A resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que instituiu a data em 2005 rejeita qualquer questionamento de que o Holocausto foi um evento histórico, enfatiza o dever dos Estados-membros de educar futuras gerações sobre os horrores do genocídio e condena todas as manifestações de intolerância ou violência baseadas em origem étnica ou crença. Seja qual for a raça, religião ou nacionalidade, todas as vidas importam.

Liberdade de expressão tem limites

8 de fevereiro, 2022

O presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, falou em sessão especial do Senado em homenagem às vítimas do Holocausto e que contou com a participação do embaixador de Israel, Daniel Zohar-Zonshine, da representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch, e do senador Jaques Wagner, que abriu o evento e que foi o autor do requerimento para a realização da sessão.

As declarações do podcaster Bruno Aiub, conhecido como Monark, foram duramente condenadas por todos os participantes do evento. Lottenberg disse que é necessário “criar frentes que reforcem que a liberdade de expressão tem limites”.

O embaixador Daniel Zohar-Zonshine citou os seis milhões de vítimas do Holocausto como exemplo do que foi o nazismo. “Faz 77 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, mas o que vemos é que os horrores do Holocausto ainda não foram devidamente assimilados pelas pessoas e pelas sociedades”.

“É importante reagirmos a esse tipo de discurso de ódio para que não seja banalizado, nem minimizado”, disse Marlova Jovchelovitch. Ela defendeu a educação, como forma de conscientizar as pessoas do que foi a Shoá, e disse que a Unesco trabalha junto a representantes de países membros pela implementação de programas de ensino sobre o Holocausto.

Jaques Wagner citou as atrocidades do nazismo e reforçou a necessidade de a data – 27 de janeiro – em Memória das Vítimas do Holocausto ser lembrada para que esse episódio nunca mais se repita. Ele lembrou também o extermínio de deficientes pelo nazismo e destacou: “Não podemos tolerar o intolerável”.

“…O nazismo deve ser considerado como o que é: uma ideologia criminosa que põe em perigo toda sociedade brasileira. Não devemos naturalizá-lo, nem legitimá-lo”.

O senador Flávio Arns (Podemos-PR) destacou que a realização dessa sessão especial foi aprovada por unanimidade por todos os senadores e isso reflete a relevância que o Senado dá à questão. Ele defendeu a necessidade de as novas gerações tomarem conhecimento do que foi o Holocausto para que possam entender a importância do respeito aos direitos humanos. “Queremos para o nosso pais uma sociedade de paz, de respeito às diferenças”, destacou.

A senadora Leila Barros (Cidadania-DF) lembrou a libertação do maior campo de extermínio nazista (Auschwitz) por tropas soviéticas e quando o mundo descobriu a extensão das atrocidades do nazismo. Ela citou como preocupantes pesquisas que apontam o crescimento de células nazistas no Brasil (170% em dois anos e meio). E destacou que a pesquisa aponta como causa a sensação de impunidade e a falta de leis claras contra a intolerância. E pontuou: “Defender o nazismo é inconstitucional e uma ofensa à comunidade judaica e às vítimas do Holocausto. A liberdade de expressão não pode servir de anteparo pra o discurso de ódio”.

Repercussão

O podcaster Bruno Aiub (Monark) se desculpou por ter defendido a existência de um partido nazista. “Eu estava bêbado, justificou o apresentador.

Os Estúdios Flow também divulgaram nota pedindo desculpas, em “especial à comunidade judaica”, e comunicando sobre a retirada do ar do episódio, que contava com os deputados federais Tabata Amaral e Kim Kataguiri como convidados. Os Estúdios Flow também anunciaram a demissão de Bruno Aiub da apresentação do programa. O caso repercutiu negativamente, o Flow Podcast perdeu diversos patrocinadores e vem sendo alvo de muitas críticas.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB), reagiu veementemente às declarações de Monark, afirmando que a existência de um partido nazista não representa a liberdade de expressão. Tabata Amaral rebateu as afirmações “esdrúxulas” de Monark, citando o Holocausto na Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, quando mais de 6 milhões de judeus foram exterminados. Ela afirmou ainda que o nazismo coloca a população judaica em risco. “Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco a vida do outro. O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco”, disse a parlamentar.

A nota de repúdio da CONIB às declarações do apresentador teve grande repercussão na imprensa e contou com o apoio de autoridades, políticos e de representantes da sociedade civil, numa demonstração de que a sociedade brasileira não aceita a apologia ao nazismo em hipótese alguma e em sinal de solidez do tecido social brasileiro.

“A luta contra o racismo e o discurso de ódio deve ser uma luta de todos.”

