Quando os judeus ouviram a repreensão, eles ficaram apavorados. Moshê então reuniu-os todos – homens, mulheres e crianças – e explicou-lhes que D’us destinou aquelas advertências para o seu benefício. Seu sofrimento preveniria sua assimilação entre os povos e lhes garantiria uma porção no Mundo Vindouro com a vinda de Mashiach.

Somente recentemente nossa fé na Providência ficou tão chocada que o sofrimento nos faz questionar a justiça de D’us. Em parte, isso é graças à sociedade hedonista não judaica que proclama a boa vida neste mundo como objetivo final.

Nossos ancestrais viveram, sofreram e morreram com o ensinamento judaico enraizado profundamente de que a vida neste mundo é passageira, somente um preparativo para a vida futura e eterna. O que pode ser considerado um "infortúnio" no mundo presente pode provar ser uma fonte de felicidade no que está por vir.

O Midrash nos Conta:

Quando Rabi Shim’on Bar Yochai e seu filho El’azar estavam escondidos em uma caverna por medo do governo Romano, os sábios em Êrets Yisrael estavam estudando esta parashá.

Certa vez R. Yosse bar R. Yehuda avistou um grupo de pombas. Uma pomba solitária estava perambulando entre elas.

"Pomba, pomba", ele suplicou, "você é um mensageiro fiel desde os tempos de Noach e você simboliza o povo judeu. Voe para Rabi Shim’on Bar Yochai".

R. Yosse queria saber a explicação das radmoestações. Ele colocou a pergunta escrita no bico da pomba e ela a levou para Rabi Shim’on. Ao ler a mensagem, este começou a chorar e comentou: "Quão baixo nossa geração afundou, que nós não sabem nem explicar ou entender corretamente a mensagem da Torá."

O profeta Eliyahu revelou-se para acalmar Rabi Shim’on e dar-lhe uma resposta.

"Esta parashá foi estudada na Yeshivá Celestial", Eliyahu revelou. "Neste caso, D’us é mais como um pai que, preocupado com a má conduta do seu filho, repreende-o profusamente por compaixão e piedade. Na verdade, cada faceta da repreensão vem do amor de D’us para o povo judeu; todas têm o intento de ajudar a guiá-los em direção ao caminho apropriado. Muitas das admoestações são repetitivas porque D’us previu a longa duração do nosso presente exílio e queria urgentemente advertir os judeus para fazerem teshuvá. Mesmo a mais severa das maldições, ‘Toda doença e praga que não estão escritas neste livro da Torá D’us trará sobre vocês’, é expressa ambiguamente. ‘Ele trará sobre você’ (ya’lem alecha) pode significar também ‘Ele omitirá de você’ (do radical leha’alim – omitir) – em outras palavras, Ele não as trará sobre vocês. A repreensão deve ser lida com uma apreciação do profundo desejo Divino de que os judeus não abandonem a Torá, e que aqueles que o fizeram, retornem a Ele."

Eliyahu revelou mais um segredo para o Rabi Shim’on Bar Yochai: "O versículo ‘E D’us os retornará para o Egito em navios’ é uma bênção disfarçada. Isso é uma dica que no futuro D’us realizará milagres similares àqueles ocorridos após o Êxodo. As nações virão em navios e tentarão destruir os judeus, porém em vez disso estes navios serão afundados.

Quando a pomba retornou à noite com a mensagem do Rabi Shim’on Bar Yochai para o Rabi Yosse, este último exclamou maravilhado: "Pomba, pomba, você é a mais fiel das criaturas!"

Ele mostrou a mensagem do Rabi Shim’on para os sábios e declarou: "Mesmo que nós não sabemos o paradeiro de Rabi Shim’on, onde quer que ele esteja, a Torá com certeza lá está. Afortunada é a sua porção!"

Uma História:

Quando o Rabi Shneur Zalman de Liadi (o primeiro Rebe de Chabad) vivia em Liozna, ele era o ba’al korê – leitor da porção semanal – no shabat. Certa vez, ele estava fora na semana de parashát Ki Tavô, e outra pessoa a leu em seu lugar. Seu filho, Rabi Dov Ber (que mais tarde o sucedeu como líder de Chabad), ainda não era Bar Mitsvá e desmaiou quando as maldições foram lidas, e ficou muito doente. Tanto, que era questionável se ele poderia jejuar no Yom Kipur. Depois de ser reavivado, foi-lhe perguntado por que ele foi mais afetado agora do que em anos anteriores? Ao que ele respondeu:
"Quando meu pai lê a Torá, ninguém ouve nenhuma maldição."

Para o Rabi Sheneur Zalman, a maldições não eram o desejo final de D’us. Ao contrário, D’us ama seu povo e quer regá-los com bênçãos. Estas maldições são somente superficiais, e ocultas dentro delas há bênçãos que o povo judeu eventualmente merecerá.

Um exemplo de bênçãos ocultas pode ser achado no seguinte passuk: "Shorechá tavuach le’enêcha velô tochal mimênu, chamorechá gazul milefanêcha velô yashuv lach, tsonechá netunot leoyevêcha veên lechá moshía." – "Seus bois serão abatidos perante os seus olhos e não comerás dele, seu burro será roubado de ti e não retornará, seu rebanho será dado aos seus inimigos e não terás nenhum salvador." (28:31).

Quando este passuk é lido de trás para frente, ele está cheio de bênçãos:

"Moshía lechá ve’ên leoyevêcha"– "Ele ajudará a vocês e não aos seus inimigos"– "yashuv lach tsonechá netunot" – "o seu rebanho que foi dado para outros retornará para você"– "velô milefanêcha gazul Chamorêcha" – "Teu burro não será roubado de ti" – "mimênu tochal velô le’enêcha tavuach shorêcha"– "Você comerá dele e seu boi não será abatido perante os teus olhos".