Não é incrível como as antigas palavras do Rei Solomon “Não há nada de novo sob o sol”1 ainda permanecem verdadeiras? Acho absolutamente fascinante que declarações na leitura dessa semana da Torá ainda se mantenham verdadeiras mais de 3.000 anos depois.

É a história de Balaam, o poderoso profeta gentio que tenta amaldiçoar nossos ancestrais a pedido do Rei Balac de Moab.2 Mas, por mais que ele se esforçasse, as tentativas de Balaam falham de maneira trágica. D'us está claramente o controlando, e contra seus próprios desejos, ele abençoa as pessoas ao invés de amaldiçoá-las. Balac está exasperado. Balac está frustrado, e volta para casa como um fracassado. Você pode não saber que foi Balaam que criou a frase Ma tovu ohalecha Yaakov, mishkenotecha Yisrael – “Como são belas suas tendas, Yaacov; tuas moradas, Israel, 3 uma expressão que foi incorporada ao nosso Sidur e é uma das nossas preces mais conhecidas.

Deixe-me focar aqui outra das memoráveis palavras de Balaam. O profeta descreve Israel como Am levadad yishkon, “uma nação que mora sozinha.”4 Os comentaristas oferecem uma variedade de interpretações para essa expressão. Alguns dizem que se refere a este mundo, enquanto outros sugerem que significa o Mundo Vindouro, Mesmo assim, eles parecem concordar que é uma bênção, e não uma maldição. Portanto, parece que sozinho não necessariamente significa solitário. Sozinho pode ser entendido como distinto, excepcional, e único.

E no entanto, não há como fugir do significado simples da palavra. Em meu dicionário, sozinho atrai as palavras solitário e desolado. De fato, o povo judeu já esteve muito sozinho no decorrer da história, e isso não mudou. Era verdade nos dias de Balaam, e permanece como verdade hoje. “Não há nada de novo sob o sol.”

Em março de 1972, quando o ex-Primeiro Ministro Yitzchak Rabin era embaixador de Israel em Washington, ele recebeu um pedido do então presidente de Israel Zalman Shazar para transmitir as bênçãos do presidente e do governo israelense ao Rebe por ocasião de seu 70º aniversário. Rabin passou uma quantidade considerável de tempo com o Rebe e mais tarde relatou sua conversa.

O Rebe perguntou a Rabin se ele não se sentia sozinho como Embaixador de Israel entre os 120 países representados em Washington. Rabin disse que era uma honra para ele, mesmo que às vezes ele se sentisse solitário.

“Temos que perceber a singularidade da nação judaica,” disse o Rebe,, e citou o versículo da Torá descrevendo Israel como um povo que habita sozinho. Ele perguntou a Rabin se é por nossa própria escolha ou por forças externas que Israel vive sozinho entre as outras nações do mundo. É uma bênção ou uma maldição? É algo que abraçamos de bom grado, ou nossa rejeição pelas nações é algo que devemos aceitar contra nossa vontade? Em suma, estar sozinho é positivo ou negativo?

Enquanto a conversa deles continuava, o Rebe respondeu sua própria pergunta.

“Estar sozinho é uma escolha nossa e imposta a nós pelas nações do mundo. Por um lado, escolhemos nos apegar à Torá, nossa fé e tradições. Isso tem preservado nossa unicidade durante milênios de perseguição e dispersão. Através das Inquisições, expulsões, pogroms e acima de tudo, o Holocausto.”

“Por outro lado, as pressões externas fortaleceram o cerne da crença judaica e nossa lealdade às nossas tradições. Nos casos em que um judeu pode ter se envergonhado por seu Judaísmo e tentado escondê-lo, havia elementos externos que forçavam seu Judaísmo sobre ele, e isso,também, impedia a assimilação. Portanto, é uma combinação de escolha e força – que nos manteve sozinhos entre as nações – uma combinação de positivo e negativo.”

Rabin compartilhou com o Rebe que até os russos tinham um respeito relutante por Israel. “O embaixador russo certa vez me disse: ‘Vocês são um país pequeno, mas são um país orgulhoso.’”

Conforme escrevi em outra ocasião, embora o antissemitismo seja algo extremamente negativo, ele possui algumas consequências positivas. Curiosamente, filósofos que podem ter sido antissemitas, argumentaram convincentemente que o antissemitismo foi bom para os judeus e nos ajudou a manter nossa identidade judaica, em vez de nos assimilarmos.

Alguns anos atrás, tivemos um palestrante convidado em nossa sinagoga, Rami Sherman, um dos heróicos comandantes do resgate de reféns de Entebe em 1976. O que aquela experiência fez por ele espiritualmente, ele compartilhou:

“Parti um israelense e voltei um judeu.”

Penso sobre muitos jovens voluntários de segurança que ficam do lado de fora de nossa sinagoga no Shabat ou festividades, às vezes com mau tempo, para protegerem aqueles que estão dentro. Alguns desses rapazes e moças nunca foram vistos dentro da sinagoga. O que os leva a oferecer seu tempo e esforço para a comunidade da sinagoga é seu orgulho judaico e seu zeloso compromisso em proteger-nos de nossos inimigos. Eles podem não ser religiosos na prática, mas enfrentam o antissemitismo e se colocam em risco para defender seu povo. Ironicamente, o antissemitismo reforçou sua identidade judaica.

Sim, até mesmo hoje Israel vive praticamente sozinho. No Oriente Médio, nas Nações Unidas e às vezes até nossos amigos não são tão solidários quanto poderiam ser. Sabemos que estamos sozinhos. E, especialmente na ONU, pode ser muito solitário.

Em 10 de novembro de 1975, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução determinando que “Sionismo é uma forma de racismo.” Alguns anos depois, quando ele visitou Johanesburgo, tive oportunidade de entrevistar o falecido Chaim Herzog, ex-presidente de Israel que era embaixador de Israel na ONU na época dessa infame resolução.

Perguntei a ele como se sentia representando Israel durante aquele Período terrível. Ele disse que isso o deixou terrivelmente furioso, mas também muito orgulhoso. Respondendo à resolução da ONU, ele encerrou seu brilhante discurso com essas palavras: “Para nós, o povo judeu, essa resolução baseada no ódio, falsidade e arrogância, é desprovida de qualquer valor moral ou legal. Para nós, o povo judeu, isto não passa de um pedaço de papel e devemos tratá-lo como tal.” Ele então rasgou a resolução pela metade. A resolução foi revogada pelas Nações Unidas em 1991.

Sim, podemos estar sozinhos. Mas somos distintos em nosso orgulho judaico, e até mesmo sem nossa rebeldia quando necessário.

Não temos do que nos envergonhar. Não temos nada para estarmos mais orgulhosos do que nossos distintos valores e modo de vida judaicos. Podemos estar sozinhos entre as nações, mas não estamos sozinhos, pois D'us está conosco, nos protegendo e guiando nosso destino.

Que todos nós possamos perceber que “um povo que habita sozinho” não é uma maldição, mas a mais bela bênção.