Nesta semana começamos um novo livro da Torá, o livro de Vaycrá que lida na sua maior parte com os sacrifícios, oferendas para D’us. É difícil entender por que D’us tem prazer nas nossas mitsvot e, em particular, com as oferendas de animais no Templo Sagrado.
Aqui está uma pergunta sobre essa questão:
Será que realmente importa para D’us o que nós fazemos aqui na Terra?
Resposta:
Como toda boa pergunta filosófica, a resposta é, “Sim, e não.” Ou, nesse caso específico, “Não, e sim.”
Por um lado, D’us mesmo declara na Torá, “Sou D’us, e não mudei.” (Malachi 3:6) Isso quer dizer que a Criação de nenhum modo modifica ou altera D’us. Por outro lado, vemos que D’us criou um mundo físico e nos deu mandamentos, chamados mitsvot, que inclui várias leis e rituais em todas as áreas éticas e morais de nossa vida. Parece então que importa muito a D’us o que fazemos aqui na Terra. Afinal de contas, se um mundo cheio de gente não quer dizer nada para D’us, então por que Ele teria criado um mundo assim?
As duas premissas estão corretas. Os ensinamentos da Chassidut ilustram essa ideia com a seguinte metáfora:
Um pai está brincando com seu filho de dois anos de idade. Se a criança perde no jogo, o pai fica triste, seu rosto fica todo enrugado e começa a chorar e soluçar.
Quando a criança ganha, o pai fica feliz, sorri, pula de alegria e bate palmas de felicidade.
Será que o pai realmente se importa se uma pequena peça de plástico é colocada no quadradinho da esquerda ou da direita de um tabuleiro? Não e sim. O ato de colocar a peçinha de plástico por si só não tem nenhum significado para ele. Mas o pai quer interagir com o filho – isto é, ele quer que seu filho o afete e seja afetado por ele ao mesmo tempo. Então ele cria esse jogo no qual os jogadores devem tentar alcançar certos resultados – no qual existem movimentos certos e errados, sucessos e fracassos. E para que o jogo funcione, o pai realmente mostra estar preocupado com os resultados (se fosse um envolvimento puramente mecânico, a criança também não se identificaria e não participaria do jogo).
Ele então investe e se coloca dentro do jogo, de fato ele se “condensa” (um processo que os Cabalistas chamam de tsimtsum) de modo que consiga entrar nos parâmetros do mundo da criança.
Então quando um pai franze o rosto ou comemora de felicidade, é real. Ele não está “fingindo”. Ele realmente se importa – não porque ele realmente se importe, mas porque ele realmente quer se importar.
Resumindo, vemos no livro de Yov as seguintes perguntas: “Se você pecar, como você afetará D’us? Se as tuas transgressões se multiplicarem, o que você provocará em D’us? Se você for uma pessoa justa, o que você proporcionará a D’us? O que Ele pode possivelmente receber de tuas mãos?”
Em palavras simples, não importa para D’us o que nós fazemos – não provocamos nenhum efeito nEle.
Por outro lado, certamente se Ele nos deu a Torá – um livro de instruções para cada passo de nossa vida, e valoriza quando nós cumprimos os seus mandamentos, então Ele realmente se importa com as nossas ações.
Concluindo, D’us não precisava de um mundo que seria aperfeiçoado pelo ser humano, mas Ele queria um mundo assim. Então D’us é afetado pelo o que fazemos, mas somente porque Ele quer ser afetado. Isso quer dizer que Ele não é realmente afetado. Mas numa visão mais profunda, significa que Ele é realmente afetado, porque Ele escolheu que assim seja, e Ele também escolheu que isso fosse real e sério.
No entanto, os mestres Chassidicos rapidamente apontam que essa metáfora do pai jogando com o filho não é verdadeiramente um paralelo para a nossa relação com D’us. Entender essa metáfora nos aproxima um pouco mais do que acontece entre D’us e Sua criação, mas além disso, a analogia não serve. Porque o pai da nossa metáfora é um ser que é afetado pelas coisas – assim como a criança. A diferença entre eles é simplesmente uma questão de nível. A criança se importa com uma bala; o pai não se importa com balas – ele se importa com coisas importantes, como um aumento em seu salário, por exemplo.
Então a condensação do pai é apenas superficial, não da sua essência. D’us, no entanto, é o Ser, Infinito, Perfeito, Completo. Ele não precisa de nada. Fazer com que Ele se importe com nossas ações não é uma ‘condensação’ de uma coisa grande para uma pequena, mas sim do Infinito para o Finito – para a qual não há nenhuma analogia ou experiência capaz de explicar ou entender.
No entanto, a metáfora da criança/pai nos introduz à ideia de “importar-se por opção”, nos aproximando um passo minúsculo para apreciar que D’us, apesar de ser acima de tudo, colocou importância verdadeira à nossa existência e às nossas ações.
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