O Seder de Pessach é um evento muito querido nos corações de todos. Quem não se recorda da refeição festiva na casa dos pais ou dos avós, da Matsá e do vinho compartilhados entre os familiares?

A ordem do Seder é repleta de detalhes, e dentre eles, o costume de reservar um pedaço de Matsá para Aficomán tem um papel fundamental na cerimônia. No início do Seder uma Matsá é partida em dois pedaços, o menor permanece na mesa enquanto o maior é designado como Aficomán, que é a "sobremesa" ingerida obrigatoriamente no encerramento da refeição. Há um costume antigo de as crianças esconderem o Aficomán e exigirem como resgate um presente... mas o significado profundo do Aficomán vai além da brincadeira, e merece ser citado.

O povo judeu é representado pela Matsá, pois ao longo da história ele tem sido continuadamente esmagado, achatado e humilhado. E é com muita dor que constatamos que com o passar do tempo essa "Matsá" que apesar de pisoteada permanecia inteira e unida, acabou se dividindo, se partindo.

Atualmente, depois de tantas perseguições e dificuldades, só restou um pedaço da “Matsá” na “mesa do Seder”, ao passo que outra parte dela saiu da mesa, à procura de opções alternativas, parecendo ignorar os milhares de anos de história dos seus antepassados, alienando-se do seu povo e das suas raízes.

O dia 11 de Nissan de 1902, marca o nascimento do Rebe, de abençoada memória, na Ucrânia. Ele cresceu no auge das revoluções que capturaram os corações e as almas de milhões de judeus. O Rebe observou em primeira mão a "Matsá" sendo dividida, fragmentada, quebrada, e então quase completamente consumida pelas chamas do stalinismo e do nazismo.

A mensagem de Pessach que o Rebe deixou para a nossa geração é que enquanto parte da “Matsá” estiver ausente, não poderemos concluir nosso Seder sem devolver à mesa o pedaço de “Matsá” que se afastou. Milhares de judeus podem estar ausentes das mesas do Seder, mas sua essência permanece e nunca serão esquecidos.

Às vezes é difícil encontrar o Afikomán – é difícil identificar um judeu que se assimilou. Às vezes ele próprio luta para não ser identificado. Mas no final da noite do Seder - no final deste exílio - ele vai voltar, para ouvir a história do Êxodo, pois ninguém será deixado para trás.

Desta missão o Rebe incumbiu cada um de nós. O Seder já está quase completo, tivemos a nossa quota de Maror, de amarguras e sofrimentos. A história está quase terminando com a vinda de Mashiach e para isso não devemos deixar de procurar o Aficomán, para com muito amor e sensibilidade trazê-lo de volta à mesa, e deixá-lo se reunir à sua própria essência, à sua própria história, à sua própria alma.

Só então poderemos concluir nossa jornada e vivenciar com muita alegria o provérbio que encerra a Hagadá: "No ano que vem em Jerusalém!" Que possa ser ainda este ano!

Pessach Kasher Vesameach!