Você entra apressadamente na sala de espera, com quinze minutos de atraso. Isso é intencional: você está tentando reduzir aqueles minutos desperdiçados na sala de espera. Porém uma breve conversa com a recepcionista revela, para sua consternação, que você chegou, por engano, 35 minutos adiantado...
Você perde sua conexão, e o próximo vôo disponível parte na manhã seguinte. Enquanto se registra no hotel do aeroporto, passa pela sua cabeça o pensamento de que jamais esteve antes nessa cidade. O que fazer agora? Algumas compras? Uma caminhada pelo centro? Passar a tarde no quarto pondo o trabalho em dia?
Você está num impasse. Já há algum tempo, tem percebido que não é isso que deseja fazer com sua vida, e é inevitável que seu chefe logo perceba também. Você está explorando diversas possibilidades, mas demorará um pouco até que qualquer delas se materialize. Então, você tem à sua frente uns bons meses de rotina massacrante (e isso na melhor das hipóteses...)
Nos vivemos em dois tipos de tempo: tempo real e tempo intermediário. No tempo real, seguimos com nossa vida: carreira, relacionamentos, família e interação social. Porém existe o tempo da sala de espera, o tempo no aeroporto, o tempo entre dois trabalhos. O truque é aproveitar ao máximo o tempo real e reduzir o tempo intermediário ao mínimo possível.
Não é bem assim, diz o Lubavitcher Rebe. Segundo o Rebe, existe apenas um tipo de tempo. Há jornadas longas e jornadas curtas, há trabalhos grandes e pequenos, existem oportunidades óbvias e situações nas quais coçamos a cabeça e nos perguntamos: O que estamos fazendo aqui? Mas todo o tempo é real; cada momento é crucial. Todo segmento de nossa vida, não importa quão efêmero ou temporário, tem um centro, um propósito, um objetivo.
Em uma de suas cartas, o Rebe explica seus fundamentos para esta opinião: a história das viagens de nossos ancestrais através do Deserto do Sinai.
O Livro de Bamidbar descreve como os Filhos de Israel acamparam e viajaram no deserto. Bem no centro do acampamento israelita ficava o Mishcan, o Santuário portátil que abrigava a Divina Presença. Ao redor do Mishcan estavam as tendas dos Cohanim e Levitas, que serviam no Santuário. E além do acampamento Levita ficavam, como os raios de uma roda, as tendas comunitárias das doze tribos de Israel - três tribos a leste, três ao sul, três a oeste e três tribos ao norte.
Acima do Mishcan pairava uma nuvem, significando a Divina Presença que ali habitava; quando a nuvem se erguia, era o sinal de que estava na hora de seguir adiante. Não havia um período preestabelecido para cada acampamento. As vezes a nuvem - e o povo - ficavam estacionados por um ano, e às vezes por uma única noite. Sempre que a nuvem se levantava, o povo se punha a caminho.
Dissemos que o Mishcan era portátil. Mas não era uma pequena tenda dobrável. Este fabuloso edifício incluía quarenta e oito paredes de 6 metros, cem bases com 70 quilos cada, mas de duas dúzias de enormes tapeçarias, e numerosos pilares, prendedores, revestimentos e utensílios. Era necessário uma equipe de 8.580 Levitas para desmontar, transportar e montar o Mishcan a cada vez que o povo se mudava.
E a Torá enfatiza que todo o processo se repetia a cada vez que o povo viajava, incluindo aquelas vezes em que acampavam por uma única noite. A cada vez, o Mishcan era erigido e 600.000 famílias montavam suas tendas na formação prescrita ao seu redor.
Assim, o povo sabia que nunca estavam apenas "atravessando" ou "matando tempo" em uma conjuntura específica na jornada. Cada acampamento, não importa o quanto fosse breve ou temporário, deveria ter seu centro, seu foco, seu objetivo: sua própria maneira distinta de fazer D'us Se sentir em casa junto deles.
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