Duas senhoras conversavam tomando um chá numa bela tarde.

"Bem, Esterzinha", perguntou uma delas. "Como estão o seu filho e sua filha?"

"Para dizer a verdade", respondeu a segunda senhora, "meu Daniel se casou com uma mulher que não presta para nada. Ela só sai da cama as onze. Ela está fora o dia todo gastando seu dinheiro não se sabe onde. Quando ele chega em casa exausto, pergunte se ela preparou um bom jantar quentinho para ele?! Ela faz com que ele a leve para jantar num restaurante caro."

"E a sua filha Rosa?"

"Ah! A Rosa se casou com um santo. Ele traz o seu café na cama para ela, ele lhe dá dinheiro para comprar tudo o que ela precisa, e à noite, ele a leva para jantar num ótimo restaurante."


Uma das coisas enigmáticas da Torá é, sem dúvida, a sua obsessão com sacrifícios de animais, que são descritos em pormenor na porção da Torá desta semana Vayicrá. Apesar de não entrar na questão amplamente debatida da moralidade por trás do abate animal, fica a pergunta: Por que a Torá, o plano divino para a vida, acha necessário dedicar centenas de seus versos com as leis de sacrifícios de animais? Como é que as muitas leis de sacrifícios de animais descritas na Torá servem como um roteiro para nossas jornadas pessoais na vida?

Toda lei e episódio registrados na Torá podem ser apreciados não só a partir de um ponto físico e concreto de vista, mas também por uma perspectiva metafísica.

As leis detalhadas de sacrifícios de animais não são exceção. Fisicamente, eles não se relacionam à nossa era presente, mas num nível psicológico e espiritual, essas leis referem-se a uma mensagem atemporal do desafio humano por crescimento.

Todo ser humano possui um animal na sua consciência. Esta dimensão da nossa identidade só busca sua auto-preservação e gratificação. O lado "animal" se pergunta, antes de cada encontro e antes de todo esforço, "o que tem de bom para mim?"

Em contraste tem outra dimensão mais profunda da identidade, uma consciência Divina, um desejo de transcender a si mesmo e se conectar com a verdade e realidade. É uma camada que nos permite amar de forma altruísta e buscar metas mais elevadas e idealistas na vida.

Esta dicotomia inerente à estrutura humana dá origem à luta perpétua existente na psique humana: o conflito entre egocentrismo e auto-transcendência, a disputa entre frivolidade e imoralidade e significado genuíno e espiritualidade.

De acordo com a Cabalá, a consciência Divina nasceu neste mundo com o único propósito de aperfeiçoar essa identidade animal interior e a elevar ao plano espiritual.

Cada alma recebeu "sob medida" uma consciência animal como sendo seu aluno especial para os anos que vão passar juntos na terra. A alma Divina tem a missão de educar e sublimar a alma animal, colocar na prática seus potenciais mais profundos. Ela deve tomar uma pedra bruta e transformá-la num diamante.

Quando a alma Divina não cumpe a sua tarefa de cultivar e educar o seu lado animal, o eu animal pode se tornar uma força perigosa. Ele não é inerentemente mau, mas sim meramente egoísta. No entanto, na sua busca incessante de auto-preservação e auto-aperfeiçoamento, ele pode se transformar num monstro, demolindo a si mesmo e outras pessoas no seu desejo bestial de auto-afirmação e gratificação. Um animal tão belo existente em nosso coração pode se transformar num animal selvagem não domesticado que é grosseiro, profano e destrutivo.

É por isso que a Torá é tão obcecada com oferendas de animais. Afinal, a nossa principal tarefa na vida é desafiar o nosso próprio animal interior a cada dia, aproximando-o de nosso ser superior, mais profundo e refinado.

Mas como atingir esse objetivo tão difícil?

Essa é a razão para as muitas leis e nuances relativas a oferendas de animais em toda a Torá. Não é uma tarefa fácil refinar o seu lado animal, e diferentes pessoas lutam com diferentes tipos e níveis de ‘animais’. Portanto, a Torá dedica centenas de versos sobre o assunto, orientando os seres humanos em seu caminho para confrontar e lidar com as diversas formas de animais existentes em sua psique.

Geralmente, a Torá afirma que todas as oferendas de animais devem seguir os seguintes quatro passos. Primeiro, você deve declarar verbalmente que está dedicando este animal para se tornar uma oferenda. Em segundo lugar, o animal é abatido, cortando tanto o seu esôfago e traqueia Em terceiro lugar, o sangue era aspergido sobre as paredes do altar situado no Templo Sagrado. Finalmente, as partes da gordura animal são removidos e queimadas com uma chama na parte superior do altar.

O que esses rituais representam no trabalho psicológico do homem sobre o seu lado animal?

O primeiro passo para lidar com o animal em você é a determinação e compromisso de mudar o status quo de sua vida e para desafiar a sua identidade animal.

Na próxima fase, você deve pegar o touro pelos chifres e exercer total controle sobre sua própria vida e identidade. Para realmente aperfeiçoar o seu animal, você tem que mostrar quem é que manda. Se você deixar o seu animal continuar a viver a sua própria vida, não há esperança para o seu refinamento genuíno.

Particularmente, você deve desafiar a maneira como o seu animal come e bebe, simbolizado pelo corte do tubo de alimentação, e do tipo de oxigênio que inala, simbolizada pela traqueia; tem de alterar tanto a atmosfera que o rodeia e o tipo de informação dada a ele. Na terceira etapa, você leva o sangue do seu animal e o asperge no altar. Isto significa o fato que você nunca deverá destruir o fervor e a paixão de sua alma animal. Em vez disso, você deve santificá-la para D'us Finalmente, você deve tirar a gordura e a queimar em cima do altar. Ela representa indulgência e obsessão com o prazer.

Portanto, para aqueles de nós que lutam com tais aspectos semelhantes a animais como a preguiça, raiva, egoísmo, dependência, apatia e desonestidade, as leis de oferendas de animais fornecem um plano escrito para encurralar esses impulsos, quebrando sua selvageria e convertendo-os para um uso Divino.