Anton, de dois anos, foi encontrado no mês de julho vagando pelas ruas de Odessa, na Ucrânia. Sua mãe havia desaparecido meses antes, e seu pai estava fora de cena há muito tempo. Os vizinhos e a tia de Anton acolheram o menino, mas agora, com a guerra deixando Odessa no caos, Anton estava sozinho. Aos 2 anos de idade, ele não tinha mais ninguém.

Um vizinho trouxe Anton para o Beit Chabad de Odessa e Chaya Wolff, co-diretora do Chabad, rapidamente percebeu ao examinar seus registros que seu irmão mais velho, Daniel, de 4 anos, já morava no orfanato que ela dirige há quatro meses. Ela sabia que Daniel tinha um irmãozinho, mas o caos da guerra tornava impossível descobrir onde ele estava e quem poderia ter se tornado seu tutor legal.

Chaya e seu marido, o rabino Avraham Wolff, administram um orfanato em Odessa desde 2000, e centenas de crianças, incluindo aquelas sem pais vivos e aquelas cujos pais não puderam cuidar delas, passaram por suas portas ao longo dos anos. Em março, eles tomaram a decisão de evacuar o orfanato para Berlim, onde foram recebidos calorosamente pela comunidade alemã em geral, que se mobilizou em massa para doar brinquedos, alimentos, roupas e outras necessidades. Desde março, eles estão bem instalados com a ajuda do rabino Yehuda Tiechtal do Beit Chabad de Berlim.

Logo após Pêssach, outra vítima da guerra uniu-se a eles. Dima, de onze anos, era de Irpin, cidade muito atingida, e veio para Chabad traumatizada pelos horrores pelos quais passou. Daniel, Anton e Dima foram todos levados para um local seguro em Berlim. Chaya Wolff, que equilibra seus deveres em Odessa e seus “filhos adotivos” em Berlim viajando de um país ao outro, diz esperar que as crianças possam retornar a Odessa em janeiro, mas com a situação volátil e as sirenes ainda soando, é difícil prever o futuro.

Wolff atualmente está em Odessa ocupada se preparando para as Grandes Festas. “Um terço da nossa comunidade ainda está em Odessa”, ela diz ao Chabad.org. “Costumávamos ter 40.000 judeus vivendo aqui, e cerca de 15.000 ainda permanecem. Nossa escola permanece aberta com 40 crianças na pré-escola e 120 na escola diurna.”

Ela descreve o trabalho humanitário contínuo em que Chabad está engajado e os planos para as Grandes Festas.

Os meninos se encontram agora em segurança em Berlim após serem transportados para o orfanato de Odessa, instalado na Alemanha desde março.
Os meninos se encontram agora em segurança em Berlim após serem transportados para o orfanato de Odessa, instalado na Alemanha desde março.

Abram Seus Corações

Com um toque de recolher restrito ainda em vigor à noite, o Beit Chabad está alugando um hotel inteiro para acomodar as famílias durante as festas judaicas, com todos os serviços e refeições sendo organizados no local para 140 famílias cadastradas até o momento. “Estamos tentando fornecer a todos um clima normal para as Grandes Festas”, diz Wolff. “Distribuímos nosso calendário anual bom como pacotes de Rosh Hashaná para cada família, junto com maçãs, mel e bolo de mel.”

“A guerra ainda continua; ainda vamos para os abrigos. As empresas estão fechadas e não há comida ou dinheiro”, continua Chaya.

Com a ajuda da Rede de Socorro Judaico da Ucrânia, eles têm fornecido apoio constante com alimentos e itens essenciais. Aqueles que tiveram a sorte de fugir ‘não são os refugiados’ da antiga URSS. Em um dia eles tiveram que pegar seus pertences de mão e correr sem saber quanto tempo ainda terão que permanecer fora”, diz ela.

Mesmo em Berlim, um lugar onde eles ajudaram a reassentar muitos membros da comunidade, a situação não é fácil emocionalmente: “Eu posso chorar só de falar sobre isso. Eles sentem falta de suas casas. Todo o seu passado está aqui. Eles não sabem se terão algo para voltar.”

“Abra seus corações”, ela implora, à medida que os Dias de Temor se aproximam, “precisamos do seu apoio para ajudar todos a ter um ano novo mais doce”.

E o pequeno Anton?

Em 8 de setembro, ele celebrou seu brit milá, a aliança de Avraham Avinu, celebrado em Berlim, onde agora vê regularmente seu irmão mais velho. Ele recebeu seu nome judaico, Menachem Mendel, em homenagem ao Rebe - Rabi Menachem M. Schneerson, de abençoada memória - que nasceu não muito longe de Odessa há 120 anos, e que enviou seus emissários para revitalizar a vida judaica lá e cuidar de cada judeu. Exatamente assim como ocorre com esses meninos e todas as crianças e comunidades judaicas espalhadas no mundo todo.

Daniel, à esquerda, com um novo amigo no Orfanato de Odessa, agora em Berlim.
Daniel, à esquerda, com um novo amigo no Orfanato de Odessa, agora em Berlim.