Em hebraico, chama-se Bamidbar (“No Deserto”) e também Sefer HaPekudim (“O Livro das Contagens”); em português, esta é a seção da Torá conhecida como “Números”. E sim, há muitos números no quarto dos cinco livros da Torá.

Nos capítulos iniciais, aprendemos que um ano após o Êxodo, havia 603.550 homens israelitas adultos com idades entre 20 e 60 anos, dos quais 22.273 eram primogênitos; um censo separado contou 22.300 levitas com um mês de idade ou mais (7.500 de Guershons, 8.600 Coatitas e 6.200 no clã Merari). Também recebemos o número de cada uma das doze tribos, desde os 74.600 de Yehudá até os 32.200 de Manassê. Depois a Torá contabiliza o número de cada um dos quatro acampamentos em que as doze tribos foram divididas: o acampamento de Yehudá, que também incluía as tribos de Izachar e Zevulum, totalizava 186.400; as três tribos do acampamento de Reuven totalizavam 151.450; O acampamento de Efraim incluía 108.100; e 157.600 armaram as suas tendas no acampamento de Dan.

Vinte e seis capítulos e 39 anos depois, ainda estamos em Bamidbar, o Livro dos Números e no meio de outro censo. Novamente, obtemos o número total (agora 601.730) e os números de cada tribo. Notamos que Shimon foi tragicamente dizimado (22.200, abaixo dos 59.300), enquanto as fileiras de Menashe aumentaram para 52.700 (um ganho de 20.500). Mas acima de tudo, notamos como a paixão de D'us por contar o Seu povo não diminuiu. Pois, como D'us disse a Moshe, não estamos apenas contando pessoas. Estamos “levantando suas cabeças”.

Quando um censo é realizado, a contagem incluirá estudiosos e pessoas mais simples, profissionais pró ativos e outros acomodados, filantropos e avarentos, santos e criminosos. No entanto, cada um conta não mais nem menos que um no número total. A contagem reflete apenas uma qualidade que todos partilham igualmente: o fato de que cada um deles é um ser humano individual.

Então, o número da contagem é uma expressão do menor denominador comum em um conjunto de indivíduos? A resposta depende de como cada um vê a essência da humanidade. Se o homem for basicamente neutro ou pior – se todos começarmos do zero e fizermos de nós mesmos o que somos – então aquilo que nos une como indivíduos é de fato a menor das nossas qualidades. D'us, no entanto, tem uma perspectiva diferente sobre as “massas aglomeradas” do homem.

Na opinião Divina, a alma do homem é uma centelha de Seu próprio fogo – uma centelha com o potencial de refletir a infinita bondade e perfeição de sua Fonte. A vida humana é o esforço para perceber o que está implícito nesta centelha. Na verdade, uma pessoa pode levar uma vida plena, realizada e justa, e mal arranhar a superfície da infinitude da sua alma. Outra pessoa pode errar durante toda sua vida nas trevas e na iniquidade e então, num determinado momento de autodescoberta, atiçar sua centelha Divina em chamas crepitantes.

Portanto, quando D'us instrui que sejamos contados, é uma expressão do nosso maior denominador comum. Na folha do censo divino, as nossas diferenças são transcendidas para revelar o simples fato do nosso ser o qual expressa o que há de melhor em nós e do qual provém tudo o que há de bom em nós.

D'us nos contabiliza não para saber o nosso número (que Ele obviamente sabe), ou mesmo que entremos em contato com a quintessência de nossas almas (o que Ele obviamente é). Ele nos conta para acentuar a nossa alma das almas, para dar expressão à sua essência e para torná-la mais acessível às nossas vidas ligadas ao material.

É aí que reside o significado mais profundo da expressão “erguer as cabeças” na instrução de D'us a Moshe para contar o povo de Israel. Quando D'us nos conta, Ele está estimulando a parte mais elevada e sublime de nosso ser, a centelha da divindade que reside no âmago de nossas almas.