"Os líderes da rebelião ficaram perante Moshê com duzentos e cinquenta homens dos Filhos de Israel, líderes da congregação, aqueles convocados para a reunião, varões de renome" - Bamidbar 16:2.

Finja que você é um dos duzentos e cinquenta homens que estavam lutando por "direitos iguais" sob o comando de Côrach. Como estes homens eram líderes judeus, pode-se presumir que eram pessoas inteligentes; a maioria dos líderes da história o foi. Portanto, coloque-se no lugar deles. Côrach vem até você e o convida a juntar-se a uma rebelião contra Moshê e os Cohanim. Você provavelmente perguntaria: "Estamos lutando contra o quê?" A resposta seria: "Não é justo que os Cohanim sejam os únicos a realizar o serviço de D'us no Mishcan. Creio que todos deveriam ter permissão de participar."

Caso eu fosse um daqueles homens inteligentes, diria: "Côrach, você teve uma ideia brilhante, mas creio que deixarei você rebelar-se e, se e quando você vencer, ficarei feliz em realizar o serviço junto com os outros. Afinal, D'us disse que qualquer não-cohen que realize o serviço morrerá, portanto, por que eu deveria arriscar-me?"

De forma notável, todos eles concordaram em participar da rebelião e realizar o serviço proibido, e todos morreram. O que levou pessoas tão inteligentes a fazer algo tão insensato?

Além disso, parece que a porção desta semana da Torá sai um pouco de seu rumo para enfatizar a importância daquelas pessoas que se rebelaram contra Moshê. Se eles tivessem sido homens de reputação duvidosa, seria razoável a Torá nos dizer quem eram eles, num esforço para demonstrar que apenas os membros inferiores da nação ousavam rebelar-se. Entretanto, seria uma publicidade muito negativa para os judeus mencionarem eternamente que foram alguns de seus maiores líderes que pecaram. Por que a Torá passa ao mundo esta informação pejorativa sobre nossos ancestrais?

Para encontrar uma resposta à nossa pergunta, devemos primeiro entender a situação dos líderes do passado. Imagine que além de ter um altíssimo Q.I., você é extremamente rico. Após adquirir tudo aquilo que seu coração deseja, ainda lhe sobra uma soma respeitável. Você tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas não tem nenhum poder verdadeiro, então adquire uma companhia influente. Você se sente no topo do mundo, até que um dia liga a televisão e lá está, algo que você não tem - a presidência.

O sentimento de inveja começa a roê-lo lentamente por dentro, e você se torna terrivelmente deprimido. Percebendo que você não está bem, um de seus melhores amigos sugere que você candidate-se a presidente. Uma grande ideia, você pensa, mas após alguns meses de campanha, percebe que embora você possa ter o dinheiro para comprar alguns votos, não os terá em número suficiente para elegê-lo, portanto é forçado a desistir.

É exatamente contra este cenário que a Torá está nos advertindo. Côrach e seu grupo tinham tudo que poderiam desejar - riqueza, honra, prestígio - tudo exceto o direito de participar no serviço do Templo. Isso estava reservado para os Cohanim, e ninguém podia comprar aquele cargo.

Os rabinos em Pirkê Avot (Ética dos Pais 4:28) ensinam que "inveja, desejo e honra removem uma pessoa deste mundo." Faz sentido que estes líderes sentissem inveja dos Cohanim. Imagine como deve ter sido difícil verem os Cohanim fazendo o serviço no Templo, enquanto eles tinham de estar longe da área sagrada.

"Sinto muito, mas nenhum não-Cohen pode passar deste ponto," o guarda sempre dizia. O desejo de fazer o trabalho do Cohen e ter a honra reservada somente aos Cohanim certamente alimentou esta inveja. Assim, como o infeliz candidato à presidência, os seguidores de Côrach também tentaram conseguir o inatingível.

Agora podemos avaliar por que eles agiram, mas ainda não sabemos o que motivou pessoas tão inteligentes a ignorarem a verdade óbvia, que podiam estar jogando fora suas vidas, aparentemente sem muita reflexão. Talvez estes homens estivessem cegos. Não a perda física da visão, mas sim uma involuntária cegueira auto infligida. Muitas coisas podem cegar uma pessoa, mas precisa ser algo muito forte, como por exemplo a inveja, para impedir uma pessoa de ao menos perceber que foi cegada. A inveja é muitas vezes comparada a uma chama que queima as entranhas de alguém. Como uma pequena chama, a inveja devora a pessoa e rapidamente cresce até um fogo furiosamente incontrolável. É claro que estes homens não eram tolos. Na verdade, alguns eram até brilhantes, mas estavam cegos.