Ao final da Parashar Ha'azinu, D'us ordena a Moshê que suba ao Monte Nebo para ver a Terra de Israel e então morrer. D'us relembra a Moshê que por causa de seu pecado de bater na rocha, não terá permissão de entrar na Terra Prometida. Assim, D'us declara: "Devido ao fato de que não Me santificaste na presença dos Filhos de Israel [não podes entrar na terra]" (Devarim 32:51). A implicação do versículo é que o pecado de Moshê com a rocha foi a oportunidade perdida de santificar D'us.

Rashi explica o versículo da seguinte maneira: D'us havia ordenado a Moshê para falar com a pedra, para que ela desse água. Em vez disso, Moshê bateu na pedra duas vezes. Se Moshê tivesse falado com a rocha, como lhe fora ordenado, e a água tivesse emergido, o povo judeu teria aprendido uma importante lição. Se uma pedra, que não está sujeita a nenhuma recompensa ou punição, obedece as ordens de D'us, certamente nós, que estamos sujeitos a recompensa e castigo, devemos obedecer a vontade de D'us. Se Moshê tivesse falado com a pedra, D'us teria sido santificado e elevado aos olhos da humanidade.

É interessante notar que este não é o primeiro lugar em que Rashi interpreta esta oportunidade perdida para "santificação". Quando o incidente com a pedra realmente ocorre e é registrado na Torá em Parashat Chukat, D'us diz a Moshê e Aharon: "Como vocês não confiaram em Mim para santificar-Me perante os olhos dos Filhos de Israel, então não deverão trazer esta congregação à terra que Eu lhes concedi" (Bamidbar 20:12). Lá, também, Rashi explica a "santificação" perdida, mas em termos ligeiramente diferentes. Rashi declara que se Moshê tivesse falado com a pedra, fazendo-a produzir água, o povo judeu teria dito que, se esta rocha, que não fala nem ouve e não precisa de sustento, cumpre a palavra de D'us, certamente nós que falamos e ouvimos e precisamos de sustento, deveríamos cumprir a Divina palavra.

À primeira vista, Rashi parece dizer basicamente a mesma coisa nos dois lugares, apesar da sutil mudança. Entretanto, após estudar seu comentário no original, tem-se a forte impressão de que Rashi é muito preciso em sua escolha ddas palavras. De fato, pode-se encontrar muitos exemplos ao longo do comentário de Rashi, onde em dois lugares bem distantes ele interpreta um conceito em especial usando a frase idêntica. Dessa maneira, é completamente incomum encontrar tal discrepância – que na porção desta semana da Torá Rashi descreve a pedra como uma entidade que não está sujeita à recompensa e punição, enquanto que na Parashat Chukat Rashi refere-se à rocha como um ser que nem fala nem ouve, e não precisa de sustento.

A fim de resolver esta dificuldade, devemos analisar nosso próprio relacionamento com D'us. Entendemos que há mais de uma maneira na qual nos relacionamos com o Todo Poderoso. Ele é nosso Criador e o Provedor de nossa existência. Acima e além disso, Ele é nosso Juiz, que recompensa e castiga com base em nossas ações.

Agora podemos entender os dois comentários de rashi. Quando o evento ocorreu a princípio, Rashi está se referindo a D'us como o Criador e Provedor; dessa maneira ele enfatiza que nós, que precisamos nos voltar para D'us até para as próprias habilidades de falar, ouvir e receber o sustento, deveríamos seguir a palavra de D-us. Afinal, Ele nos deu tudo que temos e tudo que somos. Na porção desta semana, entretanto, Rashi explica que a lição pode ser entendida em nível diferente – percebendo que D'us é nosso Juiz. Somos recompensados e punidos por Ele por nossas ações, e sendo assim devemos dar ouvidos às Suas diretivas.

O Talmud declara que o Homem foi criado e julgado em Rosh Hashaná, o Dia do Julgamento. O Talmud declara também que durante os Dez Dias de Arrependimento entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, D'us está mais facilmente disponível para que nos relacionemos com Ele. Que aproveitemos a oportunidade para nos aproximarmos de nosso Criador e Juiz, para sermos inspirados em nossas ações e dessa maneira santificá-Lo.