Há quase 60 anos, o filósofo canadiano Marshall McLuhan declarou: “O meio é a mensagem,” 1 propondo que o meio afeta a sociedade principalmente pelas características do próprio meio, e não pelo conteúdo que ele transmite.

Embora vista como inovadora no campo da teoria da mídia, essa ideia foi expressa há milhares de anos na porção da Torá desta semana, Bamidbar.

D'us instruiu Moshe e Aharon a contar o povo judeu. O censo era o meio pelo qual se saberia quantos seriam elegíveis para a batalha e, posteriormente, como a Terra de Israel seria dividida. Este censo, ao contrário do nosso censo moderno, não era realizado online ou mesmo pelo correio. Tribo por tribo, cada chefe de família comparecia individualmente diante de Moshe e Aharon para dar seu nome e ser contado.

Cada pessoa era contada não como um mero número, mas como um componente essencial de um todo maior. Nachmanides afirma que uma das razões para o censo era para que cada indivíduo tivesse a oportunidade de se beneficiar da atenção que recebia por Moshe e Aharon. 2

As características do meio (censo), portanto, afetavam a sociedade de uma forma muito maior do que apenas o conteúdo (o número real de pessoas). Inserida no meio narrativo da Torá está a mensagem de que cada judeu ocupa um lugar designado dentro da estrutura coesa do povo judeu. Cada pessoa é divinamente dotada de características e habilidades específicas que devem ser desenvolvidas. Cada um de nós tem um papel essencial a desempenhar em uma jornada coletiva maior, que abrange gerações.

Dólares nos Domingos: Saudando Cada Indivíduo

O Rebe personificava a suprema importância do indivíduo em relação à sociedade. Todos os domingos, ele ficava de pé por oito horas ou mais para cumprimentar e abençoar as pessoas que passavam na sua frente, vindas de várias partes do mundo, para receberem sua atenção individualmente. Centenas de pessoas esperavam pacientemente na fila por horas, apenas para ter a oportunidade de estar na presença do Rebe por um momento. O Rebe entregava um dólar a cada visitante para que pudessem doá-lo para caridade, cumprindo assim a mitsvá de tsedacá. Esses momentos eram transformadores. Cada pessoa foi edificada pelo breve, mas profundo, encontro com o Rebe e pela bênção que recebeu dele.

Todos nós queremos e precisamos sentir que somos valorizados. Sentir-se isolado ou marginalizado pela sociedade, família ou mesmo amigos é doloroso. Começamos a nos fechar. O fato de D'us querer que sejamos considerados deve incutir em nós um senso de autoestima e propósito. Assim como cada nota e instrumento em uma partitura musical tem seu tempo e propósito designados, cada pessoa desempenha um papel significativo na sinfonia mundial de D'us. Somos tão fortes quanto os indivíduos, famílias e comunidades que compõem o todo coletivo.

Somos Apenas Uma Metade Sem Outra

Ao realizar um censo, como o descrito na Parashá Bamidbar, é proibido fazer uma contagem literal do povo judeu. A forma de contagem era por meio da doação de uma moeda de meio shekel por cada pessoa. 3 Cada meio shekel representava uma pessoa. O meio shekel é um lembrete de que nenhum judeu é completo sozinho; devemos nos unir para alcançar a unidade. Trabalhando juntos para o bem comum, formamos uma totalidade. Como círculos concêntricos, isso nos completa e nos expande.

No entanto, embora devamos nos unir em unidade, não devemos abrir mão de nossa individualidade. Em vez de focar a contagem no total da massa, o foco estava no indivíduo. O indivíduo não deve estar "perdido na multidão" ou desvalorizado. Todo ser humano é criado à imagem de D'us.

Maimônides ensinou: "Cada um de nós deve se ver como se nosso próximo ato pudesse mudar o destino do mundo." 4 Qual será sua próxima ação? Faça-a valer a pena. Valorize quem você é e o papel especial que D'us designou para você.

Cada vida é como um universo inteiro. 5 Reconheça seu valor e perceba que você realmente importa e pode fazer a diferença. Levante a cabeça. Na verdade, a contagem é chamada de "levantar a cabeça" (se'u et rosh) de todas as pessoas, pois a contagem foi feita para elevar cada um de nós.

Devemos nos esforçar para integrar essas lições em nossas vidas. Comunicar aos outros que apreciamos suas contribuições valida sua dignidade. Muitas vezes, há "outros" que, por vários motivos, são marginalizados e frequentemente excluídos. Inclua-os e exalte-os. O judaísmo insiste que a dignidade de cada indivíduo seja preservada. Somos uma nação, mas também somos indivíduos; isso é tanto um desafio quanto uma força. Que nos esforcemos para nos ver não apenas como entidades separadas, mas sim como membros valiosos de uma mesma equipe.

Além disso, não devemos nos perder na sedutora conformidade das últimas tendências e dos "valores" atuais. Para manter nossa identidade judaica distinta devemos "erguer nossas próprias cabeças"

O próprio censo foi o meio usado, não apenas para contar cada pessoa, mas para fazer com que cada pessoa realmente conte!

Tornando-se Relevante:

  1. Esforce-se para ver a si próprio como uma pessoa estimada e aja com dignidade.
  2. Pratique tratar os outros com respeito e valorize-os.
  3. "Levante a cabeça" de outra pessoa, especialmente alguém que precisa de encorajamento e compaixão.