“Não perca a humildade, o universo depende de você. O universo depende de cada um de nós.” — Baal Shem Tov
Sofya escreve:
Quando compartilhei minha experiênciaem “The Impossible Dream of a Chinese Girl in Singapore,” jamais poderia imaginar que haveria ma continuação dessa história incrível.
Tentei infundir a mim e aos meus leitores um senso de esperança sobre a vida dela hoje, mas não tinha ideia de como seria.
Fiquei impressionada com os e-mails de pessoas em todo o mundo que também conheceram essa jovem e ainda estão impactados pelo encontro. Então, graças à tecnologia moderna e ao plano misterioso de D'us, recebi um email de "Elisheva Martinetti". Apesar do sobrenome italiano, soube instantaneamente que "minha" garota me encontrara.
Conversamos por um longo tempo por telefone e imagino que os leitores querem saber o que aconteceu após o nosso primeiro encontro memorável. Pedi a Elisheva para compartilhar sua história. Vou apenas acrescentar: certifique-se de ter lenços de papel por perto.
Elisheva escreve:
No final do Shabat, uma amiga me enviou um link para um artigo no Chabad.org. Ela me perguntou se a garota chinesa escrita no artigo seria possivelmente eu. Curiosa e animada, cliquei no link e comecei a ler.
A autora, Sofya, descreveu um lindo encontro que tivera com uma menina chinesa na comunidade Chabad de Cingapura. As cenas, que eram tão eloquentemente escritas, repassaram em minha mente.Se sombra de dúvida, sabia que essa era eu, tímida e determinada há 11 anos.
Sentindo minhas emoções, meu marido me incentivou a entrar em contato com a autora para complementar com a segunda parte dessa história; "A realização daquele sonho impossível".
O Alter Rebe escreveu no Tanya que é obrigação de todo judeu reexperimentar o êxodo do Egito todos os dias. Para mim, isso assume um significado adicional. Significava deixar fisicamente minha terra natal, um Egito moderno governado por um "Faraó" atual. Também significava deixar meu Egito pessoal e espiritual, minha mentalidade e minha natureza introvertida.
Com a ajuda de D'us e o incrível sacrifício e apoio firme de minha mãe, o sonho impossível se tornou realidade da mais bela forma.
Minha mãe se deparou com histórias do Talmud e Midrashim (antigos comentários e interpretações de parte das escrituras hebraicas, anexadas ao texto bíblico) e sentiu uma atração instantânea, na medida em que tinha certeza de que devia possuir uma alma judaica. A partir de então, ela me inspiraria de todas as formas possíveis para ficar mais empolgada com o judaísmo. Chachmat nashim banta beita - “a sabedoria da mulher constrói seu lar.”1 Fiel a essas palavras, minha mãe acendeu o fogo dentro da minha alma.
Tornei-me cada vez mais sedenta por mais conhecimento judaico; eu queria viver como uma judia de pleno direito. Realmente era um sonho impossível se eu ficasse na China.
Minha mãe e eu precisamos escolher meu primeiro destino. Precisava ser um país que abrisse suas portas para uma menina chinesa de 15 anos. Por meio da Divina Providência, descobrimos que Cingapura era um ponto de partida perfeito. Não muito distante da China, é um país fortemente influenciado pela cultura chinesa, mas com uma perspectiva e um sistema ocidentais. E o melhor é que tinha uma comunidade judaica estabelecida.
Assim que minha mãe decidiu que essa era a direção certa, ela vendeu nossa casa e fez todos os esforços humanamente possíveis para obter um visto de saída para eu ir para Cingapura, com a intenção de me aproximar de uma comunidade judaica "real", para aprender mais sobre D'us e Seus mandamentos.
A única maneira possível de me levar para Cingapura era me tornar uma estudante de intercâmbio. Com meu visto de estudante, fui autorizada a permanecer em Cingapura por um ano até que eu passasse no exame GCSE. (Isso é semelhante a um vestibular britânico; o sistema educacional de Cingapura está em pé de igualdade com o da Grã-Bretanha, uma vez que já foi uma colônia do império britânico.)
Não tínhamos certeza do que aconteceria após este ano, mas minha mãe me disse que deveríamos agarrar a chance e, como o povo judeu que deixava o Egito, D'us certamente abriria o Mar Vermelho para nós e nos guiaria para onde ir a seguir.
Foi assim que aterrissei no aeroporto de Changi, Cingapura, em 9 de março de 2009.
Minha mãe veio junto me ajudar a me instalar, mas as limitações de visto significavam que ela só podia ficar por cinco dias. No último dia, nos separamos na estação de trem dentro do aeroporto.
Lembro-me de sentar no trem, olhando pela janela, vendo minha mãe acenar com um grande sorriso no rosto, os olhos repletos de amor e encorajamento. Segurei minhas lágrimas pensando que iria mostrar a ela o quão forte e determinada eu era. Minha garganta estava ficando mais seca a cada minuto, e eu silenciosamente rezei para o trem sair rapidamente para que eu pudesse baixar minha guarda. Assim que se afastou, a imagem de minha mãe começou a ficar gradualmente embaçada, meus olhos inundados de lágrimas. Eu sabia que poderia nunca mais vê-la.
