Pergunta:

Estou um pouco confuso. Li que durante a destruição do Primeiro Templo Sagrado, as muralhas de Jerusalém foram quebradas em 9 de Tamuz. Em outros locais li que foram quebradas em 17 de Tamuz durante a destruição do Primeiro e do Segundo Templos Sagrados. Poderia esclarecer essas dúvidas para mim?

Resposta:

Você não é o único que está confuso. Na verdade, segundo algumas opiniões, essa confusão remonta ao tempo em que as muralhas foram rompidas e o Templo foi destruído. Mas antes de abordarmos isso, vamos começar pelo início.

A Tradição de 9 de Tamuz

Ao discutir a destruição do Primeiro Templo Sagrado, Yermyiahu nos diz que as muralhas de Jerusalém foram quebradas pelos babilônios em 9 de Tamuz.1

Então o que aconteceu em 17 de Tamuz? Maimonides2 lista cinco coisas:

  • As Tábuas dos Dez Mandamentos foram quebradas;
  • Na era do Primeiro Templo, a oferenda do sacrifício diário cessou;
  • Na guerra que levou à destruição do Segundo Templo, as muralhas de Jerusalém foram quebradas;
  • Um perverso governador romano chamado Apostumus queimou um Rolo de Torá; e
  • Ele construiu um ídolo no Santuário.

Maimônides prossegue explicando que o jejum de 17 de Tamuz (juntamente com outros jejuns em lembrança da destruição do Templo) já foi mencionado pelos profetas no livro de Zecharia:

Assim disse o Senhor das Hostes: O jejum do quarto [mês], o jejum do quinto [mês]… serão para a casa de Yehuda para alegria e felicidade e para festas felizes; portanto, ama a verdade e a paz.3

Os sábios explicam que a frase “o jejum do quarto mês” é uma referência ao jejum em 17 de Tamuz, que é o quarto mês. Ora, Zecharia viveu na era da construção do Segundo Templo. Então o que o jejum de 17 de Tamuz estava comemorando?

Maimônides explica que era em luto pelas duas Tábuas dos Dez Mandamentos que foram quebradas e também pela oferenda do sacrifício diário que cessou na era do Primeiro Templo.

Por que então este dia foi decretado um dia de jejum, em vez do dia no qual as muralhas foram quebradas (9 de Tamuz)? Porque a destruição das Tábuas e a cessação das oferendas de sacrifício são vistas com sendo até mais severas que aquela da destruição dos muros da cidade.4

Isso parece suficientemente direto. As muralhas do Primeiro Templo foram quebradas em 9 de Tamuz e as muralhas do Segundo Templo foram quebradas em 17 de Tamuz.5

Mas, isso não é tão simples.

A Tradição de Jerusalém

O Talmud Yerushalmi (de Jerusalém), bem como outras fontes midráshicas e talmúdicas, interpreta a frase na profecia de Zecharia, “o jejum do quarto mês,” como se referindo a 17 de Tamuz, “o dia em que as muralhas de Jerusalém foram quebradas.”6

Como isso pode ser? Yermyiahu não disse que aconteceu no Dia Nove? O Talmud de alguma forma explica criticamente que “confusão existe com respeito às datas.”7

O que isso significa?

Alguns explicam que embora as muralhas da cidade fossem realmente quebradas em 17 de Tamuz, devido ao grande tumulto sofrido pelo povo judeu naquela época [e uma grande parte dos judeus já no exílio), eles pensaram que a quebra ocorreu no nono dia. Quando Yermyiahu registrou o que aconteceu, ele não queria desviar da crença popular de que ocorreu no nono dia.8

No entanto, Rabi Shmuel Eidels (1555-1631), em seu clássico comentário sobre o Talmud conhecido como Maharsha, explica que a confusão mencionada não é um erro do povo judeu. Mas sim, dos não-judeus, que usavam o calendário solar, e consideraram o dia em que as muralhas foram rompidas como sendo o nono dia do mês, enquanto os judeus, que seguem o ciclo lunar, contavam aquele dia como o 17º do mês.9

Ambos São Corretos

Yermyiahu declara, “Eu vi um galho de uma amendoeira.”10 Rashi11 explica que isso significa que D'us disse a ele: “Você viu bem, pois Eu irei diligentemente seguir Minha palavra para realizar isso,” explicando que assim como uma amendoeira produz frutos em 21 dias, houve um intervalo de 21 dias entre a quebra das muralhas da cidade e o 17 de Tamuz e a destruição do Templo em 9 de Av.”

Isso indica que Rashi aceita a tradição de que as muralhas foram quebradas no dia 17. Porém ele não faz comentários sobre o versículo [citado anteriormente] declarando que a quebra ocorreu no dia 9.

O Rebe destaca essa aparente contradição na abordagem de Rashi e explica que uma leitura cuidadosa de Rashi nos dois locais mostra que eles seguem o entendimento de que houve algumas etapas no rompimento das muralhas. Em 9 de Tamuz, eles quebraram as paredes externas da cidade de Jerusalém, e no dia 17, eles quebraram as muralhas ao redor do Templo. Assim, ambas as datas são corretas mas se referem a estágios diferentes.12

Que tenhamos o mérito do cumprimento do versículo: “Assim disse o Senhor das Hostes: O jejum do quarto [mês], o jejum do quinto [mês]… serão para a casa de Yehuda para alegria e felicidade e para festas felizes; portanto, ama a verdade e a paz”.

Com a vinda de Mashiach e a reconstrução do Templo Sagrado o luto e jejum serão transformados em dias de festa e de alegria.

Que seja brevemente em nossos dias!