Em uma recente visita à Israel, minha esposa e eu viajamos por antigos locais de nossa nação. Começamos, é claro, onde todo judeu começa – o Muro das Lamentações. Passeando pela ampla calçada, sentimos a emoção do lugar sagrado. Imaginamos a muralha em seus dias de glória, nossos ancestrais caminhando pelas veredas herodianas; seus passos ecoam em nossos ouvidos. Esta é uma experiência emocionante, mas estamos determinados a ver mais.
Visitamos as escavações do Muro e as ruínas com antigas pedras que foram destruídas. A cena dessas pedras, umas sobre as outras destroçadas, evocam imagens de legiões romanas saqueadoras, atacando furiosamente as paredes do Templo Sagrado, derrubando-as de uma altura de quase cinquenta metros, quando destruíram o Templo Sagrado cerca de dois mil anos atrás.
Pisamos por antigos caminhos, subimos os degraus originais de pedra e paramos nos antigos portões do Templo. Visualizamos nossos ancestrais entrando por esses portões imponentes em sua peregrinação durante as três grandes festas. Exploramos enormes cisternas de água construídas pelos Hashmoneanos após seu triunfo sobre os gregos sírios em 140 antes da era comum. Visitamos mikvaot esculpidas na rocha; nossos ancestrais se banhavam nessas piscinas já em 420 anos antes da era comum, durante o período do Primeiro Templo.
Refazendo os passos da história judaica, retrocedemos mais alguns séculos e exploramos um antigo túnel de água construído pelo rei Ezequias em 701 antes da era comum para proteger o abastecimento de água de Jerusalém diante de um cerco assírio iminente. Esse túnel foi notável por ter sido escavado em poucos meses por duas equipes, uma começando em cada extremidade, que se encontraram no meio- sem o benefício de sinais de rádio ou satélite.
Continuamos nossa jornada e retrocedemos ainda mais para visitar a Cidade do Rei David. David conquistou esta cidade em 1003 antes da era comum e posteriormente construiu seu castelo neste local. Este sítio fatídico é o berço da nossa nação. Neste palácio, todas as doze tribos se reuniam para entregar sua autonomia e se unir, pela primeira vez, em uma única nação. Estamos intimidados por estar no sopé da história judaica, mas não estamos satisfeitos. Ainda há mais para explorar.
Viajamos ao norte de Jerusalém e voltamos ainda mais no tempo para uma cidade chamada Shiló, o local onde Yoshua estabeleceu o Tabernáculo em 1280 AEC.
O Tabernáculo e a Arca Sagrada permaneceram neste lugar sagrado por 369 anos. De pé no topo da colina, imaginamos a bela Hanna, mãe do profeta Shmuel, rezando para ter um filho. Subimos as mesmas montanhas que um mensageiro escalou para relatar a Eli, o Sumo Sacerdote, de que a Arca Sagrada havia sido levada cativa pelos filisteus. Recolhemos antigos cacos de cerâmica que talvez tenham sido usados por parentes do nosso passado na oferenda do Corban Pêssach, Cordeiro Pascal. Estamos sobre as ruínas das muralhas que Yoshua escalou quando conquistou esta cidade há quase 3.300 anos. Os fragmentos e pedras contam uma história de séculos e milênios passados. O judaísmo ganha vida sob nossos passos. Contos antigos de livros didáticos assumem a vibração dinâmica da vida. Estamos hipnotizados, assustados, mas ainda não satisfeitos. Ainda há mais para ver.
Continuamos nossa jornada de volta através dos tempos e ao sul de Jerusalém até Hebron, lar de Avraham, o primeiro judeu, que se estabeleceu aqui logo após sua chegada à Terra Santa há 3.745 anos. Este é o lugar onde D'us apareceu a Avraham. Este é o local onde a aliança da circuncisão foi realizada. Foi aqui que o monoteísmo explodiu na consciência mundial. Onde nasceu o judaísmo.
Estamos no mesmo terreno onde Avraham armou sua tenda e consagrou a ética da hospitalidade judaica. Caminhamos pelas trilhas que Sarah percorreu enquanto ensinava seus alunos e criava seu filho. Visitamos as fontes que serviram a Avraham, segundo relatos, como banho ritual.