A ADL (Liga Anti-Difamação, com sede nos EUA) postou, nas redes sociais, apoio à CONIB em sua condenação às declarações do apresentador Monark.

O presidente Congresso Judaico Latino-Americano (CJL), Jack Terpins, também condenou as declarações do apresentador: ‘Condeno energicamente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil, assim como o “direito a odiar judeus” e a fazer um gesto que remeta à uma saudação nazista. Convidamos o apresentador Monark e o comentarista Adrilles Jorge a visitarem um museu do Holocausto e a ouvir o testemunho de um sobrevivente, para que compreendam a dimensão do perigo em naturalizar e aceitar movimentos genocidas. O nazismo deve ser considerado como o que é: uma ideologia criminosa que põe em perigo toda sociedade brasileira. Não devemos naturalizá-lo, nem legitimá-lo’.

O coordenador do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss, alertou que a fala de um dos apresentadores do podcast Flow, Bruno Aiub, o Monark, defendendo o direito de existência de um partido nazista é perigosa. Reiss, que tem quatro avós sobreviventes do Holocausto, convidou o apresentador a visitar o museu para conhecer de perto as atrocidades cometidas pelo regime nazista.

A embaixada alemã no Brasil também se posicionou a respeito, afirmando que “defender nazismo não é liberdade de expressão”. “Quem defende o nazismo desrespeita a memória das vítimas e dos sobreviventes desse regime e ignora os horrores causados por ele”, disse o perfil da embaixada e dos consulados alemães no Twitter.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a instauração de procedimento para apurar a possível prática de crime de apologia ao nazismo pelo youtuber Bruno Monteiro Aiub e pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM/SP), que participou do podcast e criticou a decisão da Alemanha de criminalizar o nazismo.

Durante o programa “Flow Podcast”, Monark, que é um dos apresentadores, defendeu o reconhecimento, pela lei, de um partido nazista no Brasil. Ele afirmou que as pessoas teriam o direito de ser idiotas e até mesmo anti-judeus.

O PGR, embora não possa se posicionar sobre o caso específico, reiterou sua posição contra o discurso de ódio e a favor do respeito às diferenças, ao pluralismo e ao multiculturalismo, como reconhecido pela Constituição. A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) já defendeu que “o direito à liberdade de expressão não é absoluto e repudiar o nazismo é uma tarefa permanente, que deve ser reiterada por todos”.

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) recebeu denúncia contra Bruno Aiub. A representação é de autoria de Vini Caetano, ativista de direitos humanos. Na peça, o autor solicita a abertura de um processo criminal contra o apresentador pelo crime de antissemitismo e, também, o cancelamento das contas do programa no Instagram, Facebook, Twitter e Youtube.

CONIB condena saudação nazista feita por Adrilles Jorge em programa da Jovem Pan

9 de fevereiro de 2022

A Confederação Israelita do Brasil condena estarrecida o gesto repugnante de saudação nazista feito pelo apresentador Adrilles Jorge em programa da Jovem Pan. O nazismo propaga uma visão de mundo racista, antissemita e totalitária, que causou a morte de 6 milhões de judeus e minorias como homossexuais, negros, ciganos e outras, e detonou uma guerra mundial catastrófica para a humanidade. Episódios de apologia ao nazismo devem ser combatidos com todo o rigor da lei brasileira e repelidos pela sociedade como um todo. A CONIB, em nome da comunidade judaica, agradece as manifestações de apoio diante desses fatos lamentáveis e agradece também a todos que vêm manifestando indignação e repulsa diante deles. A luta contra o racismo e o discurso de ódio deve ser uma luta de todos.

“Whoopi Goldberg aprendeu que o racismo também explica o Holocausto”

8 de fevereiro de 2022

O escritor e cientista político João Pereira Coutinho publicou artigo sobre o comentário que levou Whoopi Goldberg a ser punida com afastamento temporário de seu programa de TV, o ‘The View’, por ter dito que o genocídio nazista de 6 milhões de judeus não foi ‘uma questão de raça’ por envolver ‘dois grupos de pessoas brancas’.

Para o autor, a resistência em incluir os judeus nas vítimas de racismo está “na forma estreita como o próprio racismo é discutido hoje em dia: uma espécie de clube exclusivo onde só os negros têm voz”.

[Em pleno século 21, ou em qualquer tempo e espaço no planeta, é preciso que as sociedades se reorganizem, eduquem e punam com leis mais rigorosas a repetição sistêmica da apologia ao ódio e à intolerância cada vez mais crescente. Agressões, humilhação, perseguições e assassinatos são registrados diariamente e em ascensão assustadora e constante. Isso mostra o tamanho do caos em que o mundo se encontra. É este legado que queremos deixar para os nossos filhos?]