A última parashá terminou com as leis das sacrifícios de Yom Tov, e esta começa com as leis sobre promessas. A justaposição ensina que quem promete oferecer um sacrifício está obrigado a cumprir sua promessa no Yom Tov vindouro, quando visitar o Bet Hamicdash.

Às vezes achamos que as palavras que dizemos não são importantes. Afinal, não podemos vê-las ou tocá-las, por isso parecem que não deixam marcas.

A Torá nos ensina o contrário. Palavras são importantes, e um judeu deve sempre ser cuidadoso com as palavras que usa. Deveria ser especialmente cauteloso sobre fazer promessas, porque será responsável por cumpri-la. A pessoa jamais deve fazer um juramento descuidadamente. Aquele que os faz sem a devida atenção e mais tarde falha em cumpri-los, é comparado ao indivíduo que pega uma espada para golpear a si mesmo; está propenso a ferir-se.

É uma boa idéia, quando dizemos que cumpriremos uma mitsvá, adicionar as palavras: "bli neder – não é uma promessa." Se alguém declara: "Amanhã pretendo visitar meu amigo doente," ou, "Darei R$ 100,00 para tsedacá," deveria completar: "bli neder" para evitar que torne-se uma promessa.

Se alguém faz um juramento ou promessa e então percepe que será muito difícil cumpri-los, pode dirigir-se a um talmid chacham, perito em halachá (Lei Judaica), ou a três leigos. Eles poderão absolvê-lo, com base em sua declaração que quando fez a promessa, não estava plenamente consciente de todas suas implicações. Se tivesse percebido todas as dificuldades de mantê-la, não teria agido desta forma. Por isso, a promessa foi um erro de sua parte. Explica os detalhes de sua promessa ao juiz (ou juízes) que então determina se as circunstâncias permitem que seja absolvido. Se o juiz encontra um pormenor que o incomode do qual a pessoa não tenha se apercebido quando fez a promessa, pode absolvê-la.

"Teria feito esta promessa se soubesse que mais tarde se arrependeria?" pergunta-lhe o juiz.
"Não," responde a pessoa que fez a promessa.
"Mutar lecha - você está livre dela", declara o juiz.
Isto se chama em hebraico "Hatarat Nedarim", anulação das promessas.
A Guemará nos dá o seguinte exemplo sobre como anular uma promessa:

Uma história:

Rav Manna certa vez fez uma promessa: "Nunca beberei o vinho de meu pai." Quando o pai soube da promessa do filho, ficou aborrecido. Por sua vez, Rav Manna sentiu-se mal por entristecer o pai e arrependeu-se da promessa.

O pai perguntou-lhe: "Se você tivesse pensado que eu ficaria aborrecido por causa de sua promessa, ainda assim a faria?"

"Não",replicou Rav Manna.

"Neste caso, está livre dela," declarou o pai. Este era um talmid chacham. Por isso, podia liberar o filho da obrigação de cumprir a promessa, porque achou uma boa razão para cancelá-la.

Validade

Antes da idade de bar ou bat-mitsvá, não é preciso ir ao Bet Din se alguém fez uma promessa descuidada da qual se arrepende. Estas promessas não têm validade. Mesmo assim, é uma boa idéia treinar a criança a não fazer promessas.

Quando podem ser feitas

Há algumas situações em que nossos sábios recomendam que se faça promessas. Por exemplo, se uma pessoa encontra-s em extremo perigo ou desgosto, D’us não o permita, pode prometer dar tsedacá ou cumprir alguma mitsvá na esperança de que D’us a salve.

Exemplos de pessoas renomadas que fizeram promessas e seus motivos:

Chana – Na época posterior aos juízes, havia uma mulher justa chamada Chana. Não tinha filhos. Sempre que seu marido viajava ao Mishcan em Yerushalayim, ela o acompanhava. Lá, rezava a D’us, implorando-Lhe que lhe desse filhos.

Quando Chana completou dez anos que estava casada, fez uma promessa a D’us: "Se Tu me deres um filho, não o guardarei para mim mesma, mas ele Te servirá por toda a vida."

