Do livro “Once Upon a Chassid”
Vol. I, Michoel Green, Kehot, págs. 6-9

“Elul é o último mês do ano; mês de uma honesta avaliação de tudo o que ocorreu durante o ano. Cada um deve se arrepender sinceramente das ações insatisfatórias passadas, e decidir firmemente ser mais cuidadoso com o cumprimento dos mandamentos, o estudo da Torá, a prece e a refinação do caráter. Elul é o mês de preparação para receber o novo ano.
- Rabi Yossef Yitschak de Lubavitch, o Rebe anterior

Quando Rabi DovBer de Lubavitch tinha cinco anos, estudava sob a tutela de Reb Avraham, o melamed (professor). Já nessa tenra idade, a inteligência do futuro Rebe era evidente. De fato, já dominava o Tanach [toda a Escritura – acróstico de Torá (Pentateuco), Neviim (Profetas) e Ketuvim (Escrituras Sagradas)], e dentro em pouco principiaria a decorar trechos difíceis do Talmud. Todavia, DovBer era também uma criança alegre, que costumava brincar no pátio da casa do professor. Um dia de outono, uma brisa soprava, e Reb Avraham estava sentado na varanda diante de sua casa. Foi cumprimentado pelo médico do bairro, Reb Ber. No desenrolar da conversa, Reb Ber suspirou: “Ai de mim, já estamos em Elul e ainda não preparei as sanguessugas!”

Na época, os médicos costumavam tirar sangue por meio de sanguessugas e ventosas. Acreditava-se que esse tratamento livrasse o corpo de toxinas prejudiciais, e renovasse o sangue. As sanguessugas são encontradas em lagos e lagoas, e tinham de ser preparadas durante os meses quentes de verão. No tempo frio, as sanguessugas ficavam enterradas na lama, sendo assim praticamente impossível obtê-las.

O jovem DovBer assimilou todo o diálogo, enquanto brincava inocentemente no quintal. Depois das aulas diárias, a criança ia para casa, e muitas vezes passava pelo escritório do pai. Lá, na sala de espera, misturava-se aos chassidim. Costumava brincar com Reb Shmuel Munkes, de quem gostava muito.

Alguns dias depois daquele incidente, DovBer entrou na ante-sala e encontrou um grupo de chassidim conversando descontraídos. Quando eles começaram a contar piadas e rir, o menino de cinco anos repreendeu-os: “Já estamos no meio de Elul e vocês ainda nem começaram a preparar as sanguessugas. Em vez disso ficam aí contando piadas! As sanguessugas extraem o sangue doente e amenizam a inflamação,” explicou DovBer. “Do mesmo modo, Elul é o mês de preparação para Rosh Hashaná, quando temos de nos livrar dos elementos indesejáveis e aplacar os desejos revoltos do sangue.”

A reprimenda do menino causou forte influência nos ouvintes, que pensaram que a escutara de seu pai, Rabi Shneur Zalman de Liadi. A notícia se espalhou, até que chegou aos ouvidos do Rebe.

Rabi Shneur Zalman, satisfeito com a analogia do garoto, comentou: “Esse é o método do Báal Shem Tov. Cada assunto mundano tem seu paralelo na espiritualidade, e devemos procurar ver tudo por este prisma, melhorando, deste modo, o Serviço Divino. Para nós foi necessário muito esforço para chegar a esta consciência. Para nossos filhos, é algo que faz parte de sua própria natureza. Quem segue o caminho do Báal Shem Tov e vive por seu ideal,” concluiu o Rebe, “obterá inspiração profunda no Serviço Divino, para si e para as gerações futuras.”

Naquele Rosh Hashaná o chão da sinagoga ficou molhado de lágrimas, devido ao impacto que causaram as palavras penetrantes de DovBer. Em Simchat Torá, o mesmo chão ficou coberto de sapatos rasgados devido à alegria extasiante inspirada pela promessa de Rabi Shneur Zalman.