosso desafio é reconhecer e admitir a conexão, e então revelá-la e agir sobre ela.
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