Teshuvá, retorno, ocupa um lugar central no judaísmo e possui muitas facetas. Assim como as pessoas diferem umas das outras, também diferem seus modos de teshuvá, seu motivo e sua forma de expressão. Numa definição ampla, teshuvá é um despertar espiritual, um desejo de reforçar a conexão entre o indivíduo e D'us.

A eficácia da teshuvá é uma função do sentimento de distância que o indivíduo tem do sagrado. Quanto maior a distância, maior o movimento potencial em direção a uma conectividade renovada. Como disse um sábio judeu, uma corda cortada e remendada é duas vezes mais forte no ponto onde foi rompida.

Este movimento da alma em direção à conecção também pode surgir em quem nunca pecou, mas sente o chamado para se aproximar da santidade. Pois na raiz da noção de teshuvá reside o conceito de retorno, não apenas ao passado, mas à fonte Divina de todo o ser. Embora diversas e complexas, todas as formas de retorno têm um núcleo comum: a crença que os seres humanos têm em promover uma mudança interior. Muitos fatores conspiram para que a gente acabe se distanciando do Criador, como educação e hábito, mas segundo os sábios do Talmud, a possibilidade de alterar a realidade pós-fato, foi criada antes do próprio mundo.

Muitos livros e artigos foram escritos sobre teshuvá, fornecendo análises detalhadas dos vários estágios do processo, do início ao fim. Duas características são necessárias e encontradas em cada tipo de teshuvá: a percepção de que o passado, não importa qual tenha sido, é imperfeito e precisa ser corrigido; e a decisão de mudar a direção e seguir outro caminho no futuro. De modo concreto, teshuvá é simplesmente uma volta. Quanto mais calma e estabelecida a vida pessoal, mais aberta é a curva a ser feita.

Qualquer que venha a ser o sentimento primário relativo ao passado, o desejo de fazer teshuvá sempre salta de algum sentido de inquietude ou desconforto. Uma pessoa pode ser vista por outras como pecadora e criminosa, sem ter consciência de sua queda. Tal pessoa dificilmente atingirá o retorno. Do mesmo modo, pode-se chegar ao caminho de volta pela conscientização das imperfeições em si mesmo, que não são evidentes aos outros.

Este enorme obstáculo foi chamado por nossos sábios de "embotamento do coração". O embotamento da mente é facilmente reconhecível como um impedimento para o funcionamento cognitivo; aquele do coração é mais insidioso, uma condição de moral e consciência emocional bloqueadas. Sem esta consciência estimulada, sem algum sentimento de inadequação, nenhuma sagacidade intelectual pode mudar o comportamento de uma pessoa.

Em muitos casos, a própria teshuvá, uma vez a caminho, reúne forças e produz uma "abertura do coração". O bloco inicial contra a conscientização das falhas é totalmente superado. Pois o primeiro despertar da consciência leva a uma abertura mais larga e profunda e a uma reação mais forte.

Um segundo passo para a teshuvá é chamado de decisão para o futuro. Este passo é essencialmente uma continuação do primeiro, e sua força, direção e coerência são amplamente determinadas pela clareza e força do reconhecimento inicial relativo ao passado.

Sentir desconforto e explicá-lo dando de ombros ou através de equivalentes verbais, pode não levar a uma decisão para mudar, quanto mais à própria mudança. Por outro lado, o arrependimento genuíno pelas más ações e o reconhecimento das falhas não leva necessariamente a um resultado desejado; pode causar, pelo contrário, um profundo sentimento de desespero e resignação fatalista.

Em vez de promover uma mudança positiva, este desalento, uma das mais sérias aflições da alma, pode fazer com que a pessoa se afunde ainda mais. Tal situação geralmente ocorre quando se leva uma vida de prazeres instintivos ou na busca de valores destinados a insensibilizar os sentidos, temporária ou permanentemente: álcool, drogas, amizades inadequadas.

Estas e outras formas de "diversão" podem obliterar o incômodo ou a insatisfação, mas nada se resolve. Pelo contrário, há um distorcido sentimento de alívio da dor e a falsa ilusão de que se pode seguir em frente como antes.

Assim, o remorso, não importa quão incisivo inicialmente, deve ser acompanhado pela crença na possibilidade de mudança. Neste sentido, o princípio de teshuvá é, em si, uma importante fonte de despertar e esperança. Saber que a porta está sempre aberta e que há um caminho; saber que não há situação irreparável, pode em si servir como um estímulo para o retorno.

É importante lembrar que as resoluções devem ser levadas adiante. Obstáculos estão ocultos pelo caminho. Rotina e hábito, que provocam de início um estado de apuros, não desaparecem simplesmente porque a pessoa decidiu mudar.

Mesmo que não seja imediatamente levada adiante, a decisão é, em si, um passo essencial. Cada decisão positiva, mesmo pequena, é importante.

O Báal Teshuvá (aquele que retorna ao caminho da Torá) é como uma pessoa em viagem que, em algum ponto, decide mudar de direção. Deste ponto em diante, seus passos o levarão a um destino diferente.

Adaptado de Teshuvah - A Guide for the Newly Observant Jew © The Domino Press, Jerusalém.