Quando o Rebe Anterior, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, chegou à idade apropriada de casar-se, teve de escolher entre várias noivas possíveis. Uma das sugeridas era a jovem Rebetsin Nechama Dina, filha de Rabi Avraham Schneerson de Kishnev, filho do Rebe de Nezhin. O pai do noivo em potencial, o Rebe Rashab [Rabi Shalom Dovber, quinto Rebe de Chabad], era favorável a esse enlace (que terminou por acontecer), mas a avó do noivo, Rebetsin Rivka, tinha outros planos.

O Rebe Rashab disse para sua mãe: "Sigamos o conselho da Torá, e pergunte ao próprio rapaz o que ele deseja fazer." Chamaram o jovem Yossef Yitschac, deram-lhe os nomes de todas as pretendentes e disseram-lhe para tomar a decisão por si mesmo.

O Rebe Anterior replicou: "Quando Avraham procurou uma esposa para seu filho Yitschac, enviou seu servo Eliezer à casa de seus próprios parentes para encontrar um par adequado, dizendo: "Você deverá ir à casa de meu pai e de meus parentes, e escolher uma esposa para meu filho." Evidentemente, Yossef Yitschac tinha decidido desposar sua prima distante, Nechama Dina.

Ora, naqueles tempos, o costume de Rebetsin Rivka era distribuir bolos de mel a todas as pessoas da comunidade na véspera de Yom Kipur. Seu filho, o Rebe Rashab, seria o primeiro a receber um pedaço, e em seguida todos os chassidim e pessoas da cidade passariam diante dela para ganhar um pedaço de bolo e suas bênçãos para um ano bom e doce.

Naquele ano, durante o qual o casamento entre o Rebe Anterior e Nechama Dina foi acertado, o Rebe Rashab foi até sua mãe como de costume para receber o bolo de mel antes de Yom Kipur. Naquela ocasião, no entanto, ele pediu perdão a ela, pois o arranjo não fora feito segundo os seus desejos.

Rebetsin Rivka respondeu com a seguinte história:

Houve certa vez um judeu que vivia numa aldeia isolada com poucos vizinhos judeus, que desejavam passar Yom Kipur numa cidade próxima a fim de rezarem adequadamente com um minyan. Muitas dessas famílias judias isoladas mudavam-se antes das Grandes Festas para que pudessem celebrar juntamente com seus irmãos. O homem informou à esposa e à família que fariam a viagem até a cidade no dia anterior a Yom Kipur, e pediu-lhes que se aprontassem para a viagem.

Quando chegou a hora de partir, porém, apenas um deles estava pronto. O restante da família ainda não terminara de fazer as malas e tomar providências para a viagem.

Ele tentou apressá-los, pois era erev Yom Kipur, mas ficou óbvio que não conseguiriam sair por algum tempo. O homem, portanto, sugeriu que ele começaria sozinho a viagem, caminhando lentamente, para que eles pudessem alcançá-lo mais tarde. A família inteira se encontraria debaixo de uma árvore específica e, juntos, continuariam a jornada.

O pai saiu sozinho e logo chegou ao local onde deveriam encontrar-se. Cansado pela longa caminhada (e pelos drinques que emborcara naquela manhã), decidiu descansar à sombra convidativa da árvore. Deitando-se num canto confortável, não visível da estrada principal, o homem logo adormeceu e assim ficou por muitas horas.

Enquanto isso, os outros membros da família estavam se apressando, tentando chegar à cidade antes do pôr-do-sol. Quando chegaram à arvore junto da qual o pai estava dormindo, já tinham se esquecido do combinado e passaram direto por ele.

Ao final da tarde, o homem acordou de sua soneca. Notando o avanço das sombras, percebeu que jamais conseguiria chegar à cidade antes que escurecesse, e também não seria capaz de voltar para casa sem transgredir o dia mais sagrado do ano. Teria de passar Yom Kipur ali onde estava, no meio do nada, a céu aberto.

Erguendo os olhos para o céu, o homem clamou: "Mestre do Universo! Meus filhos se esqueceram completamente de mim! Eu os perdôo; agora deves perdoar Teus filhos que se esqueceram de Ti!"

Rebetsin Rivka terminou sua história com as seguintes palavras endereçadas a seu filho, o Rebe Rashab: "Possa D’us perdoar-nos da mesma maneira que eu o perdoei."