Nesta semana lemos as últimas Parashiot do livro de Números (Bamidbar). Na Parashá de Matot, aprendemos sobre os votos (que impomos sobre nós mesmos para nos afastarmos de algo indesejado) e começamos nesta semana as ‘Três Semanas’ de luto antes de 9 de Av, quando o Primeiro e o Segundo Templo Sagrado foram destruídos.
O que aprendemos com isso?
Para entender, aqui está uma história.
O Rabino Yisroel (Maguid) de Koznitz viveu há mais ou menos 150 anos na Polônia, e tinha milhares de seguidores. Judeus vinham de longe para somente estar no mesmo salão que ele ou vê-lo de longe.
Fisicamente ele não era muito impressionante: magro, velho, o retrato da simplicidade e humildade. Mas espiritualmente ele era uma usina de energia, conectado com a Fonte de todas as energias.
Uma história sua em particular ilustra isso mais do que as outras. Os judeus têm o costume de sair de noite no começo de cada mês para recitar uma prece chamada “Santificação da Lua.”
Num sábado à noite, depois do término do Shabat, o Maguid de Koznitz estava fora da sinagoga recitando sua prece com dezenas de seus seguidores. Todos estavam vestidos com suas melhores roupas de Shabat e davam uma impressão de afluência.
Aconteceu que um grupo de assaltantes passava por ali e quando viram um grupo assim, de peixes ricos desavisados, seus olhos brilharam de alegria! Eles olharam para seu líder, que lhes consentiu o ataque, que foi feito então com gritos de guerra assustadores.
Mas os judeus tinham duas grandes vantagens: primeiramente, estavam acostumados a correr e, sendo logo depois do Shabat, não tinham nada nos bolsos para lhes dificultar a corrida. Então, quando os bandidos chegaram perto, encontraram apenas um velho judeu; o Maguid de Koznitz. Ele não só não correu, como nem percebeu que sua fiel congregação tinha sido substituída por um bando de marginais.
O líder da gangue, um assassino cruel de primeira linha, aborrecido com a situação, acenou para os outros deixarem com ele enquanto se aproximava do velho e solitário judeu. Ele fechou o punho para acertar seu rosto em cheio... mas não conseguiu. A face do Rebe o encheu de terror! Ele nunca tinha tido tanto medo assim em sua vida. Ele gritou e xingou tentando reagir a essa situação mas nada ajudou. Ele ainda cuspiu no rosto do Rebe! Mas o Rebe nem percebeu, apenas terminou sua prece, fechou o livro de rezas e foi embora.
Antes que a gangue percebesse, de repente estavam sozinhos e então olharam para seu líder na espera de uma ordem... que não veio! Ele estava paralisado como um animal acuado. Seus braços enormes pareciam duas salsichas e seu corpo tremia tanto que parecia que iria desmoronar. Eles correram para ajudá-lo, o colocaram no chão e foram correndo para a única pessoa que poderia ajudá-lo – o Rebe. Somente após algumas horas conseguiram localizar a casa do Rebe, que lhes concedeu uma audiência.
Quando eles finalmente estavam face a face com o Rebe ficaram sem conseguir falar até que o Rebe fez um sinal para que um deles falasse e então o ladrão limpou sua garganta e implorou: “Rabino! Santo Rabino! Escute, pedimos desculpas pelo que fizemos. Sentimos muito! E estamos dispostos a pagar o que o senhor quiser se nos perdoar e trouxer nosso líder de volta. Por favor!”
“Desculpar-se? Pagar dinheiro? Seu líder? Do que vocês estão falando? Nunca vi vocês em toda a minha vida! Quem são vocês? O que vocês querem?” Ele respondeu honestamente.
Eles perceberam que isso não era uma brincadeira. Esse judeu esteve numa conversa com D’us tão profunda que não percebeu nada! Então o ladrão não teve alternativa a não ser explicar o que havia acontecido: como eles atacaram, como os chassidim fugiram, como seu líder tinha ficado paralisado e como esperavam que o Rebe tivesse misericórdia deles.
“Se é assim,” respondeu o Maguid. “Então isso é muito sério. Muito sério. Seu líder tem que prometer nunca mais fazer mal a qualquer judeu novamente. Somente desse jeito poderá reverter a maldição que colocou sobre si mesmo.”
“Oh! Ele fará isso! Ele prometerá!” O porta voz deles falou, enquanto os outros, com os olhos grudados no Rebe, concordavam com a cabeça.
“Não! Não! Vocês não podem prometer por outra pessoa!” O Maguid falou. “Como saberei se ele concorda? Quero ouvi-lo prometer, ELE MESMO!
“Mas santo rabino! Nosso líder está congelado como uma pedra! Ele não consegue falar nada!”
“Desculpe-me, isso não é uma desculpa, podem trazê-lo aqui e ele terá que falar por si próprio.”
Eles foram correndo até seu chefe e o encontraram no chão, chorando como uma criança. Com muita dificuldade levaram-no até o Rebe e o colocaram no chão de seu quarto.
“Você promete nunca mais fazer mal a nenhum judeu novamente?”
“Sim rabino!” O gigante mal conseguia falar e só conseguiu balbuciar essas palavras.
“Sim! Sim! Eu juro! Eu prometo! Por favor me perdoe! Nunca mais farei nenhum mal! Ajudarei os judeus! Por favor! Misericórdia!”
Assim que ele falou essas palavras, seu corpo começou a tremer e, chorando sem parar, conseguiu ficar de pé e sair do quarto do Rebe junto com sua gangue.
Conta-se que depois de algum tempo o chefe do bando desmembrado apareceu em Koznitz sozinho e humilde. Ele conseguiu uma audiência com o Maguid, pediu para se converter para o judaísmo e passou o resto de sua vida lendo Salmos e ajudando aos outros.
Isso responde às nossas perguntas.
Nossa história mostra uma autotransformação total; do egoísmo falso e destrutivo ao judaísmo construtivo. Isso é o propósito dos votos e das três semanas de luto que se iniciam agora.
Não é para se sentir péssimo e sofrido com privações, mas sim para transformar isso tudo em dias de alegria, e benção (como o Maguid de Koznitz conseguiu fazer até mesmo com um bandido, chefe de uma gangue; transformar o mal em bem).
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