Famoso cabalista, escritor e compositor. É fundador do Gal Einai Institute em Israel.
A cura óbvia para uma auto-estima arruinada é redobrar os esforços para espiritualizar a própria vida e realinhar sua consciência com sua alma Divina. A chave para o aperfeiçoamento do caráter é reconhecer a própria inferioridade existencial. Para ter certeza, a base de todo o serviço Divino é o reconhecimento do próprio valor intrínseco. Todo judeu possui uma alma Divina singular, completa, com uma série das mais sublimes e nobres habilidades de intelecto e emoção, e este fato em si o dota com um potencial e valor inestimáveis. No entanto, a grandeza acarreta grandes expectativas, e assim a própria conscientização de nosso notável valor paradoxalmente nos torna dolorosamente conscientes do quanto a traímos.
De fato, quanto mais a pessoa se sintoniza e avalia a nobreza de sua alma Divina, mais decai sua auto-estima quando avaliada contra o registro de sua fidelidade a ela.
O Rei David resume esta humildade. Quando punido por sua esposa, Michal, por aparentemente aviltar o ofício de rei dançando publicamente perante a Arca da Aliança, ele declarou: "Eu sou [e sempre serei] inferior a meus próprios olhos" (Samuel II 6:22).
O constrangimento essencial de alguém perante D'us é que a vasta maioria dos pensamentos e sensações na vida são carentes da Divina consciência. A fé judaica afirma que "não há espaço sem Ele" (Tikunei Zohar 57 [91b]), "sendo que "espaço" não significa apenas espaço físico, mas também espaço psicológico (Sod Hashem Lireiav, cap. 3).
Todo pensamento e sensação ocupam espaço na consciência da pessoa. Nosso propósito na terra é preencher tal espaço com a conscientização da onipresença de D'us. Quando deixamos de fazê-lo, ficamos perante D'us como um recipiente vazio de Divindade, e portanto repleto de vergonha, pois assim como a natureza abomina um vácuo, a mente não pode permanecer vazia. Se não é preenchida com pensamentos sagrados, ficará - por omissão - repleta de pensamentos profanos.
Quando a pessoa está consciente da própria inferioridade, não faz mais exigências aos outros, nem espera receber coisa alguma deles; sabe que não merece "nada". Isso se aplica também ao relacionamento da pessoa com D'us.
Na mesma medida que alguém cultiva a verdadeira humildade, considerará toda a infinita bondade que D'us lhe demonstra no decorrer da vida como não sendo merecida (como está declarado em Tehilim 16"2): "Tu não me deves a bondade que eu recebo").
A fúria e a depressão resultam da frustração gerada pela crença que realmente se merece algo melhor neste mundo, e seu direito presumido de gratificação está sendo infringido. Atitudes corretas, em contraste, possibilitam que a pessoa seja sincera e continuamente feliz e otimista.Esta humildade também foi exemplificada pelo Patriarca Yaacov. Quando ele estava para enfrentar seu irmão Essav após ter fugido dele por trinta e quatro anos, rezou a D'us pedindo proteção, dizendo: "Tenho sido humilhado por toda a amorosa bondade e verdade que Tu tens feito para Teu servo" (Bereshit 32:11).
Ele sentia que, quaisquer que fossem os méritos que poderia ter possuído, já teriam mais que se exaurido pela bondade infinita que D'us tinha lhe concedido até então.
A Torá declara que esta atitude é um traço dominante do povo judeu: quanto mais bondade recebe, mais humilde se torna. No comentário de Rashi sobre a Escritura, ele explica: "'Vocês são o mais inferior de todos os povos' (Devarim 7:7) por vocês [pela sua própria natureza] estão continuamente se depreciando, como fez Avraham ao dizer: 'Pois eu sou poeira e cinzas' (Bereshit 28:27), e como disseram Moshê e Aharon: 'O que somos nós?' (Shemot 16:7)."
Em contraste, uma má característica é quando o sucesso engrandece o ego, pois este conceito auto-exaltador convence a pessoa que todas suas realizações e fortuna devem-se a seus próprios esforços e méritos (Tanya, Iguêret HaKôdesh, capi. 2).
De modo contrário, quando acontecem coisas más, a pessoa humilde imediatamente assumirá a responsabilidade, presumindo que D'us a está fazendo sofrer a fim de efetuar a expiação (Tanya, Iguêret HaTeshuvá, capi, 11).
Lançar todas as exigências da pessoa sobre D'us e o homem, enquanto também aceita a responsabilidade pelo infortúnio pode poupar a alguém a dor de ser ferido ou ofendido na vida. A fúria e a depressão resultam da frustração gerada pela crença que realmente se merece algo melhor neste mundo, e seu direito presumido de gratificação está sendo infringido. Atitudes corretas, em contraste, possibilitam que a pessoa seja sincera e continuamente feliz e otimista.
A humildade que acabamos de descrever contrasta completamente com os tristemente comuns abismos psicológicos da autodesvalorização, e baixa auto-estima. Estes resultam da dessensibilização à espiritualidade, na qual alguém perde sua conexão ou identidade com sua alma Divina ou permite que se torne enfraquecida. Quando menos a pessoa se identifica com sua alma Divina, mais se concentra em sua natureza animal, que ele corretamente entende como um complexo labirinto de ânsias e desejos básicos. Quando isso acontece, uma depressão profunda e subjacente justifica sua consciência e inevitavelmente lhe traz um sutil senso de desespero para com a vida cotidiana; um desespero que pode às vezes aflorar e se manifestar de diversas maneiras. A cura óbvia para uma auto-estima arruinada, portanto, é simplesmente redobrar os esforços para espiritualizar a própria vida e realinhar sua consciência com sua alma Divina.
O cultivo da auto-estima adequada, equilibrado com a correta humildade sob o ponto de vista da Torá, é um dos principais desafios que os pais enfrentam ao criar e educar seus filhos. Numa escala menor (porém não menos importante), amigos, parceiros comerciais e, evidentemente, cônjuges, podem também minar ou reforçar a auto-imagem positiva e adequada, bem como o senso de humildade da pessoa. Tendo em vista a importância da humildade nos relacionamentos da pessoa, tanto com o próximo como em relação a D'us, é claramente essencial cultivá-la continuamente.
A respeito do casamento: Quando existe conflito entre marido e mulher, cada qual deveria considerar-se a causa primária da dificuldade, como foi dito acima. Se isso não basta para resolver o problema, o próximo pensamento da pessoa deveria ser: "O que me faz pensar que eu, por direito, mereço ser tratado de modo melhor que esse?" A pessoa deveria se lembrar que tudo que é seu, foi um presente que nada fez para merecer, concedido por D'us. Isso inclui também o cônjuge e os filhos, juntamente com suas possessões materiais e espirituais.
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