O Guet
A Torá não exige que um casal que não se entenda permaneça atado um ao outro até o fim de suas vidas. Mesmo assim, nossos sábios, os mais humildes e pacientes dos homens, toleravam esposas geniosas e irritantes, como nos ilustram os casos a seguir:
A esposa de Rav causava-lhe constantes aborrecimentos. Quando ele lhe pedia que cozinhasse lentilhas, ela cozinhava ervilhas, e vice-versa.
Quando seu filho, Chiya, cresceu e começou a levar mensagens de seu pai para sua mãe, compreendeu que deveria invertê-las, para que seu pai recebesse o prato que realmente queria. Rav comentou com seu filho: "Sua mãe melhorou."
"Ela melhorou porque sempre lhe digo o contrário do que você pede," elucidou o garoto.
Apesar de admitir que foi uma ótima idéia, Rav proibiu seu filho de continuar a trocar as instruções. "Ninguém deve acostumar-se a mentir," explicou.
Não obstante a esposa de Rabi Chiya causar-lhe muitos aborrecimentos, ele mesmo assim levava-lhe presentes. Quando Rav indagou a seu filho, Rabi Chiya, o porquê, ele retrucou:
"Ficamos satisfeitos por nossas esposas educarem nossos filhos, e nos salvarem de pensamentos pecaminosos."
Podemos perceber o quão importantes e vitais são a paciência e autocontrole para manter a harmonia no lar (shalom bayit).
Contudo, se um divórcio é inevitável, a Torá ordena um judeu a dar o guet, um documento de divórcio, à sua esposa. Assim como um casamento judaico tem status legal somente se forem realizadas as cerimônias de chupá e kidushin, também um divórcio requer um guet, um documento cujo texto exato envolve muitos detalhes. Qualquer discrepância nas exigências haláchicas no tocante às palavras ou ao estilo invalida o guet.
Se um guet está haláchicamente inválido, a esposa "divorciada" continua a manter seu status de mulher casada. Casar-se com outro marido constitui adultério, e uma criança que nasça deste matrimônio é um mamzer (proibido de se casar com um judeu nato). A fim de evitar danos irreparáveis para as futuras gerações, é de vital importância entrar em contato com um rabino ortodoxo perito em administrar um guet de acordo com a halachá, para que o guet seja válido.
Se o rabino não souber todo o procedimento do divórcio, ele deve indicar ao casal uma autoridade haláchica competente, caso contrário, são inválidos, de acordo com a lei da Torá, e causam tragédias irreparáveis.
O guet protege a santidade do casamento (similarmente ao kidushin, a cerimônia de casamento realizada em público e perante testemunhas). Os diversos detalhes haláchicos de como escrever um guet também impedem que o marido queira, num ímpeto, "divorciar-se" de sua esposa quando, digamos, ele estiver de mau humor.
Se um judeu divorcia-se de sua esposa e esta casa-se novamente, a Torá proíbe que seu primeiro marido case-se de novo com ela, mesmo após a morte do segundo marido, ou se ela divorciou-se dele. Esta proibição impede a possibilidade de trocas previamente combinadas de esposas, sob o manto protetor da legalidade.
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