Os primeiros frutos são trazidos das sete espécies pelas quais Êrets Yisrael é abençoada: trigo, cevada, uva, figo, romã, azeitona e tâmara.

Quando o proprietário de um campo nota que o primeiro fruto (de qualquer um dos tipos acima mencionados) começou a amadurecer em seu campo ou pomar, deve amarrar uma fita em volta dele para marcá-lo como bicurim.

Um dos benefícios da mitsvá é a de fortalecer o autocontrole da pessoa. É tentador degustar o primeiro fruto maduro de uma espécie que não estava disponível já há algum tempo. Em vez disso, nós somos obrigados a nos refrearmos, e reservá-lo para D’us.

O dono do campo espera até que as várias espécies de frutos tenham amadurecido para levá-los ao Bet Hamicdash. Se ele calcula que as primeiras frutas irão apodrecer antes de começar sua jornada, ele deve preservá-las. Por exemplo, transformando os figos em figos secos e as uvas em passas. Apesar de que ele só precisa dar uma fruta como bicurim, quanto mais ele acrescentar, maior será sua mitsvá. Bicurim são recebidos anualmente pelos cohanim entre Shavuot e Chanucá.

As frutas devem ser trazidas ao Bet Hamicdash em algum recipiente, como uma cesta, e preferivelmente, uma espécie em cada recipiente. Se todas elas precisam ser colocadas no mesmo recipiente, deve-se proceder da seguinte forma: a cevada por baixo, por cima dela o trigo, acima dele as azeitonas, as tâmaras, as romãs, e finalmente os figos por cima de tudo. Entre cada camada de fruta deve haver uma divisória, como folhas, e a camada de cima é circundada por cachos de uvas.

Como os Bicurim Eram Trazidos para Yerushalayim

As cidades de Êrets Yisrael eram agrupadas em distritos. Os habitantes de cada cidade de um mesmo distrito se reuniam em um lugar e viajavam juntos para Yerushalayim para trazer os seus bicurim.

A mitsvá era engrandecida quando realizada por toda a congregação. Os viajantes descansavam à noite em céu aberto (evitando assim a possibilidade de ficarem impuros, pois alguém que estivesse numa casa que contivesse um cadáver, suas primícias se tornariam impuras e portanto inaptas para serem trazidas ao Bet Hamicdash). De manhã, o líder anunciava: "Levantem-se, e vamos a Tsiyon, à casa do nosso D’us!"

Um boi, que mais tarde seria oferecido como oferenda, ia à frente da procissão; seus chifres cobertos com ouro e uma grinalda de folhas de oliva enfeitava sua cabeça. Os viajantes recitavam (Salmos 122:1) "Eu ficava feliz quando me diziam: ‘Vamos à Casa de D’us.’" Flautistas proviam acompanhamento musical até que a procissão alcançasse Yerushalayim. Os viajantes paravam nos portões para arranjar e decorar seus bicurim, enquanto avisavam que eles haviam chegado à cidade. Eles eram recebidos por vários cohanim (sacerdotes), leviyim (levitas) e tesoureiros do Bet Hamicdash, que saíam para cumprimentá-los. Ao entrar na cidade os viajantes proclamavam (Salmos 122:2) "Nossos pés estavam em seus portões, Yerushalayim."

Os trabalhadores de Yerushalayim paravam seu trabalho, levantavam-se e cumprimentavam os recém-chegados: "Nossos irmãos de tal cidade, sejam bem vindos!" (Eles assim honravam os cumpridores da mitsvá. Para demonstrar nosso respeito àqueles que estão cumprindo uma mitsvá, nós costumamos nos levantar, como por exemplo quando um bebê é trazido para o Berit Milá.)

Os flautistas continuavam a tocar e os viajantes continuavam a recitar os versos dos Salmos até chegarem ao Monte do Templo. Aí todos, inclusive o próprio rei, colocavam suas cestas sobre os ombros e pessoalmente apresentavam-nas ao cohen. Quando a procissão entrava na Azará (o pátio do Bet Hamicdash) os leviyim cantavam: "Te louvarei, D’us, por ter me erguido e não ter deixado meus inimigos regozijarem-se em mim."(Salmos 30:2).

Os viajantes tinham anexado pombas aos lados de suas cestas e davam-nas para os cohanim, como oferenda. Com as cestas ainda em seus ombros, cada judeu recitava o verso (Deuteronômio 26:3): "Eu declaro hoje a D’us, nosso D’us, que eu vim à terra que D’us prometeu aos nossos antepassados que a daria para nós." Ele assim reconhecia que D’us manteve a Sua promessa para com os nossos antepassados, e que ele trouxe para o Bet Hamicdhash um presente de bicurim da sua porção de terra. Enquanto o proprietário segurava a alça da cesta, o cohen colocava suas mão sob esta, e juntos, eles erguiam a oferenda.

