A rainha Elizabeth II foi rainha durante a minha vida e a vida de meus pais. Em 70 anos acelerados que viram viagens a jato, guerras, astronautas pisando na lua, a queda da União Soviética, o surgimento de novas potências mundiais, a internet e o desmoronamento de tantas normas e convenções sociais – ela era uma constante.
Mesmo nós, americanos amantes da liberdade, que celebramos a corajosa rejeição de nossa nação à monarquia, não pudemos deixar de prestar atenção ao palácio e admirar a rainha que presidiu sobre tudo isso cumprindo suas obrigações com dignidade.
O sábio talmúdico Rav Sheshet nos ensinou que “o reino terrestre é um vislumbre do Reino Celestial”. Um monarca aqui na terra é um reflexo do Rei dos reis Divino – poderoso, real e contido.
O Talmud nos diz que Rav Sheshet, embora fosse cego, podia sentir a presença da realeza. Não pelos regimentos barulhentos de soldados marchando, mas quando todos silenciavam – foi quando ele percebia que estava na presença de um monarca.
A rainha Elizabeth também ensinou ao mundo através do que ela não fez. Quando sua família experimentou divisão e conflito, ela não veio a público para evitar qualquer constrangimento àqueles que lhe causavam angústia.
Depois de cumprimentar visitantes por horas, quando talvez, desejasse levantar os pés e tomar uma xícara de chá, ela não cancelou seus compromissos do dia. Elizabeth chegou o mais próximo do paradigma da realeza que podemos apontar como um caso clássico do “rei” sobre o qual lemos na literatura judaica.
A rainha era respeitada e admirada por décadas em um mundo em constante transformação.
Não é por acaso que seu falecimento ocorre apenas alguns dias depois que judeus de todo o mundo leram a porção da Torá de Shoftim, que inclui instruções para o rei judeu: ele não deveria colecionar muitos cavalos, não poderia acumular um harém muito grande, nem estocar seu tesouro mais do que o necessário. Ao invés disso, ele deveria estudar Torá para se proteger de “elevar seu coração acima de seus irmãos”.
Humildade e realeza andam de mãos dadas. E a humildade real não vem de não estar ciente de suas realizações ou poder. Ao contrário, vem do reconhecimento de que existe algo ou alguém muito maior do que nós mesmos. É verdade que o povo tratou a rainha com admiração e honra. Mas ela retribuiu muito mais com sua liderança e compromisso de guiá-los por 70 anos.
Seu exemplo é algo que todos podemos incorporar em nossas próprias vidas. Sua presença fará muita falta.
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