Amor... O que pode ser dito sobre amor que já não tenha sido dito? Estou seriamente me enganando ao pensar que você já não leu tudo? Talvez.
Portanto não vou tentar fingir que há algo que você ainda não ouviu, nem vou contar a você alguma história magnífica, comovedora que lhe trará todos os sentimentos. Em vez disso vou mostrar algo fascinante sobre amor que brota logo no primeiro versículo de Bamidbar, o quarto livro da Torá, que estamos estudando, e você poderá realmente descobrir algo novo.
Uma Obsessão no Deserto
Embora o nome em português do quarto volume de cinco da Tora seja “Números”, o nome hebraico é Bamidbar, que significa “no deserto”. O nome vem do primeiro versículo que diz: “D'us falou a Moshê no Deserto do Sinai, na Tenda da Assinação, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da sua saída(dos filhos de Israel) da terra Egito...”1
A pergunta óbvia é: o que é essa obsessão com o deserto, ganhando proeminência como o nome de um livro inteiro? Certamente há outras palavras, mais importantes, naquele versículo de abertura. E aparentemente o povo latino que estava dando nomes pensava assim, também – optando por “Números” em vez de outro.2
Então por que estamos tão focados no aspecto do deserto?
Além disso, quando você pensa sobre um deserto, não é exatamente um local feliz. Os desertos são quentes, secos, e sem vida. Por que é algo em que queremos passar tanto tempo? Para tornar as questões ainda mais intrigantes, dê uma olhada nesse interessante Midrash sobre o tópico: “A questão é análoga a um príncipe que entrou num país, e quando os cidadãos o veem, correm para longe. O príncipe entrou em outro país, e os cidadãos ali, também, fogem. O príncipe então chegou a uma província desolada, e o povo ali se aproximou para cumprimentá-lo e saudá-lo.
O príncipe disse: “Essa província é melhor que todas as outras, vou construir um lindo monumento aqui; irei morar aqui. Assim, também, quando D'us chegou ao mar, ele voou... as montanhas, também, voaram. Quando D'us chegou ao deserto desolado, ele louvou a Ele... D'us disse: ‘Irei construir Meu monumento [o Tabernáculo] aqui.’”3
Qual é o significado disso? Por que os mares e as montanhas fugiram de D'us? E o que o deserto sabia que eles não sabiam?
Mesmo com toda a imagem romântica, é difícil entender como um deserto pode ser o local mais apropriado para uma revelação Divina.
Quente Demais para Crescimento
Tipicamente, entendemos o intenso calor e a falta de crescimento que define um deserto como algo negativo. Quando você pensa sobre se perder num deserto sem nenhuma água ao redor, provavelmente você não fica muito empolgado. Mas, como ocorre com a maioria das coisas neste mundo, a Cabalá vê esses dois elementos – o calor e a falta de vida – como distintamente positivos.
Veja, no contexto de nosso relacionamento com D'us, calor tremendo é o sinal de um amor apaixonado, ardente. É uma fácil metáfora, pois muitos de nós estão acostumados com a ideia do amor ser uma emoção calorosa. Portanto um local que é muito quente é uma metáfora para um judeu devoto, que possui um amor ardente por D'us nas profundezas de seu coração. E aqui é onde a segunda parte da metáfora do deserto se torna super importante: nada cresce ali.
Nas interações convencionais humanas de amor, o amor frequentemente apaixonado pode alimentar intensos sentimentos de auto-consideração, uma obsessão ardente com o próprio ser que enquanto ostensivamente é dirigida para outro, é na realidade uma expressão que está usando alguém mais como o veículo para entender as profundezas ao amor próprio.
O deserto é muito quente, mas nada cresce ali. Uma pessoa deveria estar apaixonadamente em amor com o Criador. Junto com isso – na verdade, quando feito de maneira certa, como resultado daquilo – o sentimento deveria alimentar uma completa falta de auto-consideração, um nível intenso de humildade e submissão ao Criador que criou a nós todos. Em termos mais simples, quando você ama muito a D'us, entende que você realmente não tem uma existência separada Dele. Assim, não há espaço para ego, auto-elogio, ou qualquer outra forma de auto-obsessão.
Isso, então, é o que o Midrash diz sobre D'us somente Se sentir confortável no deserto. O mar e as montanhas possuem suas próprias identidades, qualidades únicas que os fazem se destacar de alguma forma. O mar é repleto de vida, às vezes ardente, às vezes tranquilas massas que surgem e fluem e têm vencido até as criaturas mais notáveis. Montanhas elevam-se majestosamente no céu, invocando reverência e atingindo nossa imaginação. Instituições tão impressionantes são grandes demais por si mesmas para serem boas receptoras para a manifestação Divina.
O calor chamuscante do deserto sem vida é o local perfeito: não tem ego, é completamente comprometido, e pleno de amor ardente por D'us. O que mereceu um livro inteiro da Torá.
Relacionamentos Interpessoais
Como tudo em nosso relacionamento com D'us, isso serve como um maravilhoso exemplo de como deveremos conduzir nossos relacionamentos interpessoais. Amor é tudo, todo mundo anseia por amar e ser amado, e é algo que passamos a vida inteira buscando. O Judaísmo defende isso também, e tem muito a nos dizer sobre essa poderosa experiência humana.
Pegue o deserto para os iniciantes: Você deveria amar, e apaixonadamente. Como o ardente sol da tarde no Saara, vá atrás disso. Mas lembre-se: não deixe que isso fique sobre você e suas necessidades. Amar na maneira apropriada é imitar nosso relacionamento com D'us. Deveria ser apaixonado e caloroso, mas nunca sobre aumentar seu próprio ego ou alimentar suas próprias obsessões.
É sobre comprometimento e dar-se ao outro. Foque em quanto você ama a outra pessoa, o quanto você deseja dar a ela, investir nela e na sua parceria – evitando todos os sentimentos de “Eu quero crescer com isso.”
Quando você fizer isso, terá construído seu próprio Mishcan, Tabernáculo pessoal.4
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