Aqui visitamos a Mearat Ha (a caverna de) Machpelá, o santuário que o Zohar chama de "a porta de entrada para o céu". Aqui visitamos os túmulos de Adam e Chava. Aqui rezamos nos túmulos de nossos patriarcas e matriarcas. Aqui também encontramos uma fusão da história antiga e da vida judaica contemporânea. Quando saímos da Sinagoga Avraham Avinu, vemos uma placa: Beit Chabad. Sim! Apenas 86 famílias judias vivem em Hebron mas todas recebem o apoio de Chabad instalado ali.
Encontrei-me com o rabino Danny Cohen, rabino do Beit Chabad de Hebron e aprendi um novo fato histórico atribuído a Hebron. Uma história que tem profunda ressonância em mim como chassid de Chabad.
Comprada pelo Rebe
O rabino Danny me contou que o Beit Chabad é construída na terra também conhecida como a Sinagoga Ashkenazi de Avraham Avinu. Esta terra foi adquirida pelo rabino DovBer (1773-1827), o Segundo Lubavitcher Rebe. Este foi o primeiro de uma série de propriedades compradas por Chabad ao longo dos anos. Uma base militar próxima fica em uma propriedade comprada pelo rabino Yossef Yitzchak Schneersohn, (1880–1950), o Sexto Lubavitcher Rebe. A "Casa Romana", um amplo edifício que atualmente abriga uma Academia Rabínica, foi comprada pelo rabino Sholom DovBer (1860–1920), o Quinto Lubavitcher Rebe. De acordo com Rabi Cohen, quase todos os Rebes da dinastia Chabad compraram propriedades em Hebron em nome da comunidade Chabad. Muitas dessas propriedades estão localizadas no que é hoje a seção árabe de Hebron e, portanto, são, em sua maioria, inacessíveis aos judeus.
O rabino Cohen trabalha diligentemente para recuperar as propriedades Chabad em Hebron. Uma biblioteca, recentemente doada pelo Chabad de Hebron e estabelecida no piso térreo da Casa Romana, apresenta uma lista de muitas propriedades de Chabad em toda a cidade. A biblioteca também abriga documentos e artefatos da história Chabad em Hebron.
Chabad em Hebron
Essa história remonta à primeira onda de emigração chassídica da Rússia no início do século dezenove. Muitos dos primeiros imigrantes se estabeleceram em Hebron. Embora as circunstâncias tenham forçado muitos a deixar Hebron, a conexão com a cidade atraiu muitos mais. Por muitos anos, Hebron foi a sede da comunidade Chabad em Israel. Rabi Shneur Zalman de Liadi (1745-1812), o fundador e primeiro Rebe Chabad, criou o fundo de caridade "Colel Chabad" (que existe e opera até hoje) para apoiar os judeus em Israel. O rabino Schneur Zalman, assim como seus sucessores, enviava regularmente fundos a Israel para serem distribuídos entre os pobres e necessitados. Esses fundos, arrecadados pelos chassidim na Rússia, foram enviados à Terra Santa e distribuídos por toda a terra.
Os opositores ao chassidismo alegaram que os fundos foram enviados a Israel, uma província do império otomano, em um esforço clandestino para apoiar uma invasão turca da Rússia. O rabino Schneur Zalman foi encarcerado no outono de 1798 e julgado por traição, mas foi considerado inocente e exonerado. No dia 19 do mês judaico de Kislev, o dia de sua libertação da prisão, o Rebe foi informado do nascimento de sua neta, Menucha Rachel. É justo que Menucha Rachel e seu marido, Rabi Yaakov Slonim, tenham emigrado para Israel em 1845 para liderar a comunidade chassídica de Hebron. Seu avô foi preso por enviar fundos para Hebron, e sua neta, nascida no dia de sua libertação, emigrou para Hebron para promover a causa de seu avô.
