Adaptado do maamar e sichot do Rebe, de Yud Guimel Tamuz, 5722,
ensinamentos do Lubavitcher Rebe
Pais e Mães
Nossos sábios interpretam1 o versículo2: “Do topo do monte, eu o vejo. Eu o contemplo de cima das colinas”, como uma alegoria, explicando que “Do topo do monte” se refere aos Patriarcas e “as colinas” se refere às Matriarcas.
A importância deste comentário pode ser entendida comparando-se os diferentes relacionamentos que um pai e uma mãe têm com seus filhos. A conexão de um pai é geral; ela não se relaciona ao corpo da criança de uma forma específica3. É através da nutrição do feto pela mãe por nove meses que os membros e órgãos que constituem o corpo da criança se definem e se desenvolvem4.
Por este motivo, mesmo depois do nascimento da criança, sua mãe compartilha um relacionamento mais próximo com ela do que seu pai, pois foi ela quem modelou as particularidades de sua existência. E assim, uma criança tem um amor maior por sua mãe do que pelo seu pai, e um maior grau de temor por seu pai5. O amor depende de proximidade, e o temor acontece através da distância.
Conceitos semelhantes se aplicam em relação aos Patriarcas e às Matriarcas do Povo Judeu. Por este motivo, ao falarmos sobre os Patriarcas, o versículo usa a expressão “Eu o vejo”, que indica olhar à distância, enquanto em relação às Matriarcas, é usada a expressão “Eu olho para ele”, sichisa, que indica proximidade. Isto é indicado pelo Targum, pois a expressão “Eu olho para ele”, sichisa, que também é usado como o Targum para a palavra vitabeit6. Habat, a raiz hebraica para o último termo, indica olhar de perto com intenção e interesse7.
À Imagem de D'us
A concepção de uma criança no plano físico, como acontece com todas as outras entidades materiais, se origina de sua fonte espiritual. Nossas emoções são referidas como “descendência”, porque elas são trazidas à vida pelo intelecto. Profundo entendimento e meditação sobre a grandeza de D'us produz amor e temor de D'us.
Mais particularmente, nosso processo conceitual pode ser dividido em dois impulsos: Chochmá e Biná. Chochmá é o núcleo seminal do entendimento. Portanto, ele é descrito com a analogia de um pai. Binah representa o desenvolvimento de uma estrutura conceitual e, assim, ela é referida com a analogia de uma mãe8.
Nossos poderes da alma se originam das Sefirot celestiais9. E, assim, um padrão semelhante existe em relação a estas Sefirot. Elas são divididas em duas categorias fundamentais que correspondem ao intelecto e à emoção; é o intelecto celestial, Chochmá e Biná, que gera as emoções celestiais10. E estas emoções dão origem aos mundos espirituais11.
Mais particularmente, o paralelo reflete o trabalho de Chochmá e Biná. Chochmá serve como “o pai”, pois ela está distante das emoções e certamente dos mundos que elas dão origem. Biná é considerada “a mãe”, pois ela está mais perto das emoções e também dos mundos.
Porque Biná está mais próxima aos mundos, a estrutura de referência que caracteriza os mundos é importante para ela. Portanto, a influência de Biná no mundo, a compreensão da Divindade, não anula aquela estrutura de referência. Em vez disso, ela causa somente bttul hayesh, abnegação que não bane inteiramente o nosso conceito de ego. A pessoa devota a si mesma a um propósito maior, mais ainda, retém sua identidade individual, Chochmá, ao contrário, aprecia que “Somente Ele existe; nada mais existe”12; toda a outra existência empalidece à luz de Sua presença. Este nível de consciência é, de fato, refletido no nome Chochmá cujas letras podem ser rearranjadas para formar as palavras koach mah13 – que reflete completo e absoluto bitul, bitul bimetzius.
