Havia um chassid que em determinada ocasião empreendeu uma longa viagem para encontrar o seu Rebe.
Após a troca de saudações, o chassid fez muitas perguntas ao Rebe abrindo seu coração e sua alma diante de seu mestre. E desabafou:
“Não consigo entender como nossos livros sagrados podem afirmar que em Israel vivem pessoas de almas sublimes. Conheço bem os judeus de Erets Israel e não consigo ver nada que os distingue dos judeus da diáspora.”
O Rebe respondeu: “Você realmente acredita que conhece e sabe diferenciar quais são os donos de grandes almas sublimes? Vou contar-lhe então uma história que ouvi de meu pai e poderá entender como os poderes de um modesto judeu em Israel são verdadeiramente grandiosos.”
Numa pequena aldeia, nas proximidades de Jerusalém, vivia um judeu, homem simples que não sabia ler, nem estudar e que desconhecia até a tradução de suas preces. Ele nem mesmo sabia o que devia pronunciar em determinados dias.
Este homem humilde costumava visitar Jerusalém uma vez por semana para vender frutas e legumes e nessas ocasiões aproximava-se de um dos rabinos da cidade para que este lhe marcasse as rezas apropriadas correspondentes a cada dia da semana.
Certa vez o rabino tentava lhe explicar uma regra geral do que deveria ou não ser pronunciado nos dias de semana, alterando apenas “o cântico do dia”, e os trechos correspondentes aos dias comuns e ao santo Shabat. Mas essa tentativa foi completamente inútil. O pobre homem ficou completamente confuso, sem conseguir se orientar em seu Sidur (livro de preces). O rabino então resolveu lhe fazer anotações do que deveria ser exatamente pronunciado durante aquela semana.
Este judeu retornou à cidade no mês de marcheshvan. Solicitou ao Rabino que fizesse anotações para a próxima semana; a lama nas estradas iria impedir seu retorno à Jerusalém, pois sob estas condições a viagem se tornava perigosa.
O Rabino atendeu a seu pedido marcando os locais das preces em seu sidur.
No entanto na semana seguinte, o camponês se viu obrigado a viajar a Jerusalém, apesar do mal tempo. Ao chegar à cidade sagrada percebeu com assombro que todas as lojas judaicas estavam fechadas. Permaneceu neste estado de choque acreditando ter errado e confundido o dia, tendo chegado dentro do Shabat.
Tentando acalmar-se e corrigir sua grave falha, ele permaneceu de pé ao lado de seu burro e aguardou um longo tempo. Até que percebeu um homem carregando seu Talit e Tefilin. Foi só então que deu um suspiro de alívio– agora estava seguro de que não era Shabat. Mas continuava intrigado e perplexo: porque este dia era diferente e as lojas permaneciam fechadas? Ninguém permanecia nas ruas, ou quase ninguém.
Aproximando-se de um judeu que passava tentou entender o que estava acontecendo. O homem lhe respondeu que era um dia de jejum para toda a comunidade e portanto todos haviam cerrado as portas do comércio mais para rezarem na sinagoga.
Sua primeira reação foi de surpresa, pois o rabino não havia marcado este dia como uma ocasião de jejum. Seu coração encheu-se de dor, por entender haver pecado duas vezes: primeiro comeu num dia de jejum e segundo, não havia rezado os trechos apropriados para esta data singular. Deixou seu burro e carroça atrelados no meio da praça e correu até o Rabino na sinagoga, onde chegou em prantos: “Acaso está certo o que o senhor fez para mim?”
O Rabi não entendeu o significado daquelas palavras e indagou-lhe: “O que está acontecendo?”
O camponês respondeu: “Hoje é um dia de jejum e o senhor não marcou para mim, e eu acabei pecando...”
“Acalme-se, meu filho, você não pecou, pois na verdade na última semana quando você esteve aqui eu não sabia que hoje seria um dia de jejum. Acontece que hoje jejuamos para que chova e isto foi decretado somente em Jerusalém devido a seca!”
“O que?”, perguntou indignado o aldeão “Um jejum para a seca? Não compreendo!”
O Rabino explicou-lhe: “Se não chover há o perigo da fome e os sábios decretaram um dia de jejum e preces à D’us para chover.”
O aldeão desconfiado, perguntou: “E por esse motivo vocês decretaram um dia de jejum?”
“O que mais você acha que deveríamos fazer?”, perguntou o Rabino.
“Bem”, respondeu o aldeão, “quando a chuva não cai em meus campos e a terra torna-se ressequida eu ando até os campos, levanto meus olhos para o céu e digo à D’us: ‘Pai, eu necessito de chuva!’ E a chuva começa a cair.”
Ouvindo essas palavras o rabino teve uma estranha sensação: um misto de admiração e tumulto passando por sua mente.
Voltando-se para o judeu simples, ele disse: “Que assim seja, vá e tente fazer a mesma coisa aqui.”
Imediatamente o homem saiu para o pátio da sinagoga, começou a chorar e exclamou: “Pai! Será possível que seus filhos na cidade sagrada morram de fome? O Senhor sabeo quanto eles precisam de chuva!”
Mal acabou de falar e as abençoadas chuvas começaram a cair sobre a cidade de Jerusalém.
Quando o Rebe terminou de contar a história ao visitante de Israel, perguntou-lhe satisfeito: “E agora, você é capaz de julgar quem em Israel possui uma alma sublime?”
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