Um grande edifício no centro da comunidade judaica de Hebron leva o nome de Bet Schneerson ("Casa Schneerson"). Como o próprio nome indica, este edifício serviu de sede para a comunidade Chabad de Hebron e, por extensão, toda a comunidade Chabad de Israel. Uma placa na entrada do prédio atesta que a ilustre Menucha Rachel e seu marido Rabi Slonim residiam neste prédio.
Menucha Rachel era reverenciada por seus vizinhos judeus e árabes por sua piedade e sabedoria. Acreditava-se que ela era dotada de poderes espirituais únicos, e os hebronitas buscavam regularmente sua bênção, conselho e orientação. Por trinta e cinco anos, a rebetsin serviu como matriarca da comunidade chassídica de Hebron e, quando faleceu aos noventa anos, foi enterrada no cemitério Chabad de Hebron. O acesso ao seu local de sepultamento foi restringido aos judeus por muitas décadas, mas através dos esforços incansáveis do rabino Cohen, foi recentemente tornado acessível aos judeus. Um seminário rabínico foi estabelecido ao lado de seu túmulo, onde os alunos recebem uma bolsa para se dedicarem ao estudo diário. Os esforços para reformar um prédio antigo no local estão quase completos. As instalações recém-renovadas servirão ao Seminário Rabínico, bem como às pessoas que visitam o túmulo da ilustre rebetsin.
Trabalhando com os Soldados
O Beit Chabad de Hebron é o único por servir a uma comunidade de judeus profundamente observantes. Viver em Hebron é repleto de tensão e muitas vezes exposição a perigos físicos. Os residentes judeus de Hebron são altamente motivados em sua ideologia e profundamente comprometidos com seu judaísmo. São pessoas de profunda fé e alegre observância. Eles vivem o judaísmo com entusiasmo, respiram o idealismo.
O que então Chabad oferece a esta comunidade judaica excepcional?
O rabino Cohen me forneceu a resposta que eu buscava em apenas duas palavras simples: os soldados.
Hebron é guardada por centenas de soldados que circulam pela cidade em quatro meses de serviço. A comunidade judaica de Hebron tem excelentes relações com os soldados. Chabad fornece comida e bebida, amizade e hospitalidade. Rabino e Rebetsin Cohen dão um passo a mais
Antes do Shabat e das festas judaicas, os Cohen dirigem seus carros por postos de controle do exército, barreiras rodoviárias e bairros hostis para visitar soldados em postos remotos. Os soldados adoram essas visitas e as aproveitam ao máximo. Os Cohens levam música judaica e os soldados se reunem para cantar e dançar. Eles fornecem aos soldados velas e iguarias de Shabat. Eles conduzem aulas de Torá com soldados, que muitas vezes significam seu primeiro contato com o judaísmo. Eles trazem tefilin e oferecem aos soldados, o que muitas vezes é a primeira oportunidade, de colocá-los.
Em uma parceria única com Chabad de Lyon, França, os Cohens se comprometeram a fornecer um par de tefilin gratuitamente a cada soldado que se comprometer a usá-los todos os dias. Os tefilin são fornecidos pelo rabino Gurevich de Lyon e distribuídos pelos Cohens em Hebron.
Toda quinta-feira à tarde, Rebetsin Bat Sheva Cohen se envolve em um antigo ritual judaico que se originou com nossa Matriarca Sarah em Hebron. Nossos sábios ensinaram que Sarah assava chalot toda semana para sua família e convidados do Shabat. Nas tardes de quinta-feira, a Rebetsin Bat Sheva convida as mulheres soldados para participar da preparação da massa das chalot. Elas aprendem a cumprir a bela mitsvá de "separar chalá, a arte milenar de trançar a e assar as chalot. Elas podem levar a sua chalá de volta à base ou retornar ao Beit Chabad na noite de sexta-feira para jantar com a família Cohen.
Para muitos desses soldados é a primeira vez que participam de um Shabat em suas vidas. Toda as sexta-feiras à noite, os Cohens hospedam mais de quarenta soldados em seu terraço com vista para a cúpula da Sinagoga Avraham Avinu. A mídia retrata Hebron como um ponto muito sensível de confrontos entre o terrorismo árabe e a expansão dos assentamentos, mas se observar os Cohens em seu terraço de sexta à noite e você provavelmente ouvirá cantos alegres, brincadeiras amigáveis e palavras profundas de Torá.