Chana teve um menino, a quem chamou de Shemuel. Ela manteve a promessa. Levou Shemuel ao Cohen Gadol no Mishcan, quando ele estava com dois anos de idade e havia acabado de amamentá-lo.

"Eis aqui o filho pelo qual rezei a D’us," disse. "Deixe-o ficar aqui e servi-lo."
Desde então, Chana via seu filho apenas uma vez ao ano quando ia ao Mishcan em Yerushalayim. O menino cresceu e tornou-se o famoso profeta Shemuel, líder de Benê Yisrael.

O Rei David – David não tinha desejo maior que o de construir o Bet Hamicdash para D’us. Fez uma promessa: "Não dormirei mais que o absolutamente necessário até que encontre o lugar apropriado para construir a Casa de D’us."

David cumpriu sua promessa. Quando visitou o profeta Shemuel, estudou com ele os versículos que falam da localização do Bet Hamicdash. Após passar muito tempo estudando, o Rei David concluiu que D’us queria que o Bet Hamicdash fosse construído numa colina na cidade de Jerusalém.

David Hamelech manteve sua promessa. Tinha esperança de que lhe seria permitido construir o Bet Hamicdash. Mas primeiro tinha que livrar a nação judaica dos inimigos ao seu redor. Passou muitos anos envolvido nestas guerras, até que finalmente a paz chegou para os judeus.

"Agora," pensou David, "está na hora de construir o Bet Hamicdash! Como posso viver em um lindo palácio, enquanto a Shechiná de D’us mora numa tenda?"
A arca de D’us ainda estava no Mishcan, uma tenda, assim como havia estado quando Benê Yisrael caminhava pelo deserto.

Naquela noite, D’us enviou um profeta para contar ao Rei David: "D’us não quer que você construa o Bet Hamicdash. Seu filho Salomão o construirá. Você não é a pessoa certa para construir o Bet Hamicdash, porque derramou tanto sangue durante as guerras que travou com seus inimigos."

Isto deixou David preocupado.

"D’us," pediu ele, "sou culpado por ter lutado em tantas guerras?"

"Não tema, David," D’us assegurou-lhe. "Você derramou sangue apenas em nome dos céus. A Meus olhos, suas batalhas valem tanto como se você tivesse feito oferendas no altar."

"Então, por que não tenho permissão para construir o Bet Hamicdash?" perguntou David.

D’us replicou: "Um Bet Hamicdash construído por você seria tão sagrado que Eu jamais poderia destruí-lo."

"Ótimo," disse David. "Deixe que permaneça para sempre."

D’us explicou: "Sei que no futuro os judeus cometerão pecados. Ou Eu os destruirei, ou destruirei o Bet Hamicdash, deixando-os sobreviver. Se você construir o Bet Hamicdash, jamais poderei destruí-lo. Terei que aniquilar os judeus em vez disso."

O Rei David então entendeu que não poderia realizar seu sonho de construir uma Morada para D’us. Assim mesmo, devotou o resto da vida a conseguir ouro, prata e os outros materiais necessários para a construção do Bet Hamicdash. Seus esforços foram tão grandes que D’us considerou como se ele tivesse de fato o construído!

Outra maneira de cancelar uma promessa

Aprendemos há pouco que somente um talmid chacham ou Bet Din podem cancelar a promessa de alguém se encontrarem para isso uma razão válida.

A Torá nos ensina uma outra maneira de cancelar uma promessa: Se um pai escutar a filha de doze anos, ou doze anos e meio, fazer uma promessa que ele não aprove, pode dizer: "Sua promessa é inválida." Isto cancela a promessa.

Um pai pode anular a promessa da filha apenas até o pôr-do-sol do dia em que ele a ouve. Se esperar além disso, será tarde demais.

Um marido também pode cancelar algumas das promessas de sua esposa. Ele deve também fazê-lo no mesmo dia em que a escutou. Se esperar até depois do pôr-do-sol, ela é obrigada cumprir a promessa.