Minha mãe entendeu isso como seu Akeidat Yitschac; ela estava disposta a sacrificar suas próprias necessidades pela sua filha. Eu pensei que este era meu Lech Lecha, assim como nosso primeiro patriarca, Avraham, fui chamada por D'us, para “Sair de sua terra e de seu local de nascimento e da casa de seu pai, para a terra que eu lhe mostrarei.”2
Como mencionado no artigo de Sofya, ingressar na comunidade não foi uma tarefa fácil, tanto por causa da abordagem cautelosa do sheliach de Chabad quanto por minha natureza introvertida. Eu estava preparada para desistir de tudo o que tinha, mas minha maior preocupação era de que a comunidade pudesse, justificadamente, me olhar como alguém que veio para se aproveitar dela, já que eu era uma menina solitária e jovem, sem família ou parentes.
Tentei manter-me discreta. Tudo o que eu queria era aprender mais sobre o judaísmo e ser reconhecida como uma verdadeira judia. Quanto mais eu aprendia sobre guardar o sagrado Shabat, mais engajada me sentia por poder mantê-lo da maneira que os judeus foram ordenados. Acender velas do Shabat 18 minutos antes do pôr do sol foi a experiência mais preciosa que eu poderia ter sonhado, mas não querendo incomodar outros congregantes e me sentir extremamente envergonhada, sempre observava outras mulheres de um canto invisível, esperando acender a minha depois que elas terminassem.
Inicialmente, não pude participar das refeições da comunidade no Shabat. Passei as noites de sexta-feira e os dias do Shabat lendo e aprendendo na sala de estudos da sinagoga, que também servia como uma pequena biblioteca no centro comunitário. Eu diria a D'us que, embora o mandamento do Shabat fosse comer iguarias extras, para mim seria jejuar, em vez de comer qualquer comida não-casher no dormitório. Eu estava com vergonha de pedir comida.
Eventualmente, depois que o rabino Abergel, um rabino de Chabad em Cingapura me conectou com o rabino Gutnick do Tribunal Rabínico de Sydney, especializado em conversões, fui autorizada a participar das refeições da comunidade. Pensei que deve ter sido assim que os judeus sentiam no deserto após receberem o maná todos os dias do céu. Eu estava acima do emocional. Eu senti a mão de D'us guiando e me levando à Sua nação escolhida.
Recebi um programa de estudos a fim de concluir meu aprendizado para a conversão, mas estava determinada a aprender muito mais do que aquilo que o programa cobria. Eu queria me tornara melhor judia que eu poderia ser!
Eu me empenhei sozinha para ler hebraico e rezar no sidur. Enquanto permanecia na sessão das mulheres, tentava rezar com um minyan, sempre que possível. Na época, eu achava que essa era a maneira mais louvável de "falar" com D'us e não sabia que as mulheres não eram obrigadas a rezar com um minyan. Ausentei-me da escola para comemorar Pessach, Shavuot e Sucot. Meu processo educacional não foi fácil porque, além de aprender a gramática e a língua hebraica, eu também tinha que dominar um pouco de inglês, a língua na qual muitos livros sobre judaísmo são escritos.
Todos os dias, aprendi mais práticas à medida que aprendia mais leis judaicas. Lembro-me da emoção que senti quando comi minha primeira matsá e quando rezei toda a prece de Shmone Esrei pela primeira vez inteiramente em hebraico. Levei quase uma hora para terminar, mas senti que estava fazendo algo por D'us.
Após um tempo, eu queria estudarem uma escola secundária de meninas judias. Enviei e-mails para muitas escolas em todo o mundo explicando minha circunstância. Recebi respostas da escola de meninas Beit Rivka em Melbourne e da Kesser Torah College, em Sydney. Graças à ampla visão do Rebe de Lubavitcher e a seus emissários, as duas escolas ficaram felizes em me ajudar. Seguindo o conselho do rabino Abergel, cheguei a Sydney, concluí o processo de conversão e entrei para o Kesser Torah College com a ajuda e a orientação do rabino Gutnick ao longo do caminho.
Depois que me formei no Kesser Torah College, fui aceita no Seminário Beis Chana em Tzfat, na Terra Santa de Israel, onde estudei por mais dois anos antes de vir para Londres para lecionar na escola Chabad para meninas. Eu também tive a sorte de ter estudado por um ano na Merkos Women, em Melbourne, na Austrália.
Hoje, graças a D'us, sou casada com uma pessoa incrível e temos uma filha linda. No meu casamento, minha mãe e eu nos reunimos após 10 anos de separação. Ela veio nos visitar novamente quando minha filha nasceu seis meses atrás.
Minha jornada é uma jornada de milagres, Divina Providência e sacrifícios. Devo agradecer imensamente aos shluchim do Rebe no mundo inteiro e às muitas famílias e comunidades incríveis que são tão calorosas, acolhedoras e repletas de bondade sem limites. Não há ninguém como você, Am Yisrael!
Sofya acrescentou:
Não sei ao certo o que eu poderia acrescentar a essa história poderosa.
Acho excepcionalmente significativo que Elisheva e eu nos reconectemos no momento do aniversário da liderança do Rebe. Setenta anos atrás, quando o Rebe de Lubavitcher aceitou sua posição, ele disse: “Chabad sempre enfatizou a iniciativa individual, não a confiança no Rebe. ... Eu ajudarei, de fato, ajudarei o máximo que puder... mas de que servirá fornecer textos para estudar, cantar melodias chassídicas e brindar L'chaim se não houver esforço e iniciativa desua parte."
O Rebe nos ensinou a assumir a responsabilidade por nossas vidas e direcionar nossos esforços para o bem supremo. Somos indivíduos incrivelmente capazes e poderosos, líderes por direito próprio. Como a história de Elisheva mostra claramente, nenhum obstáculo pode ficar entre nós e nosso Criador.
Que Hashem abençoe essa alma profundamente conectada e que sejamos inspirados pelo exemplo de Elisheva a viver uma vida de clareza,
Am Israel Chai!
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