Esforçando-se por um Propósito
Os Patriarcas e as Matriarcas compartilham uma conexão com todo judeu, concedendo a todo membro do povo seu legado espiritual14. Implícito está o fato de que todo judeu possui dois estímulos espirituais gerais. Os Patriarcas concedem a ele a qualidade de Chochmá, o potencial para a completa e absoluta abnegação, refletindo a unidade sublime, enquanto as Matriarcas concedem a ele a qualidade de Biná, abnegação que o permite reter sua identidade, refletindo o plano inferior da unidade.
O objetivo absoluto da existência é que o mundo seja transformado em uma moradia para D'us. Assim, nosso serviço Divino não deve ser removido do mundo, mas deve se concentrar em fazer do mundo um meio para a Divindade como ela existe dentro de seu próprio contexto. Por este motivo, as Matriarcas, cujo serviço Divino reflete um envolvimento mais próximo dentro do mundo, possuem uma vantagem sobre os Patriarcas (apesar do fato de que Biná, a qualidade que elas personificam, recebe meramente a influência de Chochmá, a qualidade personificada pelos Patriarcas). E, portanto, Avraham foi instruído a15: “Ouça a tudo o que Sara te diz”.
Ambos os estímulos, o esforço em direção à unidade sublime e à unidade inferior, que vem dos Patriarcas e das Matriarcas (os “topos dos montes” e das “colinas”), fortalecem o Povo Judeu, permitindo-o alcançar o estado descrito na continuação do versículo16: “É uma nação morando sozinha em segurança, não sendo contada entre as nações”.
Mesmo durante o exílio, esta profecia continua a ser cumprida. A identidade dos judeus permaneceu intacta; eles não se assimilaram entre as nações. De fato, o exílio eleva os judeus a um nível mais alto, como indicado pela interpretação deste versículo pelo Targum como prenúncio da Era da Redenção quando “no futuro, esta nação tomará posse da Terra”, com a chegada da verdadeira e absoluta Redenção, liderada pelo Mashiach; que isto possa acontecer brevemente.
Uma Mulher em sua Casa
Todo lar judeu é um mundo por si mesmo, no qual estão manifestadas todas as Dez Sefirot17. Assim como dentro das Sefirot celestiais e dentro dos poderes de nossa alma existe uma vantagem de Biná sobre Chochmá (apesar do fato de Biná receber influência de Chochmá), também dentro do lar judaico, existe uma dimensão de supremacia na posição da mulher.
E a posição da mulher no lar reflete o funcionamento destas Sefirot. A Sefirá de Biná recebe influência de Chochmá e transmite aquela influência aos atributos emocionais. Assim também, a mulher recebe orientação de seu marido, como indicado pela declaração de nossos Sábios18: “Quem é uma mulher perfeita? Aquela que cumpre a vontade de seu marido”. Apesar disto, o funcionamento real do lar, incluindo a educação dos filhos, hospitalidade aos hóspedes, presentes generosos para tsedaca e outras coisas semelhantes são todas atribuições das mulheres.
Um homem está fora de casa durante a maior parte do dia. Ele está ocupado com o estudo da Torá e com a reza, ou em ganhar o seu sustento. Para que sua vontade seja “cumprida”, manifestada de verdade em sua vida, ele deve contar com sua “esposa perfeita”.
Além disso, a palavra hebraica traduzida como “cumprida”, osê, também significa “fazer”. Por vezes, uma “mulher perfeita” “faz a vontade de seu marido”19. Existem vezes em que as pressões e dificuldades que ele enfrenta o enfraquecem e o impedem de desejar as coisas corretas. Naquele momento, “sua esposa perfeita” deve, de uma forma gentil e agradável, moldar a vontade de seu marido, seduzindo-o a desejar cumprir a vontade de D'us que reside dentro do coração de todo judeu20.
“Quando um marido e uma esposa são merecedores, a Presença Divina fica entre eles”21. Quando um lar judaico é conduzido como “um Santuário no microcosmo”22, a Presença Divina repousa dentro dele. E já que a “Presença Divina repousa dentro dele”, “nenhum mal residirá entre vós”23. Ao contrário, Ele concederá somente bondade, bondade evidente e aparente, manifestada em abundantes bênçãos em filhos, saúde e prosperidade.
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