Lendo a Declaração de Bicurim

A fruta era colocada em frente ao altar (os bicurim eram colocados próximos do altar para simbolizar que eles não eram trazidos para o cohen, mas sim para D’us, Que os dava de presente aos cohanim). E o proprietário recitava em hebraico o capítulo referente aos bicurim (Deuteronômio 26: 5 -10).

Originalmente, aqueles que sabiam ler hebraico recitavam o texto sozinhos, e aqueles que não sabiam, um leitor realizava a mitsvá. Quando os sábios perceberam que os judeus não letrados abstinham-se de trazer bicurim ao Bet Hamicdash, pois tinham vergonha, eles instituíram que o texto fosse lido por um terceiro em qualquer caso. (Similarmente, em tempos passados a Torá era lida na sinagoga por aqueles que eram chamados para recitar a bênção. Já que algumas congregações não sabiam ler, foi instituído que a Torá deve ser lida por um expert, comum a todos.)

A Torá ordena ao proprietário dos bicurim para ler justamente esta porção da Torá porque ela descreve a bondade de D’us para com os judeus. O proprietário reconhece sua gratidão por tudo que D’us fez por ele. O texto relata os sofrimentos e as aflições do nosso povo, pois para apreciar as bênçãos deve ter em mente os infortúnios do passado. Isso é o que se lê, enquanto se segura os bicurim (versículos encontrados na nossa parashá – Deuteronômio 26:5):

"E ele (Yaacov) desceu ao Egito com pouca gente e lá tornou-se um povo poderoso e numeroso. E os egípcios nos maltrataram e nos afligiram e colocaram sobre nós trabalho duro. Nós gritamos para D’us, D’us dos nossos pais, e D’us ouviu nossa voz, e viu nossa miséria, nossa labuta e nossa aflição. E D’us nos tirou do Egito com mão forte e braço estendido e com grande temor, com sinais e maravilhas. E Ele nos trouxe para este lugar, e nos deu esta terra, a terra onde jorram o leite e o mel."

Já que eu reconheço que tudo o que possuo é graças à bondade de D’us:

"E agora, portanto, eu trouxe as primícias da terra que Tu, D’us, me deste."

Completada a leitura, os bicurim são erguidos uma segunda vez, o proprietário coloca-os ao lado do altar, prostra-se e deixa o Bet Hamicdash. Os bicurim eram distribuídos entre os cohanim que estavam em serviço no Templo Sagrado.

Aquele que oferecia os bicurim deveria trazer oferendas e passar a noite em Yerushalayim antes de retornar a sua casa. Esta mitsvá era chamada de liná, ou seja, pernoitar em Yerushalayim. Uma das razões para pernoitar lá é que D’us queria que aquele que oferecia os bicurim, depois de ter comparecido ao Bet Hamicdash, absorvesse plenamente a santidade de Yerushalayim antes de retornar a seu lar, para que a mitsvá tivesse um efeito duradouro sobre ele.

A mitsvá de bicurim, as primícias, é um exemplo impressionante dos esforços que os judeus fazem para embelezar as mitsvot. Somente um profundo amor para a mitsvá poderia converter o mandamento de "trazer os primeiros frutos ao Bet Hamicdash" em um glorioso procedimento – uma festiva procissão até Yerushalayim, o recital das escrituras acompanhado de música, e a apresentação de cestas de frutos cuidadosamente arranjadas e decoradas para os cohanim.

O midrash nos conta:

A Voz Celestial

Depois de o judeu ter cumprido a mitsvá de bicurim, uma voz celestial podia ser ouvida no Bet Hamicdash: "Que você tenha o mérito de trazer seus bicurim no próximo ano mais uma vez!"

Similarmente, nossos sábios nos contam que dois anjos acompanham o judeu da sinagoga para casa na noite de Shabat – um anjo misericordioso e um anjo negativo. Se as velas de Shabat estão acesas, a mesa posta, e a casa preparada para honrar o Shabat, o anjo bom clama: "Que seja a vontade de D’us que no próximo shabat seja a mesma coisa!" O anjo negativo vê-se obrigado a responder "Amen". Se, D’us nos livre, a casa não está preparada para o Shabat, o anjo negativo clama: "Espero que no Shabat que vem seja a mesma coisa!" E o anjo bom vê-se obrigado e responder "Amen".

Sempre que um indivíduo cumpre uma mitsvá, ele cria um anjo que o ajuda a cumprir mais mitsvot.