Você pode sentir a amizade entre rabino e soldado. Dirigindo pelas ruas de Hebron, Rabi Cohen diminui a velocidade e abaixa a janela. O soldado, de guarda, caminha até o carro e, com um largo sorriso, cumprimenta seu rabino. O soldado, faz parte de uma leva de novos recrutas para Hebron, conheceu o rabino apenas no fim de semana anterior, mas já estabeleceram uma relação de amizade.
"Você vem para o Shabat?", pergunta Cohen.
"Estarei de serviço", responde o soldado, "mas todos os meus amigos estão vindo."
"Precisamos marcar uma sessão de estudo", grita Cohen enquanto se afasta. O soldado sorri, acena e concorda com a cabeça. Mesmo quando ele retoma seu posto, os olhos do soldado permanecem no carro do rabino que se afasta.
Ativismo Comunitário
Chabad de Hebron também serve a comunidade judaica de toda a cidade de Hebron. Todo Shabat, os Cohens realizam um almoço aberto para toda a comunidade no túmulo de nossos patriarcas, a caverna de Machpelá. Os Cohen também estão na vanguarda da luta para manter e aumentar a presença judaica em Hebron, a segunda cidade mais sagrada de Israel. Eles trabalham ao lado da comunidade para promover a conscientização judaica de todo significado de Hebron. Eles recrutam grupos de todo o país para visitar Hebron para o Shabat e trabalham diligentemente para hospedar esses grupos no espírito pródigo de nosso primeiro patriarca Avraham.
Chabad também trabalha em estreita colaboração com a comunidade judaica de Hebron para recuperar propriedades abandonadas pelos judeus após os distúrbios árabes de 1929. Chabad é especialmente ativo na campanha para restaurar o acesso dos judeus aos locais sagrados de Hebron.
O famoso artista chassídico, Baruch Nachshon, foi o primeiro chassid Chabad a se estabelecer em Hebron e recebeu a bênção e forte apoio moral do Lubavitcher Rebe. Depois que seu primeiro filho nasceu em Hebron, ele realizou o brit milá no local onde se encontra os túmulos de nossos patriarcas. Isso foi especialmente evocativo, pois o próprio ritual da circuncisão foi iniciado por Avraham em Hebron. Naquela época, a tumba não era tão acessível ao visitante judeu como é hoje. Este serviço público é amplamente visto em Hebron como um catalisador que abriu o túmulo para o culto judaico.
O cemitério judaico de Hebron foi igualmente fechado para funerais e visitações judaicas. Em 1976, os Nachshons sofreram uma terrível perda com o falecimento inesperado de seu filho de dois anos. Sarah Nachshon, decidida a enterrar seu filho no cemitério judaico de Hebron, pediu permissão para enterrá-lo. Incapaz de negar uma mãe em luto, a permissão foi concedida extra-oficialmente e também Sarah, outra Sarah judia, rededicou o cemitério abandonado e profanado de Hebron.
Anos atrás, terroristas árabes mataram a tiros Shalhevet Pass, um bebê de 10 meses. Foi um tiro que foi ouvido em todo o mundo, provocando manifestações e debates. Hoje, um memorial fica no local onde Shalevet foi assassinado, mas as colinas de onde o tiro foi disparado guardam um símbolo ainda mais evocativo – uma Menorá de Chanucá.
Quando o exército israelense estabeleceu postos avançados nessas colinas, o rabino Cohen recebeu permissão para erguer uma Menorá gigante no ponto mais alto dessas colinas. Esta Menorá permanente vigia Hebron durante todo o ano e transmite uma mensagem de permanência judaica.
Durante Chanucá, a Festa das Luzes, a Menorá é acesa para todos verem. Ela transmite uma mensagem singular a quilômetros de distância. É um sinal de fé e esperança, de coragem e inspiração. Qualidades que qualquer pessoa deve ter se deseja viver em Hebron. Qualidades encontradas em abundância no Beit Chabad de Hebron.
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